Marianne Heberlein é um investigadora
científica da Universidade de Zurich/Suíça, dedicada ao estudo do comportamento
evolutivo animal, que dum momento para o outro saltou para a ribalta em
função dum estudo que revelou acerca da
facilidade com que os cães usam a decepção para obterem o que pretendem dos
humanos, levando-os a dar-lhes os petiscos da sua eleição, o que prova que
a sua lealdade tem um preço, que a sua amizade não é desinteressada, que são
hábeis no suborno e que tal como os homens são também conquistados pelo
estômago, pormenores de que há muito suspeitávamos e que influíram directamente
no nosso método de ensino dos cães de guarda e na salvaguarda dos cães de
companhia, levando-nos a não abraçar na totalidade as práticas do adestramento
em voga para não vulnerabilizar em demasia os cães que nos foram e são
confiados. A maioria dos cães manhosos são-no para alcançar os seus intentos e
conseguem-no pelo suborno de quem lhes quer bem, chegando alguns a fazer-se de
doentes para escaparem aos seus trabalhos, responsabilidades e serviços.
No que concerne aos cães de guarda e que
estendemos à generalidade dos cães, sempre evitámos suborná-los e lutado para
que resistissem ao suborno alheio, porque temos os pés assentes na terra,
sabemos o mundo em que vivemos e temos conhecimento do elevado número de cães
ludibriados e até envenenados por larápios, cinófobos e demais gente sem
escrúpulos. Por causa disso nunca consentimos que outros dessem comer aos cães
a não ser os seus donos, exortando estes a dar-lhes a comida sempre à mesma
hora e no mesmo sítio (debaixo de ordem), valendo-se de um comedouro e
bebedouro reguláveis para o efeito, que desacostumasse os animais de pedirem
comida ou de a procurarem no solo, evitando em simultâneo que se desaprumassem
na sua fase plástica (de crescimento), medidas preventivas cujo culminar sempre
passou e passa pela recusa de engodos (apatia pela distribuição de comida por
terceiros, complementada às vezes por uma resposta desmotivante e agressiva).
Parece que não estávamos enganados, porque bem cedo nos apercebemos que o dono
da comida é o patrão do cão.
Aos cães muito gulosos ou com forte impulso
ao alimento sempre evitámos dar-lhes comida fresca mesmo antes da puberdade e nunca
nos cansámos de recriminar os donos menos íntegros e mais propensos à
prevaricação, lembrando-lhes que à imitação dos peixes os cães morrem pelo boca
e que há vizinhos que podem não morrer de amores pelo nosso cão, que tanto
herbicidas como raticidas reclamam para si a vida de alguns cães desprevenidos,
que o chocolate pode matar e que muitos dos nossos alimentos são prejudiciais
para os nossos fiéis amigos, passíveis de lhes causar graves problemas, mesmo aqueles
que ordinariamente reclamam, procedendo assim para que tenham saúde e vida em
abundância.
Visando a protecção dos cães de guarda,
animais mais sujeitos ao aliciamento e ao envenenamento, sempre instámos que
não fossem para o seu ofício de barriga vazia ou empanturrados, para que não
aceitassem comida indevida ou viessem a ser surpreendidos, alterando a
distribuição do penso diário de acordo com as estações do ano e os horários em
que têm maior apetência e necessidade energética (nas estações quentes os cães
comem nas horas de menor calor e nas frias quanto mais o frio aperta). É possível
educar cães sem suborná-los? Nós dizemos que sim e a prová-lo estão os cães
temos ensinado, animais que conquistamos pela parceria e pela cumplicidade,
pelo desenvolvimento técnico e pela coabitação, pela descoberta doutras
linguagens que dispensam o suborno e que expressam a nossa gratidão aos cães.
Não nos arrependemos e pelos vistos não temos razão para nos arrepender!
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