domingo, 26 de março de 2017

AS CONCLUSÕES DE MARIANNE HEBERLEIN

Marianne Heberlein é um investigadora científica da Universidade de Zurich/Suíça, dedicada ao estudo do comportamento evolutivo animal, que dum momento para o outro saltou para a ribalta em função dum estudo que revelou acerca da facilidade com que os cães usam a decepção para obterem o que pretendem dos humanos, levando-os a dar-lhes os petiscos da sua eleição, o que prova que a sua lealdade tem um preço, que a sua amizade não é desinteressada, que são hábeis no suborno e que tal como os homens são também conquistados pelo estômago, pormenores de que há muito suspeitávamos e que influíram directamente no nosso método de ensino dos cães de guarda e na salvaguarda dos cães de companhia, levando-nos a não abraçar na totalidade as práticas do adestramento em voga para não vulnerabilizar em demasia os cães que nos foram e são confiados. A maioria dos cães manhosos são-no para alcançar os seus intentos e conseguem-no pelo suborno de quem lhes quer bem, chegando alguns a fazer-se de doentes para escaparem aos seus trabalhos, responsabilidades e serviços.
No que concerne aos cães de guarda e que estendemos à generalidade dos cães, sempre evitámos suborná-los e lutado para que resistissem ao suborno alheio, porque temos os pés assentes na terra, sabemos o mundo em que vivemos e temos conhecimento do elevado número de cães ludibriados e até envenenados por larápios, cinófobos e demais gente sem escrúpulos. Por causa disso nunca consentimos que outros dessem comer aos cães a não ser os seus donos, exortando estes a dar-lhes a comida sempre à mesma hora e no mesmo sítio (debaixo de ordem), valendo-se de um comedouro e bebedouro reguláveis para o efeito, que desacostumasse os animais de pedirem comida ou de a procurarem no solo, evitando em simultâneo que se desaprumassem na sua fase plástica (de crescimento), medidas preventivas cujo culminar sempre passou e passa pela recusa de engodos (apatia pela distribuição de comida por terceiros, complementada às vezes por uma resposta desmotivante e agressiva). Parece que não estávamos enganados, porque bem cedo nos apercebemos que o dono da comida é o patrão do cão.
Aos cães muito gulosos ou com forte impulso ao alimento sempre evitámos dar-lhes comida fresca mesmo antes da puberdade e nunca nos cansámos de recriminar os donos menos íntegros e mais propensos à prevaricação, lembrando-lhes que à imitação dos peixes os cães morrem pelo boca e que há vizinhos que podem não morrer de amores pelo nosso cão, que tanto herbicidas como raticidas reclamam para si a vida de alguns cães desprevenidos, que o chocolate pode matar e que muitos dos nossos alimentos são prejudiciais para os nossos fiéis amigos, passíveis de lhes causar graves problemas, mesmo aqueles que ordinariamente reclamam, procedendo assim para que tenham saúde e vida em abundância.

Visando a protecção dos cães de guarda, animais mais sujeitos ao aliciamento e ao envenenamento, sempre instámos que não fossem para o seu ofício de barriga vazia ou empanturrados, para que não aceitassem comida indevida ou viessem a ser surpreendidos, alterando a distribuição do penso diário de acordo com as estações do ano e os horários em que têm maior apetência e necessidade energética (nas estações quentes os cães comem nas horas de menor calor e nas frias quanto mais o frio aperta). É possível educar cães sem suborná-los? Nós dizemos que sim e a prová-lo estão os cães temos ensinado, animais que conquistamos pela parceria e pela cumplicidade, pelo desenvolvimento técnico e pela coabitação, pela descoberta doutras linguagens que dispensam o suborno e que expressam a nossa gratidão aos cães. Não nos arrependemos e pelos vistos não temos razão para nos arrepender! 

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