Comecemos pela velha história do Porta-Aviões.
Quem já participou em manobras militares conjuntas ao
abrigo da NATO e teve oportunidade de se deslocar e alojar num destes navios da
Marinha de Guerra dos Estados Unidos é surpreendido por um pormenor: os cacifos
pessoais dos seus tripulantes não têm cadeados e mui raramente alguma coisa desaparece
ou é furtada, apesar daquela tripulação ser da mais diversificada origem e de quase
incontável etnia. No transbordo para uma Corveta ou Fragata da Armada
Portuguesa sucede exactamente o contrário: todos os cacifos têm cadeados e não
é raro faltar alguma coisa a alguém! Pensamos que tal se deve ao desenrascanço,
política com cãs brancas que ainda se confunde com a nossa práxis militar. E
como não há duas sem três, conta-se o sucedido outrora com uma tropa lusa a
cavalo, que em determinada ocasião foi convidada a deslocar-se a solo
teutónico, sendo ali recebida de igual para igual e convidada a beber e a comer
em copos de vidro e pratos de porcelana, deferência com curta duração, porque
passados três dias já se encontrava a beber em copos de plástico e em pratos de
papelão, graças a alguns indivíduos haverem furtado a loiça como recordação
daquela estadia.
Pergunta-se agora: que ração comerão os
heróicos e desafortunados cães militares e policiais, os mesmos que zelam pela
nossa segurança, ajudam na detenção de criminosos, detectam explosivos, não dão
tréguas ao terror, mantêm a ordem pública, resgatam sinistrados e combatem o
narcotráfico? Não duvidamos, atendendo ao seu bem-estar, desempenho e
importância pública, que comem rações adequadas, com percentuais de proteína
nunca abaixo dos 20% e com menos de 10% de gordura, porque doutro modo ficariam
desgrenhados, com as costelas a relevar-lhes a pele, com sobrecargas
articulares, sujeitos a fracturas e em risco de se autoconsumirem,
comprometendo assim a sua saúde, bem-estar, longevidade e prestimoso serviço,
apesar de em tempos idos a ração que lhes era distribuída ter sido de inegável
má qualidade (também os caçadores desse tempo entendiam ser a fome o melhor dos
subsídios para o aprimoramento dos cães caçadores, muito embora fossem obrigados
nalguns casos a engendrarem “bonecas de pregos” para que não lhes comessem as
presas, o que se compreende). Assim, se alguém disser que estes cães comem
rações com apenas 14% de proteína e 4% de gordura está a mentir descaradamente!
Longe vai o tempo em que a míngua dos cães sustentava o empanturrar de alguns. Hoje o cuidado com os animais não se esgota entre
os civis, é também extensível aos militares e polícias que os têm como
parceiros, amigos que consideram e cujas vidas se encontram interligadas.
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