Ao longo da nossa carreira como adestradores
sempre fomos obsequiados com donos apressados e vamos continuar a sê-lo, gente
que parece desconhecer que educar é um acto continuado, que os cães aprendem
com a experiência, necessitam de tempo e que são uma espécie diferente, quiçá
por nascerem assim, viverem no “tempo do imediato” e o facilitismo ser prática
corrente. E no meio da confusão que chocalha nas suas cabeças, não conseguem
ver que um serviço canino específico não dispensa um conjunto de capacitações
complementares que o sustentam e que são imprescindíveis ao bom desempenho
esperado. Como os exemplos são muitos, abordaremos só e sinteticamente a
importância da pistagem para os cães de guarda.
Todo o cão de guarda “mau de nariz”, que
desusa o faro ou que mal fareja, é um guarda impróprio para o serviço e que
coloca em risco a sua própria salvaguarda, porque tanto permite ser abordado de
surpresa como perde essa vantagem, sendo facilmente ludibriado por sons capazes
de o distrair e afastar dos locais da sua vigilância, permitindo assim a
intrusão, o que para além de gorar a sua missão, colocará em perigo as pessoas
e bens à sua guarda. Será igualmente ludibriado quando pouco activo e não
desperto para as odores que lhe chegam às narinas.
Quando se adianta para os donos que desejam
formar cães de guarda que estes devem ser aprovados na pistagem, os mais
simples dirão de imediato que a caça pretendida tem apenas duas pernas! Mesmo
depois de alertados para a importância desta disciplina canina, a maioria
frequentará as aulas de pistagem de mau grado e aqueles que já têm os cães a guardar
depressa se evaporarão (igual sorte não desejamos aos cães). Apesar da pistagem
ser uma disciplina pouco concorrida e não muito do agrado dos donos (é por
norma abraçada por gente mais esclarecida e devotada a esta prestação canina),
ela agrada de sobremaneira aos cães e robustece-lhes os vínculos afectivos com
os seus proprietários, para além de ser de extrema utilidade quando alguém ou
algo se perde ou desaparece.
É evidente que para a perpetuação da
ignorância contribuem uns tantos pseudo-adestradores, “mestres” que fazem a
vontade à sua clientela, para quem o ensino dos cães de guarda é “alto”, “senta”,
“deita” e “ataca”, como se a disciplina não fosse das mais exigentes dentro do
panorama cinotécnico, considerando a salvaguarda de pessoas e cães, os riscos
envolvidos e a sua importância para a conservação patrimonial. Remando contra a
maré e combatendo a ignorância, persistimos, mesmo que sós, no ensino da
pistagem aos cães de guarda, teimosia que sustentamos pelo amor que lhes temos.
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