terça-feira, 26 de maio de 2015

SER DONO

Estarão todos os proprietários caninos preparados para serem donos dos seus cães? Estarão cientes dos seus deveres e responsabilidades para além do gozo dos possuírem? É disso que vamos tratar agora. Importa primeiro abordar etimologicamente o substantivo masculino no singular “dono”, termo de origem latina resultante de “dominus”, que significa senhor, proprietário e líder, comummente também usado para identificar ou qualificar Deus, porque a origem da palavra é por si mesma reveladora quanto à responsabilidade dos proprietários caninos. Apesar de muito se lutar pelos direitos do animal, vigora ainda o conceito latino na nossa Lei, já que os cães continuam a ser tratados como pertences dos seus donos, à imitação doutros animais ou bens que possam possuir, herança especicista que não esconde a fonte semito-cristã presente na cultura ocidental, que nalguns casos é ambígua ao penalizar mais os cães que os seus senhores.
Apesar de importante, não vamos aqui abordar as responsabilidades legais dos donos dos cães, porque caberá a outros fazê-lo segundo a sua cátedra ou ofício, mas reflectir sobre os cuidados a haver com estes companheiros, tendo em conta o seu particular biológico, que sendo único, merece-nos a maior atenção e respeito. Ao entendermos dono como “senhor”, facilmente compreendemos que os cães se encontram dependentes de nós, da nossa vontade, condições e proventos para sobreviverem, sobrevivência que hoje não separamos do seu bem-estar, considerando a nossa evolução e o crescente conhecimento que vamos tendo deles. Incapazes de proverem sustento por si mesmos, facto que gradualmente foi facilitando a sua domesticação pela privação da liberdade, os cães esperam que os seus donos os alimentem, obrigação a que os seus senhores não podem escusar-se, porque uns e outros viverão mais ou menos tempo de acordo com as dietas à sua disposição. Para além desta obrigação, cabe ainda aos donos zelar pela sua saúde, higiene e exercício adequado, adaptá-los ao seu modo de vida e operar a sua salvaguarda, servindo-lhes de mestres por substituição ao longo da sua existência, tarefas que exigem alguma disponibilidade e que nem todos têm.
Se entendermos os donos como proprietários dos cães, facto que não suscita dúvidas a ninguém, o estado em que eles se encontram acabará por espelhar o cuidado que lhes é dispensado, denunciando assim qual o valor e a importância que têm para quem os adquiriu. Contrariamente ao que por vezes se julga é-se proprietário canino a tempo inteiro, ainda que outros se prestem ao seu ensino, cuidem da sua saúde ou se encarreguem da sua higiene e limpeza, tarefas que farão a nosso rogo, com o nosso conhecimento e debaixo da nossa supervisão, uma vez que são pagos para isso. O cão é um bem com vida, um animal que pede afecto e que o devolve em protecção, porque é um ser social que busca aprovação e que não dispensa os estímulos que a tornam possível, exigindo em simultâneo uma relação tão próxima quanto possível, porque é dedicado e fiel, seguindo-nos por toda a parte e animando-nos quando nos encontramos doentes ou abatidos. Os proprietários de cães de serviço e terapia sabem melhor que ninguém qual a importância de ter um cão como parceiro.
Se entendermos líder como sinónimo de dono, fatalmente chegaremos à conclusão que existem cães muito mal empregues, porque os seus proprietários ao invés de potenciarem os seus impulsos herdados, providenciarem o seu aumento cognitivo e operarem o seu desenvolvimento físico, acabam por condená-los ao isolamento, à inactividade e a uma experiência repetitiva e pobre, entregando-os aos seus instintos mais básicos e obstando à sua integração familiar e social, males só por si válidos para o alcance de várias taras, para o stress que induz a doenças várias e para o encurtamento dos seus dias. Quer o lobo tenha surgido da criação de Deus ou da evolução das espécies, uma certeza podemos ter: o homem fez o cão! E ao fazê-lo, roubou-lhe a autonomia para usá-lo, particular que lhe garantiu a liderança e possibilitou o uso do cão num sem número de serviços que não param de aumentar até aos dias de hoje. Do que dependerá a maior ou menor aptidão de um cão? Inevitavelmente da liderança qualitativa dos seus donos! Porque subsiste grande número de cães inadaptados ou de menor préstimo? Porque foram confiados a donos impróprios que não quiseram ou não souberam adequá-los, sobrando ainda o caso de alguns, e não são assim tão poucos, cuja personalidade e/ou carácter obstam e continuarão a obstar ao exercício da liderança.  

Sem comentários:

Enviar um comentário