Estarão todos os
proprietários caninos preparados para serem donos dos seus cães? Estarão
cientes dos seus deveres e responsabilidades para além do gozo dos possuírem? É
disso que vamos tratar agora. Importa primeiro abordar etimologicamente o
substantivo masculino no singular “dono”, termo de origem latina resultante de “dominus”,
que significa senhor, proprietário e líder, comummente também usado para identificar
ou qualificar Deus, porque a origem da palavra é por si mesma reveladora quanto
à responsabilidade dos proprietários caninos. Apesar de muito se lutar pelos
direitos do animal, vigora ainda o conceito latino na nossa Lei, já que os cães
continuam a ser tratados como pertences dos seus donos, à imitação doutros
animais ou bens que possam possuir, herança especicista que não esconde a fonte
semito-cristã presente na cultura ocidental, que nalguns casos é ambígua ao
penalizar mais os cães que os seus senhores.
Apesar de importante, não
vamos aqui abordar as responsabilidades legais dos donos dos cães, porque
caberá a outros fazê-lo segundo a sua cátedra ou ofício, mas reflectir sobre os
cuidados a haver com estes companheiros, tendo em conta o seu particular
biológico, que sendo único, merece-nos a maior atenção e respeito. Ao
entendermos dono como “senhor”, facilmente compreendemos que os cães se encontram
dependentes de nós, da nossa vontade, condições e proventos para sobreviverem,
sobrevivência que hoje não separamos do seu bem-estar, considerando a nossa
evolução e o crescente conhecimento que vamos tendo deles. Incapazes de proverem
sustento por si mesmos, facto que gradualmente foi facilitando a sua
domesticação pela privação da liberdade, os cães esperam que os seus donos os
alimentem, obrigação a que os seus senhores não podem escusar-se, porque uns e
outros viverão mais ou menos tempo de acordo com as dietas à sua disposição.
Para além desta obrigação, cabe ainda aos donos zelar pela sua saúde, higiene e
exercício adequado, adaptá-los ao seu modo de vida e operar a sua salvaguarda,
servindo-lhes de mestres por substituição ao longo da sua existência, tarefas
que exigem alguma disponibilidade e que nem todos têm.
Se entendermos os donos
como proprietários dos cães, facto que não suscita dúvidas a ninguém, o estado
em que eles se encontram acabará por espelhar o cuidado que lhes é dispensado,
denunciando assim qual o valor e a importância que têm para quem os adquiriu.
Contrariamente ao que por vezes se julga é-se proprietário canino a tempo
inteiro, ainda que outros se prestem ao seu ensino, cuidem da sua saúde ou se
encarreguem da sua higiene e limpeza, tarefas que farão a nosso rogo, com o
nosso conhecimento e debaixo da nossa supervisão, uma vez que são pagos para
isso. O cão é um bem com vida, um animal que pede afecto e que o devolve em
protecção, porque é um ser social que busca aprovação e que não dispensa os
estímulos que a tornam possível, exigindo em simultâneo uma relação tão próxima
quanto possível, porque é dedicado e fiel, seguindo-nos por toda a parte e
animando-nos quando nos encontramos doentes ou abatidos. Os proprietários de
cães de serviço e terapia sabem melhor que ninguém qual a importância de ter um
cão como parceiro.
Se entendermos líder como sinónimo de dono, fatalmente chegaremos à conclusão
que existem cães muito mal empregues, porque os seus proprietários ao invés de
potenciarem os seus impulsos herdados, providenciarem o seu aumento cognitivo e
operarem o seu desenvolvimento físico, acabam por condená-los ao isolamento, à
inactividade e a uma experiência repetitiva e pobre, entregando-os aos seus
instintos mais básicos e obstando à sua integração familiar e social, males só
por si válidos para o alcance de várias taras, para o stress que induz a
doenças várias e para o encurtamento dos seus dias. Quer o lobo tenha surgido
da criação de Deus ou da evolução das espécies, uma certeza podemos ter: o
homem fez o cão! E ao fazê-lo, roubou-lhe a autonomia para usá-lo, particular
que lhe garantiu a liderança e possibilitou o uso do cão num sem número de
serviços que não param de aumentar até aos dias de hoje. Do que dependerá a
maior ou menor aptidão de um cão? Inevitavelmente da liderança qualitativa dos
seus donos! Porque subsiste grande número de cães inadaptados ou de menor
préstimo? Porque foram confiados a donos impróprios que não quiseram ou não
souberam adequá-los, sobrando ainda o caso de alguns, e não são assim tão
poucos, cuja personalidade e/ou carácter obstam e continuarão a obstar ao
exercício da liderança.
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