quarta-feira, 13 de maio de 2015

COMO DEFENDER-SE DO ATAQUE DUM CÃO: O QUE DEVE E NÃO DEVE FAZER

Como preâmbulo importa dizer que os distintos grupos somáticos caninos operam as suas capturas de modo diferente, havendo alguns que as executam ao revés das características da sua raça ou grupo, por força do condicionamento havido e graças à experiência feliz, na procura da surpresa que garantirá a sua eficácia. Cães e cadelas fazem-no com diferentes graus de tenacidade, sendo os primeiros deliberadamente ofensivos e as suas congéneres mais defensivas, resistindo menos aos contra-ataques objectivos (podem haver excepções). Cães de 20kg podem causar impactos iguais ou superiores aos de 45kg devido ao aumento da velocidade, sendo os seus ataques mais imprevisíveis. Há cães que passam directamente da fixação para o ataque, outros que ladram primeiro e outros ainda que rosnam antes de atacar, uns que são de golpe único e outros que atacam a vários golpes (os primeiros terão mais força de mordedura que os últimos). Um pequeno número deles não se mostrará e atacará por intercessão.
Alguns deles não dispensam o ataque frontal e outros preferem fazê-lo pelas costas, mesmo sem necessidade da perseguição. Tanto num caso como noutro, há guardiões que mordem abaixo da linha da cintura, ao seu nível ou à jugular, modos de actuar intrinsecamente ligados ao seu perfil psicológico, morfologia e treino (condicionamento). A maioria deles não atacará alvos imóveis, a menos que tal lhes seja ordenado, se encontrem dentro do seu território ou tenham sido excepcionalmente habilitados para isso, sem razão aparente ou mediante a apresentação de uma arma. Pelas expressões mímicas dos atacantes podemos aquilatar do grau de confiança, intensidade e dolo dos seus ataques. E como nem todos os ataques caninos resultam do treino e do condicionamento, sobram ainda os instintivos, normalmente menos dolosos pelo desuso dos potenciadores de mordedura (brinquedos, pneus churros, fatos e mangas de ataque, etc.). Diante disto, o panorama não parece muito animador!
Antes de avançarmos, queremos adiantar que o combate contra os cães perigosos foi ganho pelas polícias, pelo que estão de parabéns, sobrando agora reduzido número de idiotas com cães de luta ou propensos a fins marginais, quando exercitados para isso. Em simultâneo, porque vivemos num estado de direito, não compreendemos a presença de Pitbulls nas fileiras policiais, particularmente quando usados em serviços onde a sua presença é inadequada ou resulta estranha, por ser abusiva diante dos direitos e liberdades de cidadania, pelo que levar um Pitbull para a residência oficial do Presidente da República é tão caricato como ver o Regimento de Cavalaria da Guarda montado em gericos, enquanto Unidade especialmente destinada à segurança e protocolo do Estado, uma americanice ou “pinochetada” de tremendo mau gosto (só falta vermos os músicos a tocar de luvas rotas na Rendição Solene ao Palácio). Retornando ao mérito das polícias importa realçar o seu papel na prevenção, detenção e controlo dos cães perigosos, feito de modo irrepreensível, tanto que nestes momentos de crise, quando os ânimos andam mais exaltados e tudo se encontra prestes a explodir, não há notícia do uso destes animais em actividades criminosas ou em qualquer tipo de desordem pública concertada ou espontânea.
Mas como não são só os cães das raças consideradas perigosas que atacam, sobrando por aí várias extraordinariamente territoriais e por isso mesmo dadas ao mesmo tipo de acção, quer tenham sido treinadas para isso ou não, todos precisamos de precaver-nos, mais agora que os magros salários não suportam o ensino dos cães e o seu controlo é menos eficaz por parte dos donos, que a si mesmos se julgam entendidos nesta matéria, quer pela assistência a programas televisivos quer pela frequência em cursos mal estruturados, apressados e geralmente inacabados. A exemplo dos gatos, os cães citadinos são agora sujeitos a um lugar ou lugares sociais, locais bastante concorridos por outros iguais, onde são levados pelos seus donos para correr e satisfazerem as suas necessidades fisiológicas, encontros nem sempre agradáveis pelo despreparado, ignorância e sandice dos seus proprietários, impropriedades que podem resultar no ataque de um cão e/ou do seu dono, quando não de ambos, porque na aflição de valerem aos seus cães, alguns donos acabam também mordidos.
Para que isso não aconteça, quando sair com o seu cão jardim, faça-o nas horas mais concorridas por maior número de cães, certifique-se que não há nenhum à solta (caso houver retroceda sem dar nas vistas), não solte o seu, mantenha-o ao seu lado, não confie na pretensa mansidão dos outros, não o deixe brincar com cães desconhecidos e não o exponha aos seus ataques. Cuidado com os cães surdos que, quando demasiado fixados ou apanhados de surpresa, tendem a morder, particularmente quando atrelados aos donos, sendo geralmente molossos brancos de diferentes tamanhos, que vão desde o Buldogue Francês até ao Dogue Argentino. No caso de algum cão avançar ameaçadoramente para cima do seu, desde que a desproporção entre ambos não seja por demais evidente e o seu saiba defender-se, mais vale soltá-lo e partirem ambos para cima do outro. Se tiver um cão miniatura não lhe restará outra hipótese do que pegá-lo ao colo, usando a sua trela para afastar o beligerante (as cadelas, quando não sociabilizadas, são agressivas umas com as outras e os cães tendem a desafiar-se mutuamente. Os encontros entre cães de sexo diferente são geralmente pacíficos).
Durante o dia a ocorrência de escaramuças entre cães é muito rara, como é raro acontecer algum ataque canino sobre um viandante ou transeunte, porque a Lei proíbe os cães de andarem soltos e ninguém quer ser multado ou evadir-se atabalhoadamente. Infelizmente não temos a mesma segurança à noite, altura em que os donos dos cães mais belicosos optam por trazê-los à rua, não raramente soltos, ávidos e prontos para qualquer confronto (ao romper da aurora acontece o mesmo). Para sua segurança e do seu cão, escolha espaços públicos policiados ou com uma esquadra de polícia por perto, o que fará diminuir a ocorrência de abusos. Cada vez são menos frequentes as brigas entre cães, facto que fica a dever-se a três razões objectivas: à lei sobre os cães perigosos, à crise económica que levou à substituição dos cães maiores por menores e à adopção do reforço positivo como método de ensino preferencial, que obrigaram respectivamente à sociabilização, ao desprezo pelos cães mais dispendiosos e a uma maior fixação dos animais na pessoa dos seus donos.
Pondo de parte as guerras entre iguais, passemos aos ataques perpetrados pelos cães sobre pessoas, adiantando subsídios de defesa para os visados e vítimas potenciais. Como são mais os cães que atacam junto aos donos do que longe deles, mesmo sem ordem explícita para isso, pormenor que fica a dever-se ao seu sentimento territorial quando associado à antipatia por determinadas pessoas ou estranheza do seu comportamento, evite acariciar cães desconhecidos quando atrelados aos donos, mesmo que estes digam que os seus companheiros são uns autênticos “anjinhos”, porque há gente que não perde pitada e que gosta de ver os outros em apuros, treinando-os desta indecente maneira para defesa pessoal e investindo os incautos no papel de cobaias, dizendo-se depois surpreendidos e relegando para os animais a culpa do sucedido.
A menos que tal nos seja sugerido, que direito nos assiste para acariciarmos os cães alheios? Absolutamente nenhum, porque não nos pertencem, estamos a indiciá-los ao suborno, a vulnerabilizar a sua salvaguarda e a enfraquecer tanto o domínio quanto a liderança dos seus donos e a obrigá-los a maiores providências para alcançá-los, o que mais sobrecarregará os pobres animais por via da contra-ordem (há quem o faça espontaneamente e sem qualquer autorização prévia, o que não deixa de ser um abuso e um tremendo disparate). E como desde há muito é conhecido o carácter passional dos portugueses, que neste caso “são” como os espanhóis, de quem dizem não conseguir ver sem mexer, se você não conseguir resistir a fazer festas num cão, depois de ter obtido do seu proprietário autorização para isso, então faça-o de maneira a não comprometer a sua integridade física, coisa fácil de acontecer quando não se sente à vontade para fazê-lo, quando o acaricia de surpresa e por detrás, quando por medo lhe estende a mão e a recolhe, quando o agarra e afasta do dono, quanto toma atitudes bruscas, é demasiado efusivo no carinho ou fixa-o demoradamente nos olhos. Não se esqueça que o cão está a observá-lo, que pode não morrer de amores por si (o que não é de estranhar) e já estar farto de bajuladores (não se ponha na fila).
Quando intentar cumprimentar um cão, faça-o frontalmente, em segurança e de modo suave (tanto de palavras como de gestos), não se baixe ao nível dele e não o olhe demoradamente nos olhos. Caso o animal aceite o seu cumprimento, pormenor visível pela sua resposta, então poderá torná-lo mais caloroso, o que para muitos donos é um excesso e assiste-lhes alguma razão. Há por aí quem lhes dê as costas da mão, no intuito dos animais assimilarem o seu odor e de se aperceberem das suas intenções, manobra perigosa diante de cães que foram instigados nos potenciadores de mordedura (nós de corda, churros e por aí adiante), já que a mão assim apresentada reproduz esses acessórios (lembre-se que as verdades de hoje serão questionadas amanhã e que só depois se fará luz). Melhor será fazê-lo com a palma da mão aberta, que sempre sugere um convite e não ao contrário, com a mão estendida em cutelo ou a ameaçar um sopapo. De qualquer modo, serene primeiro o animal pelo conforto da voz e avance com a mão depois, acção que também o fará serenar a si. Nunca se esqueça que, ao serem animais sociais, os cães vivem de rituais e por causa disso aceitam as nossas rotinas, adoptando-as como suas.
É chegada a altura de falarmos dos ataques caninos propriamente ditos, dos que acontecem com os cães soltos e sobre gente incauta, normalmente entendida por eles como estranha, intrusa, presa ou ameaça, pela sua presença, local de aparição, tipo de apresentação e comportamento. Esses ataques, como já atrás dissemos, poderão ser de origem instintiva ou provir de condicionamento prévio, sendo os últimos de maior gravidade, acontecendo com mais frequência quando os parques e os espaços públicos se encontram quase desertos e os cães são soltos ali e nos quintais, no horário compreendido entre as 23H00 e às 07H00 (da noite para o amanhecer). Como prevenção, aconselha-se aos amigos de caminhadas nocturnas que façam o seu prévio reconhecimento durante dia, que evitem os percursos onde houver cães e nessa impossibilidade, que se afastem das quintas ou moradias com muros de altura inferior a 2m ou com grades distantes entre si de 20cm, suspeitando daquelas limitadas por arbustos ou sem qualquer tipo de delimitação.
Quanto mais isolada estiver uma propriedade, mais fácil será encontrar um cão guardião, animal que por norma não está disposto a brincadeiras. Se não prescinde do hábito salutar de caminhar antes de se deitar e não quer ou não pode proceder a desvios, perante a certeza ou suspeita de haver cães em determinada moradia, sempre que possível troque de passeio e circule debaixo de áreas iluminadas, para não ser fatalmente surpreendido e não surpreender os cães, que devem vê-lo distintamente e aperceber-se das suas intenções, mantendo a calma, a cadência de marcha e evitando olhar directamente para eles. Mais vale pôr o pé na estrada do que circular junto aos muros, limites que os cães defendem afincadamente, independentemente da natureza dos seus ataque ser defensiva ou ofensiva.
Se um cão defensivo dificilmente abandonará uma propriedade que lhe foi confiada, um ofensivo não hesitará em saltar dela e mover-lhe perseguição, pelo que importa precaver-se com uma bengala dobrável retráctil (porque nem sempre se encontra uma vara à mão) das usadas para invisuais, para caminhadas e para fins ortopédicos, que não deverá ir à vista (para não se constituir em provocação ou ameaça) e que em caso de necessidade deverá ser apontada aos anteriores do animal, em movimentos curtos e rápidos de ida e volta, o que lhe quebrará o ânimo pelo desequilíbrio causado, impedindo-o de saltar e efectuar a captura. Jamais aponte a bengala à cabeça ou dorso de um cão, porque alguns aprenderam a defender-se desse tipo de golpes, invalidando-os, procedendo ao desarme e passando depois ao contra-ataque impetuoso. Até que o cão desista e se ponha em fuga, acção que dependerá da certeza dos seus golpes, evite dobrar-se demasiado ou ser contornado, para não ser atacado de frente ou surpreendido pela retaguarda. Escusado será dizer que terá de tornar-se hábil no uso e montagem da bengala (1 segundo poderá fazer toda a diferença).
Como é gratuito ensinar o Padre-Nosso ao vigário e ainda estamos neste mundo, bem sabemos que se podem seduzir, engodar, distrair, ludibriar, imobilizar, manietar, atordoar, gasear, cegar, envenenar e matar cães (é possível que estejamos confundidos mas alguém já nos falou no uso de “tasers”), técnicas dissimuladas próprias de meliantes experimentados, de gente que se quer livrar dos animais e que tudo faz para anular o seu serviço para benefício próprio, técnicas que também reproduzimos no treino para alertar os guardiões, operar a sua defesa e optimizar a sua prestação. Como é evidente não iremos falar delas, a tanto nos obriga a ética e o amor pelos animais, não estamos em guerra e não nos compete eliminar os cães alheios, geralmente investidos pelos donos na tarefa, satisfazendo os seus desejos por gratidão. Outra coisa bem diversa é neutralizar os seus ataques quando não nos sobra outra solução, respeitando a sua integridade e préstimo, desde que já haja essa possibilidade e normalmente há, porque o número de cães treinados para guarda não chega a 1% do total nacional e não atacam a seu bel-prazer, o que torna instintivos a esmagadora maioria dos ataques caninos que acontecem entre nós, ainda que resultantes de razão ou razões genéticas, mas de dolo pouco significativo por resultarem de arremetidas esporádicas e de surtida.
 Maior cuidado há que haver nas imediações dos bairros miseráveis e clandestinos, geralmente ocupados por gente na base da pirâmide social (tanto nacionais como estrangeiros), onde a contrafacção, a droga, o comércio de armas clandestinas, a prostituição e a marginalidade teimam em permanecer, locais aonde se vai por obrigação ou convite, nunca por auto-recriação. Ali os cães parecem associar-se à festa e alguns deles aguardam ocasião para usar às suas mandíbulas. Mas como o perigo espreita onde menos se espera, quando vir um cão a avançar para si a uma distância igual ou inferior a 30m, disposto a atacá-lo, não tendo como se recolher e na impossibilidade de fuga, restam-lhe 3 opções defensivas: a imobilização, a defesa e o contra-ataque. A escolha acertada, que carece de ser pronta, porque há cães que chegam a atingir velocidades instantâneas acima dos 45km/h, dependerá da sua destreza e do tipo de cão que terá pela frente, o que obrigará a alguma experiência e treino, assim como ao conhecimento prévio dos diferentes modos de actuação dos distintos grupos somáticos caninos, para além da leitura rápida e acertada das expressões mímicas do seu opositor, aptidão e conhecimento difíceis de encontrar num comum cidadão e ainda mais quando tomado de surpresa.
A imobilização, que é a melhor opção perante ataques repentinos ou de surpresa, implicará em transformar-se numa estátua, no controle dos instintos que possibilita a inacção, mesmo que agredido e com olhos postos na linha do horizonte, em fazer o corpo morto e não reagir as golpes sofridos, tanto física como verbalmente, em deixar-se puxar para que o cão não sacuda e enterre mais os dentes, aproveitando as suas investidas para se deitar cair com a cara e ventre voltados para o solo. É evidente que esta é uma medida de emergência, que procura a cessação do ataque, a suspensão da captura e evitar maiores lesões, não se justificando perante cães abaixo dos 12kg e com uma altura igual ou inferior aos 43cm, normalmente entendidos como “cães de encher o pé” (vá-se lá saber porquê!). A imobilização torna-se obrigatória perante o ataque repentino de molossos e terriers com grande envergadura e potência de mordedura (ex: Presa Canário, Rottweiler, Pitbull, etc.), também diante de lupinos e vulpinos com mais de 18kg e de altura igual ou superior aos 50cm. A imobilização só não surtirá efeito se o ataque for ordenado e o cão estiver acostumado a atacar e retraçar alvos imóveis ou cobaias deitadas no cão, condicionamento que não é fácil e que muito raramente acontece. Se porventura o cão lhe soltar para a cara, proteja-a com o braço esquerdo se for destro, caso contrário use o braço direito.
Quando temos tempo para isso, com o cão distante de nós a 30m (no mínimo) e adivinhando-se as suas intenções, devemos de imediato jogar-nos ao solo, para que seja surpreendido quando nos abordar, tendo o cuidado de proteger a cabeça e as orelhas com as mãos mas com os cotovelos encostados no chão. Como inicialmente há cães que disferem alguns golpes, nem que seja para se certificarem de que estamos vivos e damos luta, há que fazer o corpo morto sem abandonar a postura, que será tanto ou mais eficaz quanto mais unido estiver o nosso corpo, pelo que as nossas pernas e pés deverão estar unidos, não indiciando possíveis pontos de mordedura por onde o cão possa pegar. Depois dele se desinteressar por si, não se levante de imediato e aguarde que se vá embora, porque doutro modo voltará a atacá-lo e fá-lo-á com maior ímpeto, podendo ficar a guardá-lo, esperando que se ponha de novo em pé.
Nalguns casos o ataque é a melhor defesa, qualidade que assiste aos mais audazes e que alguns têm sem o saberem. Em que consiste o contra-ataque? Basicamente em arrancar direito ao cão, em rota de colisão, com o mesmo ímpeto e determinação, disposto a causar-lhe dolo igual ou superior (aqui a bengala retráctil dá muito jeito). O contra-ataque desarmado não está ao alcance de qualquer um, porque carece de conhecimento, robustez, sangue-frio, larga experiência e técnica para a imobilização dos cães, atributos que não se alcançam do pé para a mão e que não podemos adiantar por causa do nosso ofício (nós jogamos pela equipa dos cães). Se a maioria dos treinados para guarda não foi e é não sujeita à aprovação no contra-ataque, muito menos se encontrarão preparados os cães que nunca foram treinados para esse fim. De qualquer modo há que desarmar o cão, sabendo-se que a sua arma se encontra no focinho. O contra-ataque armado de varapau, vara ou bastão pode ser eficaz, como por vezes é eficaz o simples arranque para cima do cão, que surpreso recuará ou se afastará pela novidade que leva ao temor. Os cães vivem e aprendem pela experiência, ainda não atingiram a ficção e não inventam, estão acostumados a perseguir e estranham ser perseguidos, nasceram para caçar e a não para ser caçados. Na arremetida do contra-ataque devemos fazer uso duma palavra ou som gutural grave, modo de linguagem que os cães entendem como ameaça. Jamais avance para um contra-ataque se não estiver seguro e preparado para o que terá pela frente.
Assim como sabemos que existem Pitbulls muito meigos, amigos, obedientes e ordeiros e, a maioria deles é assim, também sabemos da tentação de alguns em fazê-los crocodilos para causar mal aos outros. E como esses malvados não usam só os Pitbull para a desgraça mas também outros cães com idêntica força de mordedura, somos obrigados a precaver-nos de tamanha maldade, atendendo ao dano que estes cães nos podem causar quando nas mãos erradas, animais que depois de ferrarem têm dificuldade em abrir a boca e cujos golpes podem levar-nos à morte. Quem já foi alvo dos seus ataques, mesmo que tente esquecê-los, dificilmente o conseguirá, atendendo às marcas e incapacidades deles resultantes, na maioria dos casos perpétuas, tanto do ponto de vista físico como do psicológico. Alguns destes cães, para além de não conseguirem largar a presa automaticamente, são treinados a morder pendurados em toda a sorte de objectos, nomeadamente em pneus por tempo indeterminado.
Para sua protecção, se porventura tiver vizinhos destes ou se cruzar amiúde com tal laia, a juntar à bengala dobrável retráctil, aconselhamos a compra de um canivete de marinheiro ou de enxertia, acessórios a ter no bolso para serem usados quando a sua vida ou a de outros se encontrar em risco. A nossa preferência vai para o canivete de marinheiro (o do enxertia requer mais prática), porque se presta tanto para abrir a boca destes animais como para cortar os tendões que os mantêm agarrados a nós. Para abrir a boca destes cães há que colocar o fuso do canivete entre os seus dentes pré-molares, pressionando-o contra o céu-da-boca e forçando-os a abri-la. A manobra exige alguma cautela porque os cães ao serem soltos poderão proceder a nova dentada. A opção entre o abrir a boca e o corte dos tendões dos maxilares é individual e dependerá do aperto e destreza de cada um. Melhor será nunca se encontrar neste dualismo e circunstâncias. Diante dum caso destes, se tiver licença de uso e porte de arma, não hesite, é para isso que ela serve. E o que dizer quando um cão destes agarra uma criança? Oxalá todos respeitem e façam respeitar as disposições legais acerca dos cães perigosos e as polícias cumpram sempre o seu dever, porque o mal não acontece só aos outros!
A maioria das raças lupinas destinada à guarda, os molossos alemães também, fazem ataques frontais, pelo que deveremos virar-lhes as costas nas imobilizações, caso nos sobre tempo para isso. Os restantes molossos, os alanos e os treinados numa determinada modalidade guardiã desportiva, podem atacar pelas costas ou a qualquer zona do corpo. Os molossos fá-lo-ão invariavelmente pela retaguarda, os alanos distribuem vários golpes e os treinados carregam em qualquer parte do corpo que se mova, em cima ou em baixo, desde que os alvos se encontrem em movimento. Perante o ataque dum cão que se suspeita treinado, havendo essa possibilidade, deveremos embrulhar uma peça de roupa no nosso braço esquerdo, reproduzindo assim uma manga de ataque, podendo depois suspendê-lo, dominá-lo, imobilizá-lo ou projectá-lo, visando a suspensão do ataque ou a eliminação do animal (há casos e casos). Portugal tem sido um paraíso no que concerne aos ataques caninos e esperamos que assim continue. De qualquer modo, importa estar precavido, evitar ser surpreendido e estar minimamente preparado. Até hoje, para socorro de homens e cães, já nos vimos obrigados a imobilizar meia dúzia animais destes e nunca tivemos necessidade de eliminar nenhum, habilidade que, para além de circunstâncias favoráveis, carece de força física, sangue-frio, conhecimento e prática. Apostados na defesa dos homens e podendo valer aos nossos alunos, nunca isentámos nenhum deles do ataque à manga, para que vençam medos e aprendam a defender-se dos cães, nem que seja a desequilibrá-los no momento em que os cães se projectam, dando um passo atrás. Por outro lado, temos ensinado os mais audazes a defender-se sem protecções e habilitámos para o mesmo fim alguns duplos cinematográficos.

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