Como preâmbulo importa dizer que os distintos
grupos somáticos caninos operam as suas capturas de modo diferente, havendo
alguns que as executam ao revés das características da sua raça ou grupo, por
força do condicionamento havido e graças à experiência feliz, na procura da
surpresa que garantirá a sua eficácia. Cães e cadelas fazem-no com diferentes
graus de tenacidade, sendo os primeiros deliberadamente ofensivos e as suas
congéneres mais defensivas, resistindo menos aos contra-ataques objectivos
(podem haver excepções). Cães de 20kg podem causar impactos iguais ou
superiores aos de 45kg devido ao aumento da velocidade, sendo os seus ataques
mais imprevisíveis. Há cães que passam directamente da fixação para o ataque,
outros que ladram primeiro e outros ainda que rosnam antes de atacar, uns que
são de golpe único e outros que atacam a vários golpes (os primeiros terão mais
força de mordedura que os últimos). Um pequeno número deles não se mostrará e
atacará por intercessão.
Alguns deles não dispensam o ataque frontal e
outros preferem fazê-lo pelas costas, mesmo sem necessidade da perseguição.
Tanto num caso como noutro, há guardiões que mordem abaixo da linha da cintura,
ao seu nível ou à jugular, modos de actuar intrinsecamente ligados ao seu
perfil psicológico, morfologia e treino (condicionamento). A maioria deles não
atacará alvos imóveis, a menos que tal lhes seja ordenado, se encontrem dentro
do seu território ou tenham sido excepcionalmente habilitados para isso, sem
razão aparente ou mediante a apresentação de uma arma. Pelas expressões mímicas
dos atacantes podemos aquilatar do grau de confiança, intensidade e dolo dos
seus ataques. E como nem todos os ataques caninos resultam do treino e do
condicionamento, sobram ainda os instintivos, normalmente menos dolosos pelo
desuso dos potenciadores de mordedura (brinquedos, pneus churros, fatos e
mangas de ataque, etc.). Diante disto, o panorama não parece muito animador!
Antes
de avançarmos, queremos adiantar que o combate contra os cães perigosos foi
ganho pelas polícias, pelo que estão de parabéns, sobrando agora reduzido
número de idiotas com cães de luta ou propensos a fins marginais, quando
exercitados para isso. Em simultâneo, porque vivemos num estado de direito, não
compreendemos a presença de Pitbulls nas fileiras policiais, particularmente
quando usados em serviços onde a sua presença é inadequada ou resulta estranha,
por ser abusiva diante dos direitos e liberdades de cidadania, pelo que levar
um Pitbull para a residência oficial do Presidente da República é tão caricato
como ver o Regimento de Cavalaria da Guarda montado em gericos, enquanto
Unidade especialmente destinada à segurança e protocolo do Estado, uma
americanice ou “pinochetada” de
tremendo mau gosto (só falta vermos os músicos a tocar de luvas rotas na
Rendição Solene ao Palácio). Retornando ao mérito das polícias importa realçar
o seu papel na prevenção, detenção e controlo dos cães perigosos, feito de modo
irrepreensível, tanto que nestes momentos de crise, quando os ânimos andam mais
exaltados e tudo se encontra prestes a explodir, não há notícia do uso destes
animais em actividades criminosas ou em qualquer tipo de desordem pública
concertada ou espontânea.
Mas como não são só os cães das raças consideradas
perigosas que atacam, sobrando por aí várias extraordinariamente territoriais e
por isso mesmo dadas ao mesmo tipo de acção, quer tenham sido treinadas para
isso ou não, todos precisamos de precaver-nos, mais agora que os magros
salários não suportam o ensino dos cães e o seu controlo é menos eficaz por
parte dos donos, que a si mesmos se julgam entendidos nesta matéria, quer pela
assistência a programas televisivos quer pela frequência em cursos mal
estruturados, apressados e geralmente inacabados. A exemplo dos gatos, os cães
citadinos são agora sujeitos a um lugar ou lugares sociais, locais bastante concorridos
por outros iguais, onde são levados pelos seus donos para correr e satisfazerem
as suas necessidades fisiológicas, encontros nem sempre agradáveis pelo
despreparado, ignorância e sandice dos seus proprietários, impropriedades que
podem resultar no ataque de um cão e/ou do seu dono, quando não de ambos,
porque na aflição de valerem aos seus cães, alguns donos acabam também
mordidos.
Para que isso não aconteça, quando sair com o seu
cão jardim, faça-o nas horas mais concorridas por maior número de cães,
certifique-se que não há nenhum à solta (caso houver retroceda sem dar nas
vistas), não solte o seu, mantenha-o ao seu lado, não confie na pretensa
mansidão dos outros, não o deixe brincar com cães desconhecidos e não o exponha
aos seus ataques. Cuidado com os cães surdos que, quando demasiado fixados ou
apanhados de surpresa, tendem a morder, particularmente quando atrelados aos
donos, sendo geralmente molossos brancos de diferentes tamanhos, que vão desde
o Buldogue Francês até ao Dogue Argentino. No caso de algum cão avançar
ameaçadoramente para cima do seu, desde que a desproporção entre ambos não seja
por demais evidente e o seu saiba defender-se, mais vale soltá-lo e partirem
ambos para cima do outro. Se tiver um cão miniatura não lhe restará outra
hipótese do que pegá-lo ao colo, usando a sua trela para afastar o beligerante
(as cadelas, quando não sociabilizadas, são agressivas umas com as outras e os
cães tendem a desafiar-se mutuamente. Os encontros entre cães de sexo diferente
são geralmente pacíficos).
Durante
o dia a ocorrência de escaramuças entre cães é muito rara, como é raro
acontecer algum ataque canino sobre um viandante ou transeunte, porque a Lei
proíbe os cães de andarem soltos e ninguém quer ser multado ou evadir-se
atabalhoadamente. Infelizmente não temos a mesma segurança à noite, altura em
que os donos dos cães mais belicosos optam por trazê-los à rua, não raramente soltos,
ávidos e prontos para qualquer confronto (ao romper da aurora acontece o mesmo).
Para sua segurança e do seu cão, escolha espaços públicos policiados ou com uma
esquadra de polícia por perto, o que fará diminuir a ocorrência de abusos. Cada
vez são menos frequentes as brigas entre cães, facto que fica a dever-se a três
razões objectivas: à lei sobre os cães perigosos, à crise económica que levou à
substituição dos cães maiores por menores e à adopção do reforço positivo como
método de ensino preferencial, que obrigaram respectivamente à sociabilização,
ao desprezo pelos cães mais dispendiosos e a uma maior fixação dos animais na
pessoa dos seus donos.
Pondo
de parte as guerras entre iguais, passemos aos ataques perpetrados pelos cães
sobre pessoas, adiantando subsídios de defesa para os visados e vítimas potenciais.
Como são mais os cães que atacam junto aos donos do que longe deles, mesmo sem
ordem explícita para isso, pormenor que fica a dever-se ao seu sentimento
territorial quando associado à antipatia por determinadas pessoas ou estranheza
do seu comportamento, evite acariciar cães desconhecidos quando atrelados aos
donos, mesmo que estes digam que os seus companheiros são uns autênticos
“anjinhos”, porque há gente que não perde pitada e que gosta de ver os outros
em apuros, treinando-os desta indecente maneira para defesa pessoal e
investindo os incautos no papel de cobaias, dizendo-se depois surpreendidos e
relegando para os animais a culpa do sucedido.
A
menos que tal nos seja sugerido, que direito nos assiste para acariciarmos os
cães alheios? Absolutamente nenhum, porque não nos pertencem, estamos a
indiciá-los ao suborno, a vulnerabilizar a sua salvaguarda e a enfraquecer
tanto o domínio quanto a liderança dos seus donos e a obrigá-los a maiores
providências para alcançá-los, o que mais sobrecarregará os pobres animais por
via da contra-ordem (há quem o faça espontaneamente e sem qualquer autorização
prévia, o que não deixa de ser um abuso e um tremendo disparate). E como desde
há muito é conhecido o carácter passional dos portugueses, que neste caso “são”
como os espanhóis, de quem dizem não conseguir ver sem mexer, se você não
conseguir resistir a fazer festas num cão, depois de ter obtido do
seu proprietário autorização para isso, então
faça-o de maneira a não comprometer a sua integridade física, coisa fácil de
acontecer quando não se sente à vontade para fazê-lo, quando o acaricia de
surpresa e por detrás, quando por medo lhe estende a mão e a recolhe, quando o
agarra e afasta do dono, quanto toma atitudes bruscas, é demasiado efusivo no
carinho ou fixa-o demoradamente nos olhos. Não se esqueça que o cão está a
observá-lo, que pode não morrer de amores por si (o que não é de estranhar) e já
estar farto de bajuladores (não se ponha na fila).
Quando
intentar cumprimentar um cão, faça-o frontalmente, em segurança e de modo suave
(tanto de palavras como de gestos), não se baixe ao nível dele e não o olhe
demoradamente nos olhos. Caso o animal aceite o seu cumprimento, pormenor
visível pela sua resposta, então poderá torná-lo mais caloroso, o que para
muitos donos é um excesso e assiste-lhes alguma razão. Há por aí quem lhes dê
as costas da mão, no intuito dos animais assimilarem o seu odor e de se
aperceberem das suas intenções, manobra perigosa diante de cães que foram
instigados nos potenciadores de mordedura (nós de corda, churros e por aí
adiante), já que a mão assim apresentada reproduz esses acessórios (lembre-se
que as verdades de hoje serão questionadas amanhã e que só depois se fará luz).
Melhor será fazê-lo com a palma da mão aberta, que sempre sugere um convite e
não ao contrário, com a mão estendida em cutelo ou a ameaçar um sopapo. De
qualquer modo, serene primeiro o animal pelo conforto da voz e avance com a mão
depois, acção que também o fará serenar a si. Nunca se esqueça que, ao serem
animais sociais, os cães vivem de rituais e por causa disso aceitam as nossas
rotinas, adoptando-as como suas.
É chegada a altura de falarmos dos ataques caninos
propriamente ditos, dos que acontecem com os cães soltos e sobre gente incauta,
normalmente entendida por eles como estranha, intrusa, presa ou ameaça, pela
sua presença, local de aparição, tipo de apresentação e comportamento. Esses
ataques, como já atrás dissemos, poderão ser de origem instintiva ou provir de
condicionamento prévio, sendo os últimos de maior gravidade, acontecendo com
mais frequência quando os parques e os espaços públicos se encontram quase
desertos e os cães são soltos ali e nos quintais, no horário compreendido entre
as 23H00 e às 07H00 (da noite para o amanhecer). Como prevenção, aconselha-se
aos amigos de caminhadas nocturnas que façam o seu prévio reconhecimento
durante dia, que evitem os percursos onde houver cães e nessa impossibilidade,
que se afastem das quintas ou moradias com muros de altura inferior a 2m ou com
grades distantes entre si de 20cm, suspeitando daquelas limitadas por arbustos
ou sem qualquer tipo de delimitação.
Quanto
mais isolada estiver uma propriedade, mais fácil será encontrar um cão guardião,
animal que por norma não está disposto a brincadeiras. Se não prescinde do
hábito salutar de caminhar antes de se deitar e não quer ou não pode proceder a
desvios, perante a certeza ou suspeita de haver cães em determinada moradia,
sempre que possível troque de passeio e circule debaixo de áreas iluminadas,
para não ser fatalmente surpreendido e não surpreender os cães, que devem vê-lo
distintamente e aperceber-se das suas intenções, mantendo a calma, a cadência
de marcha e evitando olhar directamente para eles. Mais vale pôr o pé na
estrada do que circular junto aos muros, limites que os cães defendem
afincadamente, independentemente da natureza dos seus ataque ser defensiva ou
ofensiva.
Se um
cão defensivo dificilmente abandonará uma propriedade que lhe foi confiada, um
ofensivo não hesitará em saltar dela e mover-lhe perseguição, pelo que importa
precaver-se com uma bengala dobrável retráctil (porque nem sempre se encontra
uma vara à mão) das usadas para invisuais, para caminhadas e para fins
ortopédicos, que não deverá ir à vista (para não se constituir em provocação ou
ameaça) e que em caso de necessidade deverá ser apontada aos anteriores do
animal, em movimentos curtos e rápidos de ida e volta, o que lhe quebrará o
ânimo pelo desequilíbrio causado, impedindo-o de saltar e efectuar a captura. Jamais
aponte a bengala à cabeça ou dorso de um cão, porque alguns aprenderam a
defender-se desse tipo de golpes, invalidando-os, procedendo ao desarme e
passando depois ao contra-ataque impetuoso. Até que o cão desista e se ponha em
fuga, acção que dependerá da certeza dos seus golpes, evite dobrar-se demasiado
ou ser contornado, para não ser atacado de frente ou surpreendido pela
retaguarda. Escusado será dizer que terá de tornar-se hábil no uso e montagem
da bengala (1 segundo poderá fazer toda a diferença).
Como
é gratuito ensinar o Padre-Nosso ao vigário e ainda estamos neste mundo, bem
sabemos que se podem seduzir, engodar, distrair, ludibriar, imobilizar, manietar,
atordoar, gasear, cegar, envenenar e matar cães (é possível que estejamos
confundidos mas alguém já nos falou no uso de “tasers”), técnicas dissimuladas próprias
de meliantes experimentados, de gente que se quer livrar dos animais e que tudo
faz para anular o seu serviço para benefício próprio, técnicas que também
reproduzimos no treino para alertar os guardiões, operar a sua defesa e
optimizar a sua prestação. Como é evidente não iremos falar delas, a tanto nos
obriga a ética e o amor pelos animais, não estamos em guerra e não nos compete
eliminar os cães alheios, geralmente investidos pelos donos na tarefa, satisfazendo
os seus desejos por gratidão. Outra coisa bem diversa é neutralizar os seus
ataques quando não nos sobra outra solução, respeitando a sua integridade e
préstimo, desde que já haja essa possibilidade e normalmente há, porque o
número de cães treinados para guarda não chega a 1% do total nacional e não
atacam a seu bel-prazer, o que torna instintivos a esmagadora maioria dos
ataques caninos que acontecem entre nós, ainda que resultantes de razão ou
razões genéticas, mas de dolo pouco significativo por resultarem de arremetidas
esporádicas e de surtida.
A
imobilização, que é a melhor opção perante ataques repentinos ou de surpresa,
implicará em transformar-se numa estátua, no controle dos instintos que
possibilita a inacção, mesmo que agredido e com olhos postos na linha do
horizonte, em fazer o corpo morto e não reagir as golpes sofridos, tanto física
como verbalmente, em deixar-se puxar para que o cão não sacuda e enterre mais
os dentes, aproveitando as suas investidas para se deitar cair com a cara e
ventre voltados para o solo. É evidente que esta é uma medida de emergência,
que procura a cessação do ataque, a suspensão da captura e evitar maiores
lesões, não se justificando perante cães abaixo dos 12kg e com uma altura igual
ou inferior aos 43cm, normalmente entendidos como “cães de encher o pé” (vá-se
lá saber porquê!). A imobilização torna-se obrigatória perante o ataque
repentino de molossos e terriers com grande envergadura e potência de mordedura
(ex: Presa Canário, Rottweiler, Pitbull, etc.), também diante de lupinos e
vulpinos com mais de 18kg e de altura igual ou superior aos 50cm. A
imobilização só não surtirá efeito se o ataque for ordenado e o cão estiver
acostumado a atacar e retraçar alvos imóveis ou cobaias deitadas no cão, condicionamento
que não é fácil e que muito raramente acontece. Se porventura o cão lhe soltar
para a cara, proteja-a com o braço esquerdo se for destro, caso contrário use o
braço direito.
Quando temos tempo para isso, com o cão distante de
nós a 30m (no mínimo) e adivinhando-se as suas intenções, devemos de imediato
jogar-nos ao solo, para que seja surpreendido quando nos abordar, tendo o
cuidado de proteger a cabeça e as orelhas com as mãos mas com os cotovelos
encostados no chão. Como inicialmente há cães que disferem alguns golpes, nem
que seja para se certificarem de que estamos vivos e damos luta, há que fazer o
corpo morto sem abandonar a postura, que será tanto ou mais eficaz quanto mais
unido estiver o nosso corpo, pelo que as nossas pernas e pés deverão estar
unidos, não indiciando possíveis pontos de mordedura por onde o cão possa
pegar. Depois dele se desinteressar por si, não se levante de imediato e
aguarde que se vá embora, porque doutro modo voltará a atacá-lo e fá-lo-á com
maior ímpeto, podendo ficar a guardá-lo, esperando que se ponha de novo em pé.
Nalguns
casos o ataque é a melhor defesa, qualidade que assiste aos mais audazes e que
alguns têm sem o saberem. Em que consiste o contra-ataque? Basicamente em
arrancar direito ao cão, em rota de colisão, com o mesmo ímpeto e determinação,
disposto a causar-lhe dolo igual ou superior (aqui a bengala retráctil dá muito
jeito). O contra-ataque desarmado não está ao alcance de qualquer um, porque
carece de conhecimento, robustez, sangue-frio, larga experiência e técnica para
a imobilização dos cães, atributos que não se alcançam do pé para a mão e que
não podemos adiantar por causa do nosso ofício (nós jogamos pela equipa dos
cães). Se a maioria dos treinados para guarda não foi e é não sujeita à
aprovação no contra-ataque, muito menos se encontrarão preparados os cães que
nunca foram treinados para esse fim. De qualquer modo há que desarmar o cão,
sabendo-se que a sua arma se encontra no focinho. O contra-ataque armado de
varapau, vara ou bastão pode ser eficaz, como por vezes é eficaz o simples
arranque para cima do cão, que surpreso recuará ou se afastará pela novidade
que leva ao temor. Os cães vivem e aprendem pela experiência, ainda não atingiram
a ficção e não inventam, estão acostumados a perseguir e estranham ser
perseguidos, nasceram para caçar e a não para ser caçados. Na arremetida do
contra-ataque devemos fazer uso duma palavra ou som gutural grave, modo de
linguagem que os cães entendem como ameaça. Jamais avance para um contra-ataque
se não estiver seguro e preparado para o que terá pela frente.
Assim
como sabemos que existem Pitbulls muito meigos, amigos, obedientes e ordeiros e,
a maioria deles é assim, também sabemos da tentação de alguns em fazê-los crocodilos
para causar mal aos outros. E como esses malvados não usam só os Pitbull para a
desgraça mas também outros cães com idêntica força de mordedura, somos obrigados
a precaver-nos de tamanha maldade, atendendo ao dano que estes cães nos podem
causar quando nas mãos erradas, animais que depois de ferrarem têm dificuldade
em abrir a boca e cujos golpes podem levar-nos à morte. Quem já foi alvo dos
seus ataques, mesmo que tente esquecê-los, dificilmente o conseguirá, atendendo
às marcas e incapacidades deles resultantes, na maioria dos casos perpétuas,
tanto do ponto de vista físico como do psicológico. Alguns destes cães, para
além de não conseguirem largar a presa automaticamente, são treinados a morder
pendurados em toda a sorte de objectos, nomeadamente em pneus por tempo
indeterminado.
Para
sua protecção, se porventura tiver vizinhos destes ou se cruzar amiúde com tal
laia, a juntar à bengala dobrável retráctil, aconselhamos a compra de um
canivete de marinheiro ou de enxertia, acessórios a ter no bolso para serem
usados quando a sua vida ou a de outros se encontrar em risco. A nossa preferência
vai para o canivete de marinheiro (o do enxertia requer mais
prática), porque se presta tanto para abrir a boca
destes animais como para cortar os tendões que os mantêm agarrados a nós. Para
abrir a boca destes cães há que colocar o fuso do canivete entre os seus dentes
pré-molares, pressionando-o contra o céu-da-boca e forçando-os a abri-la. A
manobra exige alguma cautela porque os cães ao serem soltos poderão proceder a
nova dentada. A opção entre o abrir a boca e o corte dos tendões dos maxilares
é individual e dependerá do aperto e destreza de cada um. Melhor será nunca se
encontrar neste dualismo e circunstâncias. Diante dum caso destes, se tiver
licença de uso e porte de arma, não hesite, é para isso que ela serve. E o que
dizer quando um cão destes agarra uma criança? Oxalá todos respeitem e façam
respeitar as disposições legais acerca dos cães perigosos e as polícias cumpram
sempre o seu dever, porque o mal não acontece só aos outros!
A
maioria das raças lupinas destinada à guarda, os molossos alemães também, fazem
ataques frontais, pelo que deveremos virar-lhes as costas nas imobilizações, caso
nos sobre tempo para isso. Os restantes molossos, os alanos e os treinados numa
determinada modalidade guardiã desportiva, podem atacar pelas costas ou a
qualquer zona do corpo. Os molossos fá-lo-ão invariavelmente pela retaguarda,
os alanos distribuem vários golpes e os treinados carregam em qualquer parte do
corpo que se mova, em cima ou em baixo, desde que os alvos se encontrem em
movimento. Perante o ataque dum cão que se suspeita treinado, havendo essa
possibilidade, deveremos embrulhar uma peça de roupa no nosso braço esquerdo,
reproduzindo assim uma manga de ataque, podendo depois suspendê-lo, dominá-lo, imobilizá-lo
ou projectá-lo, visando a suspensão do ataque ou a eliminação do animal (há
casos e casos). Portugal tem sido um paraíso no que concerne aos ataques
caninos e esperamos que assim continue. De qualquer modo, importa estar
precavido, evitar ser surpreendido e estar minimamente preparado. Até hoje, para
socorro de homens e cães, já nos vimos obrigados a imobilizar meia dúzia
animais destes e nunca tivemos necessidade de eliminar nenhum, habilidade que,
para além de circunstâncias favoráveis, carece de força física, sangue-frio,
conhecimento e prática. Apostados na defesa dos homens e podendo valer aos
nossos alunos, nunca isentámos nenhum deles do ataque à manga, para que vençam
medos e aprendam a defender-se dos cães, nem que seja a desequilibrá-los no momento
em que os cães se projectam, dando um passo atrás. Por outro lado, temos
ensinado os mais audazes a defender-se sem protecções e habilitámos para o
mesmo fim alguns duplos cinematográficos.
Sem comentários:
Enviar um comentário