sábado, 2 de maio de 2015

CORRENDO ATRÁS DA PANOSTEÍTE E DA MIELOPATIA DEGENERATIVA

Não pretendemos com este artigo, porque o problema excede em muito a nossa competência, explicar as causas e muito menos a solução para a panosteíte e para a mielopatia degenerativa (porque não somos investigadores, veterinários ou magos), doenças por norma atribuídas como próprias dos Pastores Alemães, somente divulgar os casos em que constatámos estas afecções, mais frequentes num determinado grupo de indivíduos dentro da raça, com características próprias e ligadas a priori ao tempo dos “alsacianos”, muito embora o seu aparecimento lhes seja anterior, por razões pouco conhecidas devido à ausência de estudos e à omissão deliberada destes problemas pelos criadores, que inevitavelmente se estenderam até aos dias de hoje, apesar de pontuais e por isso mesmo pouco comuns. Adiantámos o caso dos alsacianos porque em cima deles se construiu a linhagem histórica da raça em Portugal, precursora dos actuais “Arminiuis”, “Wienerau’s” e “Checos”, apesar destes problemas subsistirem ao tempo por outras partes da Alemanha. Também não temos como estabelecer qualquer relação entre estas duas afecções, nem sabemos se ela existe, muito embora saibamos que elas são comuns no mesmo grupo de indivíduos, onde surgem com mais frequência, mediante os milhares de Pastores que até hoje produzimos, treinámos, acompanhámos e observámos ao longo das suas vidas, das variedades dominante e recessivas, oriundas de diversas partes, beneficiadas entre si ou isoladamente.
Justiça lhes seja feita, apesar de não morrermos de amor por elas, nas actuais linhas do Pastor Alemão a incidência destas afecções é menor, particularmente nas de exposição, talvez porque os seus criadores sejam menos ousados, privilegiarem quase em exclusivo a morfologia e esses cães tenham agora uma curva de crescimento mais curta. A panosteíte, designada aqui a grosso modo por “doença das dores de crescimento”, apesar de poder atacar os cães mais velhos, cientificamente também conhecida como osteomielite juvenil, enostose, panosteíte eosinofílica e panosteíte canina, flagelo mais comum nos machos do que nas fêmeas, é uma doença que normalmente ataca os cães das raças maiores entre os 5 e os 18 meses de idade, de causa ou causas ainda por comprovar (se de origem genética ou não), geralmente associada ao stress, a anormalidades transitórias vasculares, a distúrbios do metabolismo, hiperestrogenismo e a alguma infecção viral, caracterizada pela inflamação dos ossos longos que leva os animais a coxear tanto dos anteriores como dos posteriores, cessando geralmente quando termina o seu crescimento, o que tem levado alguns criadores a cruzarem as suas cadelas precocemente para a supressão do problema, resultante da escassez óssea que ataca os ossos mais longos e que leva à produção de um novo osso a partir da cavidade formada (maiores e melhores explicações ser-lhe-ão dadas pelo seu veterinário assistente).
A mielopatia degenerativa é uma doença degenerativa neurológica crónica e lentamente progressiva da medula espinhal que acomete com maior frequência nos cães de grande porte em idade adulta mais avançada, principalmente no Pastor Alemão entre 5 e 14 anos (podendo atingir também outras raças) e cuja causa ainda não foi esclarecida, que leva os cães à dificuldade de se manterem de pé, ao cruzamento dos seus pés quando caminham, obrigando-os a cambalear, como se houvessem perdido a coordenação motora, que na verdade perderam, impossibilitando-os numa fase mais adiantada (crónica) de urinar ou defecar, pela ocorrência de atrofia muscular e paralisação da sua região posterior (quadril). A doença só poderá ser confirmada através de necropsia. Nenhum tratamento é eficaz e consegue debelar esta doença, já que os tratamentos clínicos e medicamentosos não têm obtido grande resposta, pelo que a maioria dos animais acometidos por ela acabará mais cedo ou mais tarde por ser eutanasiada. Tem-se apostado na fisioterapia para retardar o seu avanço e melhorar a qualidade de vida dos cães afectados, trabalho de reabilitação que visa exercitar e recuperar as estruturas que não foram comprometidas. Contudo, é adiar o inevitável por mais algum tempo.
Onde nos deparámos com casos destes? Curiosamente fomos encontrar as duas doenças no mesmo grupo de indivíduos ou num grupo de indivíduos com as mesmas características, exemplares com curvas de crescimento maiores (acima dos 68cm de altura), tendencialmente pernaltos ou obesos, fracos de ossatura ou com ela deficitária em relação à sua envergadura, geralmente com abatimento de metacarpos e descodilhados em marcha, que na fase de crescimento divergiam de mãos e que posteriormente viriam a evoluir para o passo de andadura, não conseguindo recolher os posteriores nas transposições mais baixas ou ultrapassando-as exageradamente de pernas hirtas, alinhando-as pela linha do ânus ou acima dele. Muitos dos cães que vieram a sofrer de panosteíte, tiveram irmãos noutras ninhadas que não conseguiram levantar as pernas, lembrando mamíferos aquáticos e que acabaram por ser abatidos. Apesar da doença ser mais incidente nos exemplares demasiado alto ou gigantes, alguns dos seus descendentes padronizados vieram a manifestar o mesmo problema, o que alvitra a hipótese duma propensão ou razão genética.
Como tivemos a oportunidade de criar, acompanhar e treinar Pastores de todas as variedades cromáticas, verificámos que na variedade negra as duas doenças raramente se manifestaram, mesmo quando esses indivíduos resultaram de progenitores de cor diferente e eram excepcionalmente grandes, que existe uma relação, para nós sem explicação, entre nanismo e gigantismo para a ocorrência destas enfermidades, algo para além do dimorfismo sexual e que por vezes lhe era contrário. Constatámos por outro lado que a mielopatia degenerativa acontecia mais cedo nos exemplares menos trabalhados ou nos indivíduos privados do exercício regular, geralmente confinados em canis ou a maior parte do tempo fechados em casa. Foi entre os lobeiros e os cães com menos máscara que encontrámos maior incidência destas doenças, que como já dissemos disputavam o mesmo grupo de indivíduos. Estarão os factores branco e azul associados a esta enfermidade? Gostaríamos de saber! Alguns dos cães que vieram a ser afectados por uma ou outra doença, haviam resultado de beneficiamentos extraordinários, já que a diferença de altura dos seus progenitores oscilava entre os 12 e os 15cm. Nada do que adiantamos pretende ser conclusivo, apenas adiantamos aquilo que nos foi dado a observar.
Nesse grupo de indivíduos, por estranho que pareça e para nós é um mistério, nas ninhadas onde nasciam cachorros de pelo duro e de pelo comprido, eram os últimos que concorriam em maior número para o aumento destas doenças. Tanto a panosteíte como a mielopatia degenerativa, sabe-se lá porquê, acabavam por ser extensíveis aos mestiços de pastor alemão, mesmo que um dos seus progenitores fosse de raça indefinida (rafeiro), não ocorrendo nenhuma das enfermidades nos seus descentes quando este era cruzado com um cão igual ou de outra raça. Não é certo que alguma destas doenças seja de origem genética mas é certo que se fazem mais presentes no seio do Pastor Alemão, o que para alguns parece indubitavelmente ligado, muito embora outras raças possam igualmente ser afectadas por elas, o que eventualmente nos transportará para os primórdios da raça, quando surgiu como resultado de vários cães.
Como a razão genética não está provada mas também não foi ainda descartada, na tentativa de evitarmos estas doenças nos nossos Pastores, temos por hábito inquirir do histórico clínico dos exemplares que adquirimos (quando nos dizem a verdade, não a omitem ou mentem), isentar da reprodução os exemplares que tenham tido ou tenham na sua ascendência indivíduos fustigados por estas enfermidades e incapacidades dolorosas, evitar os beneficiamentos entre os cães excepcionalmente grandes, valermo-nos de exemplares negros prá construção dos nossos cães, nunca beneficiar progenitores cuja diferença de altura ultrapasse os 4cm, reduzir ao mínimo indispensável o número de exemplares de pelo comprido e de fraca máscara na reprodução (por norma produto de exemplares unicolores não negros) fazer uso de reprodutores de excelente ossatura e isentar da reprodução indivíduos desaprumados ou com uma biomecânica imprópria ou comprometedora.
Quem sabe se estes cuidados não evitariam a proliferação destas incapacidades? A nossa experiência parece afirmá-lo, já que entre nós raros foram os casos, resultando esses de um reprodutor cinzento bicolor, descendente de cães importados da Alemanha, comprado a um alemão e que tivemos que eutanasiar. Tanto a panosteíte como a mielopatia degenerativa são mais comuns nas linha de trabalho do que na estética (a quem não faltam múltiplos problemas), quiçá porque os adestradores são menos precavidos e por demais ousados, quando desconsideram a morfologia e supervalorizam a prestação laboral.

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