sexta-feira, 8 de outubro de 2010

De predador a terapeuta: a grande epopeia do cão

Nenhum animal sofreu tão grandes transformações, melhor se adaptou e desempenhou tantas tarefas com êxito em tão curto espaço de tempo. Passou de silvestre a doméstico, de caçador a guarda de rebanhos, de predador a auxiliar e continua em constante adaptação, graças ao engenho humano na procura de novas parcerias. A partir da 2ª metade do Sec. XX, o cão transitou de predador para terapeuta, abraçou outros serviços e trouxe novas vantagens para a comunidade humana que desde os confins o adoptou.

Depois de ter sido soldado, polícia, artista de circo, atleta de competição, guia de cegos e se ter prestado ao socorro e salvamento de muitos, o que lhe reservará o futuro? Continuará propriedade de alguns ou transformar-se-á num bem colectivo? Será desprezado ou virá a alcançar maior relevo nos diferentes trabalhos da acção social? Será objecto de novas selecções ou permanecerá como até aqui? Ao certo ninguém sabe, porque o destino do cão encontra-se cativo à marcha da humanidade. A antevisão do futuro só será possível pelos indícios do presente e eles apontam claramente para novas e melhores utilizações do cão, mais justas para a sua espécie e de maior valia prós homens.

Se o futuro não nos surpreender e tudo leva a crer que não, o cão do Sec. XXI será mais terapeuta do que já é, alcançará novas utilidades e ser-lhe-ão descobertos outros serviços, distantes dos actuais e mais próximos das necessidades sociais da sociedade vindoura. Essa reviravolta (que já acontece hoje, ainda que em menor escala) virá a transformar os cães num bem público, estendendo os seus benefícios a todos os que virão a necessitar deles. Talvez isso vá implicar na reconversão das raças já existentes ou na criação de novas, o que induzirá a novos critérios selectivos e ao abandono de muitas das actividades cinotécnicas que hoje conhecemos, já em queda e em desuso, onde um bastião de maduros resiste ingloriamente à novidade, talvez por desconhecerem o soneto de Camões que diz: “ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/ Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/ Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades/ Diferentes em tudo da esperança/ Do mal ficam as mágoas na lembrança/ E do bem, se algum houve, as saudades”.

Acreditamos que o cão do futuro será um cão de paz, um amigo devotado e um companheiro que nunca nos abandonará, valendo-nos de sobremaneira e contribuindo para a inserção daqueles que por si mesmos dificilmente a alcançariam. Estaremos errados? Se estivermos, duma coisa estamos certos: o homem jamais sobreviverá se continuar fratricida, entregue ao seu umbigo e distante das dores alheias. O cão guerreiro virá ser rendido pelo cão solidário, que usará os dentes para nos encaminhar, aliviará o sofrimento de muitos e alcançará o capítulo mais excelente da sua já longa história entre os homens. Queremos daqui agradecer aos que no presente já trabalham pró futuro (criadores, adestradores e proprietários de cães).

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