Tal como procedemos na
estrada, em que temos que olhar por nós e contar com as aselhices dos outros, também
quando saímos à rua com os nossos cães somos obrigados a olhar para os donos e
cães que se cruzam connosco, cuidado que poderá livrar-nos de acidentes de
maior ou menor consequência e cuja ausência tem condenado à morte um número
crescente de pessoas e animais. Não faltam pelas nossas ruas binómios
impróprios e desprezo pela integridade dos demais, gente fraca a reboque de
cães robustos, acessórios frágeis em cães possantes, donos barulhentos com cães
surdos e assim por diante, para já não se falar em muito cãozinho desobediente,
solto e sem açaime, apesar da sua força de mandíbula se aproximar do fechar da
boca de um crocodilo.
Diante de um cenário
destes, em certos locais e a determinadas horas, sair à rua com o nosso cão pode
ser uma luta pela sobrevivência de ambos, porque não sabemos o que nos espera e
o que teremos pela frente. Como somos por norma optimistas e estamos
acostumados a mandar as preocupações para trás das costas, somos levados a
pensar que o mal só acontece aos outros, o que infelizmente nem sempre é
verdade, como o sucedido a uma senhora de 72 anos em Stetten am Kalt Markt, no
Distrito de Sigmaringen, Tübingen, Estado de Baden-Württemberg, Alemanha, que
em Maio de 1917 morreu do ataque de um cão Kangal, que acidentalmente se soltou
da coleira e que pertencia a um casal.
O cão Kangal é uma antiga raça
gigante de cães própria para a guarda de rebanhos, originária do Distrito de
Kangal, na Província de Sivas, Turquia. Acredita-se que estes cães de grande
porte (chegam a ultrapassar os 80 cm de altura à cernelha e os 70 kg de peso)
foram trazidos para a Turquia e cercanias pelos otomanos, que possivelmente utilizaram
os seus ancestrais como cães de guerra. Certo é que o Kangal é um feroz
guardião de rebanhos que não se intimida com o tamanho e a força dos seus
opositores, qualidade que o tem feito saltar as fronteiras da Turquia e
alcançar todos os continentes, onde enfrenta toda a casta de predadores.
Os donos do cão assassino
foram condenados pelo tribunal distrital de Sigmaringen por homicídio negligente,
muito embora as suas sentenças fossem suspensas. Como o Ministério Público
apelou da sentença e foi ouvido, o processo foi reaberto no princípio deste
mês, estando o novo julgamento marcado para o tribunal distrital de Hechingen,
no Distrito de Zollernalbkreis, amanhã pelas 9 horas, onde são esperadas as
processuais alegações e uma decisão daquele tribunal.
O
trágico acidente que vitimou a septuagenária, mortalmente atacada por golpes na
cabeça e no pescoço, deverá precaver-nos para que não se repita entre nós.
Assim, diante das circunstâncias atrás adiantadas neste artigo, no primeiro
parágrafo e no seu segundo período (gente
fraca a reboque de cães robustos, acessórios frágeis em cães possantes, donos
barulhentos com cães surdos e assim por diante, para já não se falar em muito
cãozinho desobediente, solto e sem açaime), deveremos sempre que possível
sair de mansinho e para longe da vista de cães nestas condições,
particularmente quando acompanhados pelo nosso cão. O sair de mansinho da
frente de um cão agressivo confunde-o, o que não aconteceria se largássemos a
correr, porque de imediato nos sinalizaria com presa. Quando tal não for
possível, há que soltar de imediato o nosso cão para que possa escapar-se ou
defender-se e só a nossa completa imobilização (de costas para o agressor),
junto com o desvio do olhar, poderão minorar os eventuais golpes de que seremos
alvo. Como muitas vezes estamos no “lugar do morto” sem o sabermos, todo o
cuidado é pouco!
PS: Intencionalmente não
falámos em nenhum contra-ataque possível contra um cão agressivo, por sabermos que
não estão ao alcance de todos e porque não querermos estender sério dolo a gente
entusiasta, inexperiente e irreflectida.
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