quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

SE FOR CASO DISSO, SAIA DE MANSINHO E PARA LONGE

Tal como procedemos na estrada, em que temos que olhar por nós e contar com as aselhices dos outros, também quando saímos à rua com os nossos cães somos obrigados a olhar para os donos e cães que se cruzam connosco, cuidado que poderá livrar-nos de acidentes de maior ou menor consequência e cuja ausência tem condenado à morte um número crescente de pessoas e animais. Não faltam pelas nossas ruas binómios impróprios e desprezo pela integridade dos demais, gente fraca a reboque de cães robustos, acessórios frágeis em cães possantes, donos barulhentos com cães surdos e assim por diante, para já não se falar em muito cãozinho desobediente, solto e sem açaime, apesar da sua força de mandíbula se aproximar do fechar da boca de um crocodilo.
Diante de um cenário destes, em certos locais e a determinadas horas, sair à rua com o nosso cão pode ser uma luta pela sobrevivência de ambos, porque não sabemos o que nos espera e o que teremos pela frente. Como somos por norma optimistas e estamos acostumados a mandar as preocupações para trás das costas, somos levados a pensar que o mal só acontece aos outros, o que infelizmente nem sempre é verdade, como o sucedido a uma senhora de 72 anos em Stetten am Kalt Markt, no Distrito de Sigmaringen, Tübingen, Estado de Baden-Württemberg, Alemanha, que em Maio de 1917 morreu do ataque de um cão Kangal, que acidentalmente se soltou da coleira e que pertencia a um casal.
O cão Kangal é uma antiga raça gigante de cães própria para a guarda de rebanhos, originária do Distrito de Kangal, na Província de Sivas, Turquia. Acredita-se que estes cães de grande porte (chegam a ultrapassar os 80 cm de altura à cernelha e os 70 kg de peso) foram trazidos para a Turquia e cercanias pelos otomanos, que possivelmente utilizaram os seus ancestrais como cães de guerra. Certo é que o Kangal é um feroz guardião de rebanhos que não se intimida com o tamanho e a força dos seus opositores, qualidade que o tem feito saltar as fronteiras da Turquia e alcançar todos os continentes, onde enfrenta toda a casta de predadores.
Os donos do cão assassino foram condenados pelo tribunal distrital de Sigmaringen por homicídio negligente, muito embora as suas sentenças fossem suspensas. Como o Ministério Público apelou da sentença e foi ouvido, o processo foi reaberto no princípio deste mês, estando o novo julgamento marcado para o tribunal distrital de Hechingen, no Distrito de Zollernalbkreis, amanhã pelas 9 horas, onde são esperadas as processuais alegações e uma decisão daquele tribunal.
O trágico acidente que vitimou a septuagenária, mortalmente atacada por golpes na cabeça e no pescoço, deverá precaver-nos para que não se repita entre nós. Assim, diante das circunstâncias atrás adiantadas neste artigo, no primeiro parágrafo e no seu segundo período (gente fraca a reboque de cães robustos, acessórios frágeis em cães possantes, donos barulhentos com cães surdos e assim por diante, para já não se falar em muito cãozinho desobediente, solto e sem açaime), deveremos sempre que possível sair de mansinho e para longe da vista de cães nestas condições, particularmente quando acompanhados pelo nosso cão. O sair de mansinho da frente de um cão agressivo confunde-o, o que não aconteceria se largássemos a correr, porque de imediato nos sinalizaria com presa. Quando tal não for possível, há que soltar de imediato o nosso cão para que possa escapar-se ou defender-se e só a nossa completa imobilização (de costas para o agressor), junto com o desvio do olhar, poderão minorar os eventuais golpes de que seremos alvo. Como muitas vezes estamos no “lugar do morto” sem o sabermos, todo o cuidado é pouco!
PS: Intencionalmente não falámos em nenhum contra-ataque possível contra um cão agressivo, por sabermos que não estão ao alcance de todos e porque não querermos estender sério dolo a gente entusiasta, inexperiente e irreflectida.

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