Nasceu basco, refinou-se
na Austrália e fizeram-no cowboy – eis o Pastor Australiano! Esta raça, também
conhecida por “Aussie” e “Ghost Eye Dog”, segundo é dito desde o início do
Séc.XIX, é oriunda do País Basco, descendente de cães pastores das Montanhas
dos Pirinéus, nomeadamente do Pastor dos Pirinéus (ver foto seguinte), do qual
conserva ainda algumas características morfológicas. No início de 1800 alguns
bascos rumaram à Austrália, por encontrarem ali um paraíso aberto para as suas
ovelhas, fazendo-se acompanhar pelos seus excelentes cães pastores. Durante a
sua longa permanência no continente australiano, o pastor basco viria a ser
objecto de beneficiamentos com Collies e Border Collies britânicos. Já com os
seus rebanhos constituídos, os intrépidos bascos rumaram depois para a
Califórnia/USA, motivados pela procura de pastos mais verdes. Bem depressa os
fazendeiros e criadores de gado norte-americanos se apaixonaram pelos cães de
pastoreio bascos, acreditando tratar-se de uma raça australiana devido à sua
procedência, advindo daí a enganosa designação de “Pastor Australiano”.
No oeste norte-americano,
os Aussies foram também refinados e aperfeiçoados, vindo a tornar-se parte
icónica da cultura cowboy, vagueando entre o veado e o antílope. Estes cães, de
extraordinária e reconhecida versatilidade, continuam a pastorear no oeste
americano, a participar em rodeios como artistas e a ser requisitados como cães
de companhia, agility, alarme, guarda, terapia, detectores de droga, cães de
serviço e cães de busca e salvamento. O primeiro Australian Shepherd foi
registado pelo International English Shepherd Registry, hoje conhecido como
National Stock Dog Registry. Em 1957 foi formado o Australian Shepherd Club of
América, que se tornou no maior registo de Aussies nos Estados Unidos. Grande
número de associados deste clube, convencidos de que o American Kennel Club
(AKC) não reconheceria oficialmente a raça, criaram a United States Australian
Shepherd Association. Contudo, a raça viria a ser reconhecida pelo AKC Herding
Group em 1993.
Sobre o temperamento do
Pastor Australiano, cão de trabalho que foi feito para a acção, ressaltam as
seguintes características positivas (de A a Z) : é um cão activo; alerta; ágil;
amoroso; atencioso; autoconfiante; avesso a estranhos; corajoso; devotado;
divertido (muito); enérgico (pode trabalhar o dia inteiro); independente; inteligente
(muito); leal; longevo; obediente; possessivo; protector (bastante); resistente
(muito); responsivo e territorial. Quanto às dificuldades que oferece, estamos
perante um cão que não dispensa o desafio e o exercício diário, porque doutro
modo poderá ficar frustrado e de ser de ruim convivência (cão impróprio para
donos sedentários). Apresenta a tendência de mordiscar crianças e animais para
os pastorear, necessita de ser atempadamente sociabilizado e de reconhecer os
limites estipulados pelo dono. É o cão ideal para quem gosta de praticar
desporto, porque adora correr e nadar, acompanhar os seus donos quando estão a
andar de bicicleta ou patins. Há que ter um cuidado especial com o Pastor
Australiano, já que é um pastor obsessivo e considera rebanho qualquer coisa
que se mova (o ideal é pô-lo a participar numa modalidade desportiva canina).
Este cão rectangular de porte
médio, que apresenta dimorfismo sexual (os machos medem aproximadamente de 51 a
58 cm de altura e pesam entre 23 a 29 kg; as fêmeas medem aproximadamente entre
46 a 53 cm de altura e pesam entre 18 e 25 kg), apresenta uma expectativa de
vida entre os 12 e os 15 anos e uma grande variedade de cores no seu manto de
pêlo duplo, das quais se destaca o merle
- um padrão manchado com tons contrastantes de azul ou vermelho.
No que aos problemas de
saúde diz respeito, uma das condições hereditárias reconhecidas no Aussie é a
mutação MDR-1, que os torna excepcionalmente sensíveis a doses de medicamentos
que a maioria dos cães tolera sem qualquer problema, particularmente à
ivermectina (nada de Ivomec!). Porém, a dosagem para a prevenção da
Dirofilariose é considerada segura. Para além dos problemas provocados por esta
sensibilidade, que abrange um sem número de medicamentos, a raça é normalmente
afectada por: anomalia ocular de Collie; atrofia progressiva da retina;
cálculos urinários; cataratas; coloboma; dermatite solar nasal; displasia da
anca; epilepsia; estenose lombossacral; pannus e síndrome Pelger-Huet. Diante
deste quadro, torna-se obrigatório proceder a exames dos olhos e da anca. Tendo
em conta a saúde e bem-estar destes cães, para evitar que nasçam cachorros
cegos e surdos, os cruzamentos entre dois progenitores merle estão proibidos.
A valentia, a disponibilidade
e a inteligência destes cães bascos, hoje tornados cowboys, estão a fazer com que
muitos Pastores “Australianos” retornem à Europa e sejam cada vez mais
procurados pelas gentes do Velho Continente. Exemplo disso foi o ocorrido em
França no ano passado, onde a raça ocupou o primeiro lugar no ranking dos cães com
pedigree mais pretendidos. Devido à sua grande versatilidade, coragem e
determinação, o Aussie pode rivalizar com todos em tudo, sendo um verdadeiro
action dog.
Por conta deste cão, cuja
pelagem merle lembra o cavalo Appaloosa, sendo este descendente do Mustang trazido
pelos espanhóis e portugueses no Séc.XVI, designação tirada do termo castelhano
“Mesteño”, que se aplica ao cavalo sem dono conhecido, chego à conclusão que, exceptuando
os índios em vias de extinção, pouco mais haverá genuinamente americano, uma
vez que o Cowboy da Marlboro aparece montado num Mesteño e os fazendeiros do
oeste fazem-se acompanhar por um cão originário dos Pirinéus!
Pondo a ironia de parte,
estamos perante um excelente cão de pastoreio, desporto e trabalho, um amigo
incansável que somos obrigados a mandar parar, porque doutro modo continuará a
correr léguas sem fim, até encontrar o último bando, vara, rebanho ou manada
para reunir - um verdadeiro cão do Arco-da-velha!
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