quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

NASCEU BASCO, REFINOU-SE NA AUSTRÁLIA E FIZERAM-NO COWBOY

Nasceu basco, refinou-se na Austrália e fizeram-no cowboy – eis o Pastor Australiano! Esta raça, também conhecida por “Aussie” e “Ghost Eye Dog”, segundo é dito desde o início do Séc.XIX, é oriunda do País Basco, descendente de cães pastores das Montanhas dos Pirinéus, nomeadamente do Pastor dos Pirinéus (ver foto seguinte), do qual conserva ainda algumas características morfológicas. No início de 1800 alguns bascos rumaram à Austrália, por encontrarem ali um paraíso aberto para as suas ovelhas, fazendo-se acompanhar pelos seus excelentes cães pastores. Durante a sua longa permanência no continente australiano, o pastor basco viria a ser objecto de beneficiamentos com Collies e Border Collies britânicos. Já com os seus rebanhos constituídos, os intrépidos bascos rumaram depois para a Califórnia/USA, motivados pela procura de pastos mais verdes. Bem depressa os fazendeiros e criadores de gado norte-americanos se apaixonaram pelos cães de pastoreio bascos, acreditando tratar-se de uma raça australiana devido à sua procedência, advindo daí a enganosa designação de “Pastor Australiano”.
No oeste norte-americano, os Aussies foram também refinados e aperfeiçoados, vindo a tornar-se parte icónica da cultura cowboy, vagueando entre o veado e o antílope. Estes cães, de extraordinária e reconhecida versatilidade, continuam a pastorear no oeste americano, a participar em rodeios como artistas e a ser requisitados como cães de companhia, agility, alarme, guarda, terapia, detectores de droga, cães de serviço e cães de busca e salvamento. O primeiro Australian Shepherd foi registado pelo International English Shepherd Registry, hoje conhecido como National Stock Dog Registry. Em 1957 foi formado o Australian Shepherd Club of América, que se tornou no maior registo de Aussies nos Estados Unidos. Grande número de associados deste clube, convencidos de que o American Kennel Club (AKC) não reconheceria oficialmente a raça, criaram a United States Australian Shepherd Association. Contudo, a raça viria a ser reconhecida pelo AKC Herding Group em 1993.
Sobre o temperamento do Pastor Australiano, cão de trabalho que foi feito para a acção, ressaltam as seguintes características positivas (de A a Z) : é um cão activo; alerta; ágil; amoroso; atencioso; autoconfiante; avesso a estranhos; corajoso; devotado; divertido (muito); enérgico (pode trabalhar o dia inteiro); independente; inteligente (muito); leal; longevo; obediente; possessivo; protector (bastante); resistente (muito); responsivo e territorial. Quanto às dificuldades que oferece, estamos perante um cão que não dispensa o desafio e o exercício diário, porque doutro modo poderá ficar frustrado e de ser de ruim convivência (cão impróprio para donos sedentários). Apresenta a tendência de mordiscar crianças e animais para os pastorear, necessita de ser atempadamente sociabilizado e de reconhecer os limites estipulados pelo dono. É o cão ideal para quem gosta de praticar desporto, porque adora correr e nadar, acompanhar os seus donos quando estão a andar de bicicleta ou patins. Há que ter um cuidado especial com o Pastor Australiano, já que é um pastor obsessivo e considera rebanho qualquer coisa que se mova (o ideal é pô-lo a participar numa modalidade desportiva canina).
Este cão rectangular de porte médio, que apresenta dimorfismo sexual (os machos medem aproximadamente de 51 a 58 cm de altura e pesam entre 23 a 29 kg; as fêmeas medem aproximadamente entre 46 a 53 cm de altura e pesam entre 18 e 25 kg), apresenta uma expectativa de vida entre os 12 e os 15 anos e uma grande variedade de cores no seu manto de pêlo duplo, das quais se destaca o merle - um padrão manchado com tons contrastantes de azul ou vermelho.
No que aos problemas de saúde diz respeito, uma das condições hereditárias reconhecidas no Aussie é a mutação MDR-1, que os torna excepcionalmente sensíveis a doses de medicamentos que a maioria dos cães tolera sem qualquer problema, particularmente à ivermectina (nada de Ivomec!). Porém, a dosagem para a prevenção da Dirofilariose é considerada segura. Para além dos problemas provocados por esta sensibilidade, que abrange um sem número de medicamentos, a raça é normalmente afectada por: anomalia ocular de Collie; atrofia progressiva da retina; cálculos urinários; cataratas; coloboma; dermatite solar nasal; displasia da anca; epilepsia; estenose lombossacral; pannus e síndrome Pelger-Huet. Diante deste quadro, torna-se obrigatório proceder a exames dos olhos e da anca. Tendo em conta a saúde e bem-estar destes cães, para evitar que nasçam cachorros cegos e surdos, os cruzamentos entre dois progenitores merle estão proibidos.
A valentia, a disponibilidade e a inteligência destes cães bascos, hoje tornados cowboys, estão a fazer com que muitos Pastores “Australianos” retornem à Europa e sejam cada vez mais procurados pelas gentes do Velho Continente. Exemplo disso foi o ocorrido em França no ano passado, onde a raça ocupou o primeiro lugar no ranking dos cães com pedigree mais pretendidos. Devido à sua grande versatilidade, coragem e determinação, o Aussie pode rivalizar com todos em tudo, sendo um verdadeiro action dog.
Por conta deste cão, cuja pelagem merle lembra o cavalo Appaloosa, sendo este descendente do Mustang trazido pelos espanhóis e portugueses no Séc.XVI, designação tirada do termo castelhano “Mesteño”, que se aplica ao cavalo sem dono conhecido, chego à conclusão que, exceptuando os índios em vias de extinção, pouco mais haverá genuinamente americano, uma vez que o Cowboy da Marlboro aparece montado num Mesteño e os fazendeiros do oeste fazem-se acompanhar por um cão originário dos Pirinéus!
Pondo a ironia de parte, estamos perante um excelente cão de pastoreio, desporto e trabalho, um amigo incansável que somos obrigados a mandar parar, porque doutro modo continuará a correr léguas sem fim, até encontrar o último bando, vara, rebanho ou manada para reunir - um verdadeiro cão do Arco-da-velha!

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