quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

ESTRANHA COBRANÇA DE DÍVIDAS EM AHLEN

Na mui dinâmica cidade de Ahlen, localizada no Distrito de Warendorf, na Região Administrativa de Münster, no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, outrora bastião do catolicismo e que entre 1574 e 1652 procedeu a uma verdadeira caça às bruxas, matando quatro e apanhando pelo meio um “lobisomem” e um feiticeiro, e que durante o regime nazi expulsou ou enviou para os campos de concentração todos os judeus que viviam nos seus limites, aderindo assim à “Endlösung der Judenfrage” (Solução Final) preconizada por Hitler, orgulhando-se de ser a primeira cidade “Judenfrei” (livre de Judeus), os actuais cobradores municipais são extremamente escrupulosos e zelosos no cumprimento do seu dever em prol da sua cidade, ao ponto de procederem a confiscos ou cobranças nunca vistas.
Numa cobrança de dívidas, a autarquia local apreendeu o Pug “Edda” para saldar as dívidas dos seus donos e vendeu-o no Ebay, o maior site do mundo para a compra e venda de bens e o mais popular shopping electrónico. Antes da perca da cadela e pelo mesmo motivo, a mesma família viu os seus electrodomésticos confiscados. O tesoureiro da cidade de Ahlen, Dirk Schlebes, defendeu o confisco e posterior venda do animal como legal, apesar dos protestos dos ex-donos da cadela e do seu novo proprietário: os primeiros porque querem a Pug de volta e último por se sentir enganado e esperar ser ressarcido.
Ainda que a autarquia possa “fazer orelhas moucas” para os apelos emocionais dos espoliados da cadelinha, não poderá proceder do mesmo modo com o seu comprador, que ameaça agir judicialmente contra a cidade por lhe ter vendido uma animal doente ao invés de saudável, por uma quantia ligeiramente abaixo dos 750 euros. Ligado a um seguro e assessorado a um advogado, conseguiu provar que a Pug se encontrava doente na altura da sua venda, uma vez que o animal veio a ser operado numa clínica veterinária várias vezes a uma lesão ocular. Profundamente insatisfeito, o homem exige agora o preço da compra e um reembolso pelo tratamento. A notícia chegou-nos através do SPIEGEL ONLINE, um dos sites de notícias em alemão mais lidos, fundado em 1994 como ramo online da revista DER SPIEGEL, mas com um grupo de jornalistas próprio.
Estes alemães não são “pêra-doce” e quando toca a dinheiro ainda são piores, gastando somente o inevitável e nunca perdoando dívidas. Durante alguns anos vivi por cima de um restaurante numa zona turística por excelência e pude observar os gastos dos diferentes turistas, maioritariamente espanhóis, franceses, alemães e ingleses. Enquanto os espanhóis e franceses comiam que nem os abades sem reparar no preço, ingleses e alemães apreciavam todos os restaurantes e acabavam por sentar-se nos mais baratos, onde sempre comiam debaixo de alguma austeridade, o que nunca os inibiu de fazer os reparos que achavam necessários. Os turistas brasileiros que nos visitam, que são cada vez mais, têm por hábito despejar galheteiros de azeite no prato, ensopá-lo em pão e bebê-lo sofregamente.

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