quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

QUANDO A CONFIANÇA SUBESTIMA O RISCO, SÃO AS CRIANÇAS QUE PAGAM!

As actuais sociedades europeias estão a enfrentar uma crise de valores que há muito não experimentavam, bombardeadas que andam com toda a sorte de informação/desinformação, novidade que lança muitos em confusão e desprepara para o alcance os ideais que lhes são inculcados, princípios que adoptam para além da sua história, cultura e bom senso. Este rompimento com o passado, quando somado às inverdades que hoje aceitam como artigos de fé à revelia da ciência, acaba por causar grande número de vítimas, sucedendo aos desastres os alertas e desmentidos sem nenhum préstimo para os que se finaram ou que foram barbaramente agredidos, sendo a cautela substituída pela corrida atrás do prejuízo. E se não é bom que os adultos procedam assim, pior é que sujeitem gratuitamente as suas crianças a riscos desnecessários, forçando as de tenra idade e sem senso de responsabilidade à coabitação com cães que tratam igual e arbitrariamente como filhos, disparate que tem resultado num exagerado número de crianças agredidas, traumatizadas, mutiladas e mortas.
Importa dizer de imediato que os cães não são todos iguais, que dentro de cada raça há indivíduos diferentes, que o dimorfismo sexual nelas presente pode operar comportamentos diversos, que há algumas que naturalmente não se prestam para “baby-sitters” e que os diferentes estágios etários caninos podem alterar comportamentos, verdades que atingem todos os grupos somáticos e que não se circunscrevem somente a um tamanho específico de cão, o que não isenta a interacção entre crianças e cães de sérios riscos, mormente quando se trata de bebés ou de infantes com menos de quatro anos de idade, que não se apercebendo dos seus limites, acabam ingénua e ordinariamente por desrespeitar o que aos cães é devido, resultando essa interacção aparentemente amigável numa sangria desatada. Conscientes desta nefasta possibilidade e conhecedores do crescente número de vítimas, somente aconselhamos a coabitação e a interacção com um cão a crianças de idade igual ou superior aos seis anos, sem dispensar os seus pais da supervisão e do estabelecimento de regras a uns e a outros.
Ao falarmos deste assunto e da incúria dos pais, sempre nos lembramos da história do “caderninho”, hipotético livro de dúvidas que um teólogo agraciado pela Fé mantinha para esclarecê-las aquando do seu encontro com Deus. Caso fôssemos como ele, também levaríamos para a cova a seguinte questão: porque consentem os pais que os filhos morram à boca dos cães, quando não é difícil ensinar e regrar ambos? Visando a salvaguarda das crianças, todo e qualquer cão deverá ser ensinado a respeitá-las e a ser submisso aos seus pais, porque doutro modo os ataques caninos poderão suceder mesmo debaixo dos narizes dos seus progenitores, “surpresa” que jamais deixarão de lamentar e cujo coro aumenta anualmente nas sociedades mais evoluídas. Assim como subsistem cães naturalmente dóceis, cuidadosos e protectores das crianças (todos já vimos ou tivemos conhecimento de algum), eles são a excepção que confirma a regra e aqui a regra é de ouro porque importa prevenir.
Normalmente os ataques caninos sobre crianças de tenra idade obedecem às seguintes condições: sobre bebés confiados a outrem com cães residentes e pouco ou nada controlados; quando os animais são mais antigos no lar (situação que se repete amiúde), alcançaram um estatuto abusivo e dele não abdicam, considerando a casa como sua exclusiva pertença; quando cães e crianças são deixados sós; quando as crianças avançam para os pais com objectos que os cães entendem próprios para a agressão; quando os pais ralham com os filhos; quando os bebés pegam nos brinquedos, outros pertences ou se aproximam da comida e espaço dos cães; quando os agridem ou molestam; quando ingenuamente se interpõem entre eles e os pais e em todas as situações em que se constituem ameaça sem o saberem (há crianças que interpretam o rosnar dos cães como sorrisos).
Sabemos que melhor seria ter um filho primeiro, deixá-lo crescer e só depois um cão, apesar de hoje suceder maioritariamente o contrário (razões não faltam). Diante dos factos importa escolher o cão certo, educá-lo primeiro e só depois pensar no bebé vindouro, o que nunca dispensará a supervisão dos pais, a quem cabe a salvaguarda dos filhos e a decisão de os afastar dos cães quando a situação assim o exigir. Diz-se que o seguro morreu de velho e todos desejamos que os nossos filhos tenham vida em abundância, o que equivale a dizer nesta matéria que não podemos colocar a confiança à frente dos cuidados e protecção que não dispensam. Certamente voltaremos a este assunto, deixámos o aviso, estenderemos maiores esclarecimentos a quem nos pedir, podemos ajudá-lo na escolha do cão certo e auxiliá-lo no seu ensino. Fernando Pessoa dizia que o melhor do mundo são as crianças, muito embora nunca tivesse filhos, mas se você os tem não os perca, porque será aqui substancialmente mais feliz se souber amá-los e educá-los.

Sem comentários:

Enviar um comentário