quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O CÃO-DRONE

Sempre que falamos em drones, atendendo ao caricato da situação, vêm-nos à memória um jovem brasileiro de gestos delicados, largos e expressivos, de trunfa pintada e voz estridente que juntava à insinuação a roupa justa, indivíduo que rapidamente ganhou a alcunha de “Flechinha”, quiçá numa alusão ao Deus Cupido, que se divertia com o seu drone a contornar a fachada do Palácio Nacional de Belém, residência oficial do Presidente da República, lançando-o e controlando-o a partir dos Jardins Vasco da Gama e Mouzinho de Albuquerque, sem nunca ser surpreso ou ver o seu aparelho apreendido?! Ainda bem que era apolítico, extremamente manso e nada tinha de subversivo, apesar de vítima do bullying verbal dos seus colegas de trabalho (atenção à nova legislação sobre os drones e a sua utilização). Mas se não era um perigo para a segurança nacional, não deixava de ser um incómodo para os proprietários caninos, porque com aquele aparelho perseguia e convidava para a perseguição os cães alheios. Deixemos o “Flechinha”, cuja paragem ignoramos e vamos ao que interessa.
Se entendermos um drone como um aparelho ou utensílio fácil de manobrar para realizar tarefas arriscadas, para complementar as acções humanas e tirar partido das suas vantagens, a analogia surge imediata: a transformação do lobo em cão deu ao homem o primeiro drone natural, sendo secundado mais tarde pelo aproveitamento de águias, falcões e outros rapaces. Como drone tem vindo a ser utilizado até aos nossos dias, enquanto cão de caça, de guarda, de polícia e como cão de guerra, bastando relembrar no último caso que foi usado como arma anti-tanque e ainda hoje é requisitado como detector de explosivos, o que do ponto de vista ético coloca sérias questões e alguns engasgos a quem o cria e usa para esse fim, isto se considerarmos a Declaração Universal dos Direitos dos Animais.
Poderão os cães vir a ser substituídos por drones autênticos, agora que o seu bem-estar é objecto de maior sensibilidade e os avanços tecnológicos não param de nos surpreender? Estamos convencidos que sim, que tudo será uma questão de tempo, considerando a experiência piloto em curso nos Marines norte-americanos, que testam há já alguns anos cães robotizados, protótipos dos futuros cães de guerra. É evidente que isso não será para já, porque subsistem ainda culturas, sociedades e regimes que menosprezam a vida dos cães e de outros animais, nações pobres, avessas ao desenvolvimento e que parecem viver em séculos anteriores ao nosso, para quem os cães são sinal de impureza ou de apostasia, por norma as mesmas que fazem explodir os seus próprios combatentes. Acresce a este atraso histórico o facto dos cães serem de fácil acesso e baratos. Se houver mundo para tanto, é possível que finalmente todos deixem os cães em paz.
Na gíria do adestramento chama-se “cão-drone” àquele que executa acções invasivas e ofensivas de surpresa sem se deixar apanhar, por via de condicionamento prévio com o dono oculto ou ausente, acções muitas vezes confundidas como instintivas ou acidentais. Para melhor se entender o que acabámos de dizer e porque infelizmente a violência doméstica só agora está ser denunciada e é considerada crime, também porque cresce o número de homens agredidos pelas suas companheiras, vamos a um caso hipotético de homicídio consumado:
Determinada senhora, há muito desiludida com o seu companheiro mas não com o seu dinheiro, para quem o divórcio nada aproveitaria, decide adquirir e treinar em segredo um cão para guardar objectos, no intuito de se livrar do marido e poder lançar mão da sua fortuna. Durante meses a fio potencia a força de mordedura do animal, impede-o de fazer amizade com o companheiro e condiciona-o a atacar violentamente quem lhe mexer na carteira. Chegada a ocasião propícia, vai para o carro e chama o marido que se encontra em casa com o cão, pedindo-lhe que lhe traga a carteira por se haver esquecido dela. O inocente homem satisfaz-lhe o pedido e acaba morto pelo animal! E como “só sabe do convento quem lá vai dentro”, depois de recolhida a carteira, facilmente o ocorrido será atribuído à raça do cão ou aos possíveis maus-tratos que o dono lhe houvesse dado. Infelizmente acontecem crimes assim por todo o lado, onde os cães pagam as favas e os seus autores são inocentados.
Cão-drone é também aquele que é deixado deliberadamente num espaço público para causar dolo a terceiros, uma forma de treino específico muito do agrado de donos fratricidas, cobardes e sem escrúpulos, patologia que se transforma numa séria ameaça para os incautos que se satisfazem a dar mimos aos cães que desconhecem. Todo o cuidado é pouco! 

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