Apoiamos
sem reservas todas as campanhas para a adopção de animais domésticos em
qualquer lado. No que concerne aos cães já o temos manifesto inúmeras vezes,
realçando a gratidão e préstimo dos animais a adoptar, por norma mais
saudáveis, equilibrados, menos exigentes e com maior esperança de vida. Os
textos que editámos ao longo dos anos acerca dos cães de abrigo comprovam o que
acabámos de dizer. Também do ponto de vista ético, considerando o apreço que
temos por estes animais e o seu direito ao bem-estar, entendemos como
prioritária a adopção de cães, prática que nunca desprezámos e que aconselhámos
outros a segui-la. Em 10 anos adoptámos o mesmo número de cães da mais
descarada raça indefinida, não procurando neles parecenças com outros
padronizados, não lhes diferenciando o tratamento, dando-lhes todo o carinho e
operando a sua reabilitação. Debaixo destes princípios nunca excluímos do
treino nenhum dos que nos foram confiados, sendo muitos deles educados
gratuitamente para não sobrecarregar os seus proprietários. O esforço valeu a
pena e todos vieram a ser convenientemente adestrados.
Discordamos
do slogan adoptado pelas campanhas internacionais “NÂO COMPRE, ADOPTE”, porque o entendemos radical, abusivo, utópico e
injusto face ao contributo dado até aqui pelos criadores de cães raça, que
desde os finais do Séc.XIX, 190 anos antes da Declaração Universal dos Direitos
Animais, tudo fizeram e continuam a fazer em prol daqueles que escolheram e do
bom-nome dos cães em geral, encontrando-lhes os mais variados préstimos e
utilidades, sensibilizando as pessoas para o seu bem-estar e prós cuidados que
o garantem. Entendemos tal slogan radical e abusivo porque afecta a liberdade
de escolha, utópico porque ainda não podemos dispensar os “cães especialistas”
e injusto porque sem o contributo dos cães sem pedigree os rafeiros não seriam
tão bem tratados e respeitados, o que mais atrasaria e dificultaria a sua
aceitação e posterior adopção.
Graças
aos esforços embrionários dos canicultores oficiais, os cães saíram das
barracas e dos currais para a coabitação, foram soltos das correntes para
caminharem ao nosso lado, deixaram de comer restos e alcançaram dietas
equilibradas, saíram do ostracismo e adquiriram um novo estatuto social,
saltaram do desprezo para a complementaridade e passaram de fardo a um bem
desejável. Os erros cometidos na selecção dos cães padronizados, a quem a
eugenia negativa, a endogamia e a consanguinidade não são alheios, acabaram por
contribuir para o avanço da ciência e para a identificação e tratamento das
doenças mais comuns presentes no lobo familiar (algumas delas também
extensíveis aos homens). Em simultâneo, ao desenvolverem cães para os mais diversos
fins e serviços, impediram a dispensa e extinção dos cães em geral a expensas
dos seus próprios bolsos, saindo muitos da empresa com eles vazios. Quem
primeiro ensinou a cuidar dos cães? Quem mais contribuiu para os pôr ao serviço
dos homens? Cada cão tem o seu préstimo e cada um saberá escolher o melhor que
lhe convém.
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