quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

“NÃO COMPRE, ADOPTE”

Apoiamos sem reservas todas as campanhas para a adopção de animais domésticos em qualquer lado. No que concerne aos cães já o temos manifesto inúmeras vezes, realçando a gratidão e préstimo dos animais a adoptar, por norma mais saudáveis, equilibrados, menos exigentes e com maior esperança de vida. Os textos que editámos ao longo dos anos acerca dos cães de abrigo comprovam o que acabámos de dizer. Também do ponto de vista ético, considerando o apreço que temos por estes animais e o seu direito ao bem-estar, entendemos como prioritária a adopção de cães, prática que nunca desprezámos e que aconselhámos outros a segui-la. Em 10 anos adoptámos o mesmo número de cães da mais descarada raça indefinida, não procurando neles parecenças com outros padronizados, não lhes diferenciando o tratamento, dando-lhes todo o carinho e operando a sua reabilitação. Debaixo destes princípios nunca excluímos do treino nenhum dos que nos foram confiados, sendo muitos deles educados gratuitamente para não sobrecarregar os seus proprietários. O esforço valeu a pena e todos vieram a ser convenientemente adestrados.
Discordamos do slogan adoptado pelas campanhas internacionais “NÂO COMPRE, ADOPTE”, porque o entendemos radical, abusivo, utópico e injusto face ao contributo dado até aqui pelos criadores de cães raça, que desde os finais do Séc.XIX, 190 anos antes da Declaração Universal dos Direitos Animais, tudo fizeram e continuam a fazer em prol daqueles que escolheram e do bom-nome dos cães em geral, encontrando-lhes os mais variados préstimos e utilidades, sensibilizando as pessoas para o seu bem-estar e prós cuidados que o garantem. Entendemos tal slogan radical e abusivo porque afecta a liberdade de escolha, utópico porque ainda não podemos dispensar os “cães especialistas” e injusto porque sem o contributo dos cães sem pedigree os rafeiros não seriam tão bem tratados e respeitados, o que mais atrasaria e dificultaria a sua aceitação e posterior adopção.
Graças aos esforços embrionários dos canicultores oficiais, os cães saíram das barracas e dos currais para a coabitação, foram soltos das correntes para caminharem ao nosso lado, deixaram de comer restos e alcançaram dietas equilibradas, saíram do ostracismo e adquiriram um novo estatuto social, saltaram do desprezo para a complementaridade e passaram de fardo a um bem desejável. Os erros cometidos na selecção dos cães padronizados, a quem a eugenia negativa, a endogamia e a consanguinidade não são alheios, acabaram por contribuir para o avanço da ciência e para a identificação e tratamento das doenças mais comuns presentes no lobo familiar (algumas delas também extensíveis aos homens). Em simultâneo, ao desenvolverem cães para os mais diversos fins e serviços, impediram a dispensa e extinção dos cães em geral a expensas dos seus próprios bolsos, saindo muitos da empresa com eles vazios. Quem primeiro ensinou a cuidar dos cães? Quem mais contribuiu para os pôr ao serviço dos homens? Cada cão tem o seu préstimo e cada um saberá escolher o melhor que lhe convém.

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