A Patrícia Moreira, uma leitora do nosso Blog,
enviou-nos duas fotos relativas a uma ninhada de Pastores Alemães da sua
criação, produto da sua pastora negra com um cão preto-afogueado. Dos oito
cachorros nascidos, dois nasceram cinzentos (azuis), o que muito a espantou e
obrigou a procurar informação, já que desconhecida a existência desta variedade
cromática nos Pastores Alemães e por causa disso nos contactou. Durante uma
dezena de anos produzimos cães azuis, unicolores e bicolores, chegando a eles
pelos beneficiamentos entre negros e lobeiros, ao contrário doutros menos
sérios, que se valeram de cães brancos para os alcançar, mesmo em países onde a
variedade branca se encontra catalogada como Pastor Suíço. No caso dos
cachorros da Patrícia, onde a marosca não entrou, os cães azuis são bicolores e
depois da maturidade sexual serão de cor sensivelmente igual aos dos comuns
lobeiros, diferindo deles apenas no tom de cinzento sobre o dorso, podendo
gerar depois cães totalmente azuis quando beneficiados com negros recessivos em lobeiro. Estes
cachorrinhos, que têm agora os olhos azuis ou verdes, por volta dos 4 meses
mudarão a sua cor para castanho claro ou a castanho esverdeado. Ainda que não
esperasse e não soubesse, a Patrícia acabou por descobrir aquilo que os livros
dizem, que a raça evoluiu das variedades unicolores para as bicolores. E porque
importa educar a vista para melhor compreender, iremos servir-nos das fotos
enviadas, porque são reveladoras, para descobrir alguns segredos relativos à
genética e ao futuro dos cachorros, que normalmente escapam aos menos
conhecedores.
Comecemos
pelas cabeças. Os “stops” não são homogéneos (a angulação entre o focinho e o
crânio), havendo cachorros com maior angulação do que outros, que virão a ter
uma cabeça maior e mais ossatura em adultos, o que prova a divergência de
linhas dos seus progenitores e o peso da variedade negra. Dum modo geral a
implantação das orelhas dos cachorrinhos é alta, porque a sua base se situa
acima da linha da pálpebra superior, o que facilitará a erecção das orelhas sem
maior problema. A sua máscara manter-se-á por mais tempo do que a visível nos
pastores actuais (muitos deles perdem-na antes dos dois anos de idade). Se o
preto lhes garante a perpetuação da máscara, o preto-afogueado que lhes serviu
de progenitor fará com que a cor afogueada cresça rapidamente, facto por demais
visível na coloração dos peitos. Pelo que nos é dado a observar, pela
configuração dos focinhos, que não dispensa a certificação, não se evidenciam
prognatismos. Todos os exemplares apresentam, como é desejável, o chanfro nasal
abatido. A existência de dois tons de afogueado na ninhada denuncia a presença
de lobeiro nos dois progenitores, já que essa variedade cromática tende a
diluir todas as cores, exceptuando a red sable. Pela altura dos metacarpos
antevêem-se indivíduos médio-grandes e alguns francamente grandes, considerando
o tamanho e a idade dos cachorros. As suas mãos são de um “pé de lebre” pouco
pronunciado, porque os dois dedos centrais são pouco destacados em relação aos
laterais, o que indicia a presença de membranas interdigitais redondas e mais
chegadas à frente, anatomia ligada à proto-selecção e que os capacitará para
iguais prestações em diferentes tipos de piso. A presença de riscos negros
sobre os dedos, que neste caso acabarão por desaparecer, demonstra a sua
ascendência na variedade negra, que como se sabe é recessiva. A ninhada da
Patrícia juntou o antigo ao moderno. Oxalá essa lufada de saúde se estenda às
articulações dos cachorros, porque seguros são eles e se o são, serão fáceis de
ensinar, porque doutro modo jamais ficariam todos sossegados em cima do
armário.
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