terça-feira, 1 de abril de 2014

OS CACHORROS AZUIS DA PATRÍCIA: FOTOS REVELADORAS

A Patrícia Moreira, uma leitora do nosso Blog, enviou-nos duas fotos relativas a uma ninhada de Pastores Alemães da sua criação, produto da sua pastora negra com um cão preto-afogueado. Dos oito cachorros nascidos, dois nasceram cinzentos (azuis), o que muito a espantou e obrigou a procurar informação, já que desconhecida a existência desta variedade cromática nos Pastores Alemães e por causa disso nos contactou. Durante uma dezena de anos produzimos cães azuis, unicolores e bicolores, chegando a eles pelos beneficiamentos entre negros e lobeiros, ao contrário doutros menos sérios, que se valeram de cães brancos para os alcançar, mesmo em países onde a variedade branca se encontra catalogada como Pastor Suíço. No caso dos cachorros da Patrícia, onde a marosca não entrou, os cães azuis são bicolores e depois da maturidade sexual serão de cor sensivelmente igual aos dos comuns lobeiros, diferindo deles apenas no tom de cinzento sobre o dorso, podendo gerar depois cães totalmente azuis quando beneficiados com negros recessivos em lobeiro. Estes cachorrinhos, que têm agora os olhos azuis ou verdes, por volta dos 4 meses mudarão a sua cor para castanho claro ou a castanho esverdeado. Ainda que não esperasse e não soubesse, a Patrícia acabou por descobrir aquilo que os livros dizem, que a raça evoluiu das variedades unicolores para as bicolores. E porque importa educar a vista para melhor compreender, iremos servir-nos das fotos enviadas, porque são reveladoras, para descobrir alguns segredos relativos à genética e ao futuro dos cachorros, que normalmente escapam aos menos conhecedores.
Comecemos pelas cabeças. Os “stops” não são homogéneos (a angulação entre o focinho e o crânio), havendo cachorros com maior angulação do que outros, que virão a ter uma cabeça maior e mais ossatura em adultos, o que prova a divergência de linhas dos seus progenitores e o peso da variedade negra. Dum modo geral a implantação das orelhas dos cachorrinhos é alta, porque a sua base se situa acima da linha da pálpebra superior, o que facilitará a erecção das orelhas sem maior problema. A sua máscara manter-se-á por mais tempo do que a visível nos pastores actuais (muitos deles perdem-na antes dos dois anos de idade). Se o preto lhes garante a perpetuação da máscara, o preto-afogueado que lhes serviu de progenitor fará com que a cor afogueada cresça rapidamente, facto por demais visível na coloração dos peitos. Pelo que nos é dado a observar, pela configuração dos focinhos, que não dispensa a certificação, não se evidenciam prognatismos. Todos os exemplares apresentam, como é desejável, o chanfro nasal abatido. A existência de dois tons de afogueado na ninhada denuncia a presença de lobeiro nos dois progenitores, já que essa variedade cromática tende a diluir todas as cores, exceptuando a red sable. Pela altura dos metacarpos antevêem-se indivíduos médio-grandes e alguns francamente grandes, considerando o tamanho e a idade dos cachorros. As suas mãos são de um “pé de lebre” pouco pronunciado, porque os dois dedos centrais são pouco destacados em relação aos laterais, o que indicia a presença de membranas interdigitais redondas e mais chegadas à frente, anatomia ligada à proto-selecção e que os capacitará para iguais prestações em diferentes tipos de piso. A presença de riscos negros sobre os dedos, que neste caso acabarão por desaparecer, demonstra a sua ascendência na variedade negra, que como se sabe é recessiva. A ninhada da Patrícia juntou o antigo ao moderno. Oxalá essa lufada de saúde se estenda às articulações dos cachorros, porque seguros são eles e se o são, serão fáceis de ensinar, porque doutro modo jamais ficariam todos sossegados em cima do armário.

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