Eles
fizeram-no! A Câmara de Lisboa pôs finalmente à disposição dos munícipes
proprietários caninos dois parques para o exercício e sociabilização dos seus
animais, um em Benfica e outro no Jardim Romântico do Campo Grande, agora
melhorado, mais asseado mas menos romântico por estreitaram e encurtaram a sua
atracção principal: o lago. A abertura do espaço aconteceu em Novembro do ano
passado, quando menos se esperava e quando os mais cépticos julgavam ser
impossível. Dele constam uma passerelle própria para todos os cães, um túnel de
execução binomial, três verticais de 50cm consecutivas, apertadas e em curva
para a direita, uma mesa e meia dúzia de postes que tanto possibilitam o slalom
dos cães como os dos binómios. A delimitação do espaço é apropriada e a sua
área seria aceitável se não se encontrasse já hoje super-povoada. O piso peca
por falta de drenagem mas sobra sombra para o bem-estar de donos e cães.
O que é de louvar, apesar de
tardio e ser único, é o bebedouro para os cães, apropriadamente colocado fora
do recinto, elaborado em inox e bem concebido, considerando a sua altura,
desenho, dimensões e higiene. Faltam outros pelos jardins da Capital, como
estranhamente faltam bebedouros para os viandantes e turistas nos muitos
jardins que Lisboa tem para oferecer. Quem optar por se deslocar a pé de Lisboa
para Cascais ao longo da marginal, desprezando o “passeio marítimo”, apesar dos
muitos jardins que terá pela frente, vai sentir essa falta, porque os
chafarizes não existem, estão desactivados, avariados ou simplesmente alguém
lhes deu sumiço, pelo que se lamenta que a água salgada seja imprópria para
beber.
No nosso modesto entender, que
outros mais doutos terão outro parecer, nem que sejam doutores por andarem
carregados de livros e executores por conta do partido, diante do número de
cães existente na Capital, urge multiplicar os espaços a eles destinados, até
porque o seu número é bem maior do que o número de ciclistas de fim-de-semana e
dos tenistas nas horas vagas ou no final do dia, tanto isolados quanto somados.
Seria de todo conveniente, agora que existe essa sensibilidade, que se
procedesse à construção de um parque canino igual na primeira metade do Jardim
do Campo Grande, aquela que vai da rotunda do Monumento à Guerra Peninsular até
à transversal que dá acesso à Avenida do Brasil, a mesma que comporta as
desprezadas piscinas municipais, porque muitos dos munícipes que têm cães são
idosos e há muito que deixaram de ser “papa-léguas”, ainda que gostassem de
continuar a sê-lo, porque assim melhor se distrairiam do assalto às suas
pensões.
E porque não levar a cabo
iguais espaços em Monsanto, uma vez que cães e espaços verdes combinam
plenamente? Será que os senhores autarcas que sobre nós governam ignoram que os
cães precisam de pistas de manutenção e que a cinoterapia é importante para a
saúde e bem-estar das pessoas? Em Monsanto os incómodos seriam menores, os
parques poderiam ser maiores e melhor equipados, não havendo lugar a choque
ambiental e a corte de árvores, reduzindo-se em simultâneo o risco de
incêndios. Quer os senhores autarcas se lembrem disso ou não, quiçá não têm
conhecimento, grande é número de pessoas com cães que ali se desloca
diariamente, em rota de colisão com apaixonados, piqueniqueiros, cavalos, pedestres
e ciclistas, numa molhada vândala que à cautela põe todos à espreita!
Não
queremos usar frases gastas ou pensamentos por demais utilizados, como aquele
atribuído a Ghandi que diz conhecer-se a grandeza de uma nação pelo modo como
trata os seus animais, porque se tornaram por demais conhecidos e banalizados,
mas agrada-nos de sobremaneira que a Câmara de Lisboa se tenha lembrado dos
cães dos seus munícipes ao ponto de mandar construir-lhes dois parques,
infra-estruras que nunca vimos nos países muçulmanos que visitámos e que por
ali causariam certamente alguma estranheza. Sempre nos batemos pela existência
desses espaços e vamos continuar a fazê-lo até que todos tenham acesso a um
recinto público para os seus cães, porque é injusto, irrisório e abusivo cobrar
licenças sem ter nada para dar em
troca. De qualquer modo, pese embora a delonga, a Câmara de
Lisboa está de parabéns e espera-se que as câmaras de outras cidades do País sigam
o seu exemplo.
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