quarta-feira, 30 de abril de 2014

AVANTE JAVALIS E COELHOS

Não temos por norma comentar notícias vindas nos jornais diários, muito menos as publicadas pelo “Correio da Manhã”, porque são por norma sensacionalistas, ausentes de algum rigor e destinadas a quem se deleita com as telenovelas. Mas como a notícia metia cães e alguém nos chamou à atenção, lá acabámos por lê-la, esforço recompensado para hilaridade que nos ofereceu. Ao que consta, e isto não tem graça nenhuma, um tal de Manuel Baltazar, lá para os lados de São João da Pesqueira, tratado como “monstro” nas crónicas e presumível autor de um duplo homicídio e de mandar mais duas mulheres para o hospital (as assassinadas foram a sua sogra e uma tia e as hospitalizadas a ex-mulher e a filha), continua a monte e a polícia tarda em lhe deitar a mão. A notícia de primeira página dizia: “ CÃES DO MONSTRO NA CAÇA AO DONO”, o que acabou também por espevitar-nos a curiosidade.
Ao que parece e não sabemos de que iluminado partiu a ideia, a polícia serviu-se de três cães de caça do presumível assassino para o encontrar, ignoramos a raça de dois deles mas o captado perfila-se um Podengo, raça muito usada na caça a salto ao coelho. Toda a gente sabe e os caçadores em particular, que os podengos nacionais destinados à actividade cinegética valem mais pelo instinto do que pelo apego aos donos, caçando normalmente em matilha, sendo comum vê-los perdidos e a deambular pelas estradas, porque se afastam demasiado dos caçadores, mesmo com a caça à sua frente. A maneira como são tratados também obsta à cumplicidade desejável, uma vez que passam a maior parte do tempo acorrentados ou encerrados em míseros canis, sendo por norma transportados em reboques ricos em exíguas jaulas, invariavelmente de chapa e superlotadas. Não nos parece que os cães do agora a monte Manuel Baltazar houvessem alcançado melhor tratamento, atendendo à idade do homem, à tradição e ao modo como eventualmente tratou os seus familiares. Diante destes factos era mais do que sabido estar tal caça condenada ao fiasco, como veio a acontecer. Empenhada em capturar o homem, a GNR mandou agora avançar a cavalaria.
A opção da polícia por aqueles cães na caça ao homem, a ser verdade, mais parece uma iniciativa típica do Entrudo ou uma acção levada a cabo por um aldeão tido como “esperto”, que expõe ao ridículo as forças da autoridade e que não esconde o seu desespero. Um leitor do “Correio da Manhã” on-line tornou público o seu comentário à notícia, sem contudo saber que ele viria a ser o mais votado. Depois de questionar a polícia da possibilidade de usar outros cães, de rotular a sua acção de vergonhosa e de considerar que o presumível homicida lhe tem dado “bailinho”, aquele leitor avança com novas soluções, sendo uma delas esperar pelo Verão para lançar fogo à mata, porque o homem ou morrerá queimado ou então terá que sair lá. Como última opção adianta que a polícia se alie aos javalis e aos coelhos, já que o foragido é caçador (ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/caes-do-monstro-na-caca-ao-dono). Depois do que ele disse, nada mais temos para dizer, todavia estranhamos a presença dos jornalistas no meio daquelas operações, seriam eles avisados, estariam ali de férias ou cairiam ali de pára-quedas? Independentemente do caso, uma coisa é certa: a polícia saiu mal na fotografia.

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