O medo e
euforia são sentimentos que depressa avassalam as gentes. A euforia tem curta
duração e o medo tende a perpetuar-se. E nisto, homens e cães não diferem
muito, ambos temem o castigo e aprendem com as experiências negativas. No
entanto, os homens esquecem-se mais depressa do bem que lhes é feito pelo mal
que sofrem, enquanto nos cães parece acontecer exactamente o contrário. Talvez
por isso, por causa da gratidão, os lobos familiares sejam mais fiáveis, merecedores
de maior confiança. Como todos tememos e provocamos medo, rotula-se de alienado
todo aquele que o não tem, muito embora a sua presença se revele de várias
formas nos indivíduos, já que pode levar os fracos ao pânico e os fortes à
cautela. O mesmo sucede nos cães.
Nas sociedades democráticas, governadas por outro
peso que não o medo, são os meios de informação que dão o aviso, lançam o
alerta e que por vezes semeiam o pânico. Com a chegada da Internet e do grosso
da sua informação, muitos temores entram pelas nossa casas adentro e levam a
sociedade a várias tomadas de posição. Exemplo disso, entre tantos, foi o que
se convencionou chamar de “Primavera Árabe”. Consultar artigos da Internet sem
inquirir das suas fontes é uma tolice bárbara, é tomar por certo o errado e daí
colher as consequências. Uma senhora idónea, esclarecida e acautelada, proprietária duma cadela que não deseja ver
castrada, resiste em tirar uma ninhada dela, porque muitos lhe dizem que o
animal, após a gestação, o aleitamento e a criação dos cachorros, por força do
instinto maternal ou do exercício da maternidade, irá ficar mais agressivo, agravo
que a dona teme e não deseja.
Justifica-se
a preocupação desta nossa leitora perante a cinofobia que por aí vai,
alimentada em simultâneo por quem a sofre e por quem ganha com ela, porque há
sempre quem lucre com as guerras, tanto na logística como no mercado negro,
porque não é raro o empobrecimento de muitos levar ao enriquecimento de uns
tantos.
Considerados os ataques caninos perpetrados na
Europa, os inusitados e tornados públicos, raríssimos foram aqueles levados a
cabo pelas fêmeas. E quando aconteceram, aconteceram mais pelo instinto à
defesa do que ao da luta, o que a ninguém espanta, já que as cadelas não
apresentam por norma indícios desse impulso herdado, que é típico e está presente
nos machos. Nos dois casos conhecidos, acontecidos na estranja, eles sucederam
como resposta a uma invasão de propriedade. As notícias que vêm a lume em
Portugal, por ausência de rigor e de know-how,
o que obstaria ao sensacionalismo pretendido, não deverão ser consideradas até
à conclusão dos respectivos inquéritos, pois já ouve um caso em que acusaram
uma matilha de cães de ter morto uma criança e depois se vir a descobrir que
ela havia sido colocada já morta no meio
deles. Atendendo ao escalonamento das matilhas caninas, capitaneadas por um
macho, é possível que as cadelas avisem ou ataquem primeiro segundo a
hierarquia que sustenta o grupo, já que naturalmente são elas a dar o mote
(sinal), vindo depois os machos em sem auxílio “com tudo a que têm direito”. As
cadelas não saiem prá rua a distribuir dentadas, mas podem defender-se e
defender os seus donos quando provocadas ou se sentirem ameaçadas. E mesmo
nestes casos, irão necessitar de treino específico, que nem sempre é bem
sucedido, muito embora existam raças e
indivíduos mais propensos para tal.
Cientes
disto e por apego aos cães, entendemos que a dita senhora deverá fazer uma
ninhada com a sua cadela, porque daí não virá grande mal ao mundo. Apadrinhamos
a ideia porque entendemos que a maturidade emocional das fêmeas se completa com
o exercício da maternidade. Por outro lado, estamos fartos, fartíssimos de ver
cadelas taradas por ausência da maternidade, todo um conjunto de máculas que
potencia o ciúme e pode chegar até à curiosa pseudociese (gravidez
psicológica), fenómeno carente de tratamento e geralmente pouco considerado. E
se outras razões não nos sobrassem, bastará dizer que o exercício da
maternidade muito tem ajudado na recuperação das fêmeas mais submissas e
inibidas, dotando-as da confiança necessária para o trabalho e para a inserção
em matilhas que se desejam unidas num só propósito.
Sem comentários:
Enviar um comentário