sexta-feira, 26 de abril de 2013

ÀS CADELAS APRESSADAS NASCEM OS FILHOS CEGOS

Olhando para trás e relembrando os milhares de condutores que instruimos, é impossível esquecer o “grupo dos apressados”, gente apostada na brevidade do treino, pródiga em bitaites e confiada em palpites, que apenas queria que o seus cães lhe obedecessem e que desaparecia quando se via satisfeita, sem compreender que o adestramento se baseia na permuta entre o serviço dos cães e a protecção que lhes devemos. Subsiste entre nós uma corrente filosófica de cariz popular que poderemos alcunhar de “nacional-porreirismo”, baseada no descuido e em consensos que não levam a parte alguma, como se o Mundo fosse cor-de-rosa e tudo acabasse em bem. Essa irreflexão, própria dos imprudentes, que nada acautela, prepara, evita ou antevê, quando transportada para o adestramento e estendida aos seus mestres, acaba por vitimar os cães e condenar alguns à morte.
Estamos a falar da “recusa de engodos”, tarefa prioritária do ensino canino e indispensável para os cães de guarda, mais-valia que deve também ser extensível àqueles que vivem a maior parte do tempo sozinhos, quer se encontrem em varandas, quintais ou grandes propriedades. Os cães que são soltos nos jardins devem ser objecto da mesma capacitação, porque o perigo ronda e nem todos gostam deles. A recusa de engodos compreende duas metas para o alcance do objectivo final: a não aceitação de comida dada por estranhos e o desinteresse por aquela que é jogada no chão. Primeiro treina-se na presença do dono e depois na sua ausência, mercê da experiência negativa que facilita a inserção do comando de “perigo”. O treino começa na escola e estende-se ao lar, necessita de recapitulação e deve acontecer duas vezes por semana. Os iscos devem ser variados, os horários alternados e as armadilhas dissimuladas. Os “apressados” nunca tiveram tempo para isto e os confiados sempre desconsideraram a existência do perigo, o que nos remete para o provérbio: “às cadelas apressadas nascem os filhos cegos”. Até quando continuaremos a ensinar habilidades e a colocar a vida dos cães em risco? Será preciso que morram mais? Anteontem morreu um envenenado, amanhã poderá ser o seu! Será que isso só acontece aos cães dos outros? Há que acordar para a realidade que nos cerca.

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