quarta-feira, 10 de abril de 2013

DOS CÃES QUE NÃO DEIXAM OS DONOS SAIR DE CASA

Alguém deve andar por aí a dar falsas informações ou a induzir instruendos ao engano, porque a dominância canina está na ordem do dia e tudo lhe é atribuído. A moda tem destas coisas, uns vestem calças a cair pelo rabo abaixo e outros divertem-se a ensinar cães. Tempos houve em que a mioleira de carneiro foi considerada a melhor dieta para os bebés e ainda há quem enrole os pés para que não cresçam! Vamos desenrolar o caso.
Um jovem a ganhar um salário mínimo, num emprego descontraído e pouco cansativo, tendo noção do custo de vida e não sendo um trabalhador especializado, dedica-se nas horas vagas ao ensino de cães, actividade paralela que lhe garante algumas centenas de euros extra. Segundo ele, o seu trabalho assenta sobre a obediência básica e a resolução de problemas comportamentais. Neste momento tem um problema com um cão que não deixa os donos sair de casa, porque se agarra deseperadamente às suas pernas, “o que é sem dúvida um problema de dominância”, como nos nos fez saber.
Ainda antes de passarmos ao comentário do caso, queremos adiantar outro, o acontecido há uns anos com um pastor alemão, este sim verdadeiramente dominante, que após a saída do dono e sem treino específico para isso, não consentia que a dona saísse depois do marido, rosnando-lhe e jogando-a ao chão, mordendo-lhe caso ela insistisse. A pobre senhora via-se obrigada a saltar o muro das traseiras para ir trabalhar, perante o incómodo da situação e diante da hilaridade dos vizinhos. O marido podia sair à vontade e quando quisesse, antes ou depois, a esposa só se saísse primeiro! Depois passou a fazer o mesmo com a mulher-a-dias, que podia entrar a qualquer hora, só podendo sair depois da chegada dos donos. A pobre coitada que nem pensasse em tocar nos acessórios do cão ou na secretária do dono, e muito menos lhe consentia que o olhasse nos olhos, apesar de a seguir por toda a parte e de procurar o enfrentamento. Estes incidentes trouxeram-no até nós. Fora da presença do dono, tardiamente aceitou a nossa autoridade, porque a bem abusava e a mal ripostava. Saíu perfeito, deixou marcas e saudades!
Já no caso do nosso jovem, que nos perdoem a ignorância, apesar da dominância derivar gradativamente do impulso ao poder de cada indivíduo, tendo por isso diferentes apresentações ou manifestações, não nos parece que o cão demonstre qualquer tipo dela, tanto genética quanto adquirida. Ao invés, estamos em crer que se trata de um indivíduo ansioso, mal instalado e piegas, cuja maturidade emocional não aconteceu ou tarda em chegar. E depois, os cães verdadeiramente dominantes, não se manifestam somente numa circunstância particular, mas em todas aquelas em que se vêem ou sentem contrariados, não se escusando a meios para impôr a sua vontade. Eles não suplicam, reagem contra e afirmam-se, enfrentam e não temem, resistem sem pruridos e confiam na sua supremacia. Já os induzidos a isso (à dominância), pela ficção forjada pelo condicionamento, tendem a abandonar esse comportamento por ausência de condições, diante da novidade ou perante a surpresa de um fim inesperado. Bem sabemos que “há que fazer render o peixe” e que o papão do bicho mau anda por aí de boca em boca!

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