sexta-feira, 26 de abril de 2013

O ESTRANHO ANÚNCIO DOS PASTORES ALEMÃES CASTANHOS

Quando chegámos ao Oeste da Estremadura portuguesa ninguém conhecia outra variedade cromática do Pastor Alemão a não ser a bicolor preto-afogueada. Volvidos vinte e dois anos, qualquer saloio que se preze, quando inquirido acerca dos cachoros que tem para venda, logo dirá: “qual é a variada cromática que o senhor procura?” De um momento para o outro, assim se passou também com as urbanizações, as variedades recessivas da raça multiplicaram-se nos Concelhos ao redor de Lisboa, numa altura em que o lobeiro estava fora de moda e os cães negros eram entendidos como Pastores Belgas. O entusiasmo da novidade foi tão grande que o número de criadores do Cão de Pastor Alemão aumentou a um ritmo nunca visto naquelas paragens, particularmente numa década, a de noventa, em que o dinheiro parecia cair das árvores e nunca mais acabar. Das capoeiras doutrora começaram a sair cães unicolores negros, vermelhos e cinzentos, grande variedade de lobeiros, vários exemplares de pêlo comprido e um número ainda maior de cães para exposição. Inevitavelmente, esse aumento das distintas variedades induziu à proliferação das escolas caninas, na relação fácil entre a criação e o adestramento. Igual fenómeno aconteceu em menor escala por todo o litoral português, ainda que desacompanhado do indispensável conhecimento erudito, o que muito tem contribuído para a elevada ignorância relativa à formação e selecção das distintas raças caninas.
Exemplo do que acabámos de dizer, é o estranho anúncio dos pastores alemães “castanhos” à venda na Internet. Ao olharmos para a fotografia adiantada, apesar da má qualidade da imagem, rapidamente concluímos tratar-se de pastores alemães bicolores “chocolate”, entendidos na língua inglesa como “liver” (fígado). Esta variedade cromática é pouco comum e a unicolor que esteve na sua origem ainda é mais, por força da procura e obtenção da actual variedade dominante. Para que estes cachorros surjam, é necessário que ambos os progenitores sejam recessivos nessa variedade ou que um deles seja chocolate e o outro recessivo nisso. O retorno à variedade unicolor passará pela contribuição de um progenitor de qualquer cor, desde que unicolor e recessivo nessa variedade cromática. Estes cachorros nascem com os olhos azuis ou verdes e mudam a sua cor por volta dos 4 meses, passando a diferentes tons de amarelo (esverdeado ou alaranjado), sendo mais claros ou mais escuros segundo a intensidade da cor do seu manto. A variedade é precoce e lembra o negro, é mais robusta do que ele e sofre os mesmos horrores com o calor. Não avisa muito e intimida pelo contraste entre os olhos e o manto, dotando os cães de um olhar frio que pode ser mal entendido como desconfiado. Em tudo o resto são iguais aos outros Pastores Alemães, apesar de mais depressa pararem o trânsito do que os demais, devido à raridade e ao deslumbre da sua cor. Quantos já não terão sido eliminados para encobrir uma pretensa bastardia ou degeneração? A ignorância tem destas coisas!

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