Nunca
tantos “anjinhos” andaram à bulha nos parques e jamais se ouviu amiúde a frase:
“eles entendem-se”, porque sociabilizar virou palavra de ordem e a Lei tem mão
pesada. Toda a gente tenta sociabilizar os seus cães e são poucos os que sabem
como fazê-lo. Como resultado disso, muitos cachorros acabam agredidos e poderão
adquirir traumas de dificil eliminação. Como a sociabilização tem regras, ela
está muito para além da coabitação forçada entre dois ou mais cães, pois
depende de condições, precisa de ser
vigiada, obriga a cuidados, não acontece gratuitamente, necessita de
reavivamento e não surge por decreto dos donos ou pela boa vontade dos animais.
A melhor
das sociabilizações entre cães ou com outros animais domésticos acontece logo
após o desmame dos cachorros, altura em que aceitarão como congéneres os
restantes animais com quem irão dividir o mesmo espaço. Caso esse prazo já
tenha sido ultrapassado, convém que a sociabilização anteceda os seis meses de
idade e a maturidade sexual dos infantes, para que a luta pelo poder e a
irreverência própria da idade não obstem àquilo que procuramos. Por outro lado,
cães castrados neste período, dificilmente manifestarão comportamentos
antissociais. Sempre será mais fácil sociabilizar dois cachorros do que dois
cães adultos e os adultos, por norma, respeitam os cachorros até aos dez meses
de idade, porque não vêem neles qualquer tipo de ameaça. Normalmente as fêmeas
são mais difíceis de se sociabilizar entre si devido ao impulso à defesa. Um
cachorro criado ao lado de um cão adulto bem sociabilizado, tende a manifestar
o mesmo comportamento e o inverso, infelizmente, também sucede com alguma
frequência.
Que ninguém se engane: a sociabilização como a
entendemos, não é um acto natural canino e não acontece sem a interferência
humana, porque a hierarquia nas matilhas é advinda da lei do mais forte, os
cães são predadores, têm instintos de caça e presa, são territoriais,
competitivos e prontos para o assalto ao poder, condições estas que obrigam os
homens a estabelecer-lhes regras, o que nos leva a dizer que não existe
sociabilização objectiva sem condicionamento prévio nesse sentido, apontando a
sua primeira meta para a familiarização dos indivíduos. Como em tantas outras
coisas no adestramento, também aqui começamos pelo trabalho à trela e fazemo-lo
para o reforço da liderança, porque só ela conseguirá impedir as futuras
escaramuças. Depois seguir-se-ão um conjunto de manobras de sociabilização
animal a desenvolver em classe, primeiro à trela e depois com os cães em
liberdade. Apesar de muito visto, é errado lançar uma só bola ou brinquedo para
dentro dum grupo de cães que se desconhece, porque o acessório jogado pode
constituir-se em motivo de discórdia, num rastilho para o despoletar da
violência fratricida.
A
sociabilização canina é indispensável a qualquer disciplina cinotécnica, um
pré-requisito de valor inestimável e deve contemplar três objectos, a saber: as
pessoas, os outros cães e os restantes animais domésticos. Todo o cão que não
se encontra completamente sociabilizado, jamais se poderá considerar
correctamente ensinado. É importante não esquecer que os cães não ficam para
sempre sociabilizados e que convém reavivar-lhes, ciclicamente, as regras de
convivência que melhor garantem a sua inserção na sociedade.
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