sábado, 7 de agosto de 2010

Um velho e duro inimigo: a processionária dos pinheiros

A Processionária dos Pinheiros (Thaumetopoea Phityocampa Schiff.), vulgarmente conhecida nos meios rurais como “Bicho do Pinheiro” ou “Lagarta do Pinheiro”, é um insecto desfolhador, que pode parasitar todas as espécies de pinheiros e cedros, é extremamente nocivo para as árvores e altamente perigoso para pessoas e animais, particularmente quando em lagarta, graças aos seus pêlos urticantes que injectam substâncias tóxicas na pele e nas mucosas de grave consequência para a saúde pública. O contacto com os pêlos urticantes da processionária, consoante os cães os pisem, cheirem, abocanhem ou comam, pode causar-lhes problemas tais como: conjuntivite (inflamação da conjuntiva ocular), queratite (inflamação da córnea do olho), focinho inchado, língua grossa (macroglossia), língua azul (cianótica), babar intenso (hipersiália e sialorreia), vómitos, comichão e dor intensa. Esporadicamente pode também provocar tosse, dificuldades respiratórias ou asfixia. A demora no tratamento, geralmente associada à ignorância e pouco reparo dos donos, que os levam a confundir ou a desconsiderar os sintomas, pode provocar, dependendo do tempo decorrido e da quantidade de alergeno recebido, a necrose da língua, dos lábios e até cegueira, incapacidades que impedirão os animais de se alimentar e que poderão induzir ao seu abate conforme a gravidade das lesões. A ida rápida e pronta para o veterinário torna-se indispensável, porque o tempo corre a desfavor do cão.

É geralmente no final do Inverno e no princípio da Primavera, nos meses de Março, Abril e Maio, que as lagartas da processionária abandonam as árvores e iniciam a sua conhecida “procissão”, encabeçadas por uma fêmea, rumo ao solo, onde em grupo começam a escavar. Dali sairão já borboletas no Verão, apesar dessa fase subterrânea poder prolongar-se até 3 anos. A maioria dos acidentes acontece nesta altura (meses de Março, Abril e Maio), mas pode também acontecer no Verão, quando as colónias descem ao solo para depois treparem para outros pinheiros em busca de alimento. A presença da processionária nas árvores é facilmente detectada pelos grandes casulos que constroem, de cor branca ou amarelada, normalmente dispostos sobre os seus píncaros ou nas extremidades mais altas, não raramente depauperadas de folhas (agulhas dos pinheiros). Existem vários meios para combater esta praga e o Ministério da Agricultura tem vários trabalhos publicados na Internet onde os descrimina. Não obstante, sobressai a questão económica e são raros os proprietários florestais que dão combate à praga. Aconselhamos aos nossos leitores, que têm pinheiros ou cedros no quintal, a colocação de cintas nessas árvores, de papel ou de plástico, embebidas nas suas duas faces com uma cola inodora à base de poli-isolbutadieno, para que as lagartas ao descerem fiquem ali coladas. Esta cola encontra-se à venda nas lojas dedicadas à agricultura e os seus técnicos darão indicações detalhadas para a sua colocação. Entretanto, caso veja essas lagartas no chão, proceda à sua eliminação pelo fogo, usando para o efeito um produto altamente inflamável (petróleo, diluente celuloso, etc.). Caso não exista o perigo de contacto com os outros animais e você seja sádico quanto baste, pode seguir o exemplo do nosso amigo Jean-Henri Fabre, grande entomologista, etólogo e naturalista francês, já nosso conhecido e de quem tomámos lições. Ele descobriu que as larvas da processionária marcham sempre em fila por efeito congénito, cada uma delas procura não se separar da que vai na frente, deslizando sobre o fio deixado por esta atrás de si (geralmente uma fêmea). Com uma à frente a marcha é tranquila e confiante, porque só a ela cabe examinar o terreno. Fabre fê-las marchar em círculo e elas acabaram por esgotar as suas reservas de gordura e perecer.

Pelas razões acima expostas, já não é bom ter uma escola canina junto a um pinhal, mas pior do que isso é plantar pinheiros ou cedros no seu perímetro. Há quem goste de fazer canis ao redor das árvores, o que nos parece óptimo, desde que as árvores sejam de folha perene, não sejam tóxicas e não chamem pragas. Quando escolher a flora para o seu jardim, não o faço de modo arbitrário, considerando somente a estética e o seu gosto pessoal, lembre-se que tem um cão e que muitas plantas, por mais bonitas que sejam, podem ser altamente tóxicas. A “santa” Internet já disponibiliza essa informação, adiantando quais as plantas mais nocivas para as pessoas e para os animais, quer por contacto, inalação ou ingestão. Não se esqueça: o pinheiro do vizinho encostado ao nosso muro pode dar-nos pinhões, mas também nos pode dar grandes arrelias e ser fatal para alguém. Alerte a sua vizinhança para o problema, aconselhe-a a colocar cintas nos pinheiros e cedros, isso pode salvar vidas, valer às crianças e aos animais domésticos. E o que dizer do meu cão a correr, livre e feliz, por um grande pinhal, sem eu ter batido previamente o território? Ao entrar num pinhal, nem que seja só para “piquenicar”, não se abrigue debaixo da copa de uma árvore, sem antes olhar para ela e para o chão que a circunda.

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