sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cães alheios & crianças (grandes e pequenas): regras de convivência

Os ânimos acalmaram, as notícias são cada vez mais raras, a crise económica tomou conta das manchetes, mas o holocausto dos cães continua. No passado recente eram frequentes as notícias e reportagens sobre cães que atacavam crianças, um pouco por toda a parte, como se as feras houvessem descido às cidades, tomadas de raiva e reclamassem os seus distantes territórios de caça. Descriminaram-se raças, catalogaram-se donos, lançou-se o pânico e muitos cães acabaram abatidos, perigosos ou não, porque o medo a isso obrigou, pelo parecer social e pela denúncia dos vizinhos. E no calor dessa azáfama inquisitorial, a desconsideração dos factos reinou e a turba encontrou um bode expiatório para os seus sentimentos mais mesquinhos, constitui-se em milícia e deu caça ao lobo familiar, segundo a ultrapassada visão medieval que tomava o todo pela parte. Não temos dúvidas que muitos cães foram abatidos injustamente, vítimas de regras que desconheciam e de outras tantas que lhes foram impostas, tanto ambientais quanto genéticas. A coabitação com os cães não pode ser arbitrária, carece de regras, porque são animais e ainda conservam muitas características atávicas, inclusive algumas de recente e procurada infusão. E porque importa salvaguardar as crianças e respeitar os cães alheios, exactamente como as alertamos para outros perigos, adiantaremos em seguida um conjunto de regras com esse duplo propósito, também elas válidas para os adultos.

A. NA VIA PÚBLICA (Calçadas, Jardins, Esplanadas, Passeios Pedestres, Florestais, etc.).

1. Quando pretender acercar-se de um cão conduzido pelo dono, dirija-se primeiro ao proprietário e não directamente ao cão, para não ser tomado por intruso e acabar escorraçado.
2. Nunca se aproxime de um cão pela retaguarda e sem o dono deste se aperceber, porque naturalmente o animal será levado à defesa do seu proprietário.
3. Pelas mesas razões, nunca apareça de surpresa.
4. Nunca se apresente munido de um pau, uma vara ou algo parecido, porque o cão pode compreender isso como uma ameaça e reagir de acordo com o seu particular psicológico.
5. Nunca faça festas a um cão sem o consentimento do dono, porque essa relação íntima é pertença sua e a quem ele a delegar. Existem cães que pura e simplesmente desprezam e abominam as carícias de terceiros.
6. Se apesar do consentimento, você tiver algum pânico de cães, não lhes faça festas, o seu receio pode ser mal entendido e constituir-se em presa.
7. Evite fixar o olhar directamente sobre o cão, porque existem cães que tomam isso como uma afronta ou ameaça, o cão nasceu para observar e detesta ser observado.
8. Não corra nem grite na frente dos cães alheios, pois pode ser confundido e acabar perseguido, graças ao impulso ao movimento canino que despoleta os inerentes à perseguição e captura.
9. Não abrace o dono ou os seus acompanhantes inesperadamente, porque o cão poderá interpretar isso como uma ameaça e defender quem o acompanha.
10. Não importune um cão enquanto ele come, espere que ele acabe de comer e espere pela sua disponibilidade, já que os cães defendem o seu alimento.
11. Não pegue ou furte os brinquedos e demais acessórios do cão sem autorização do seu proprietário. Do mesmo modo, não deverá mexer nos pertences do seu condutor, porque o animal, dependendo do grau da sua territorialidade, poderá tratá-lo asperamente e confundi-lo com um vulgar larápio. 12. Alerte os donos dos cães quando ao seu redor intentar que os seus filhos joguem à bola, patinem ou andem de bicicleta.
13. Não se dirija a um cão atrelado com outro animal doméstico, com outro cão inclusive, porque o animal pode não estar sociabilizado e atacar aquele que você transporta. Os cães ao lado dos donos ficam com “as costas quentes” e podem tornar-se mais agressivos.
14. Não faça festas aos cães dentro dos automóveis, quer eles se encontrem sozinhos ou acompanhados, porque o excessivo condicionamento contribui para o aumento da sua agressividade.
15. Não se engane, o aforismo popular que diz: “cão que ladra, não morde”, não é totalmente fiável, porque o cão pode transitar automaticamente do aviso para o ataque.
16. Quando o seu filho lhe pedir para acariciar um cão, pergunte ao dono do animal qual o modo indicado para o fazer.
17. Ensine os seus filhos a respeitar a integridade dos cães, porque isso contribuirá para a sua salvaguarda e para a sua boa imagem diante desses animais. Não são só os cães que precisam de ensino!
18. Cuidado com as máscaras de Carnaval e os seus acessórios que levam à adopção de comportamentos extraordinários, porque raros são os cães que diferenciam a ficção da realidade, particularmente se tal acontecer de modo inesperado. Certifique-se que todos os cães ao seu redor se encontram devidamente atrelados e só depois autorize a brincadeira, para que o “Zorro” saia vencedor e não com os fundilhos rasgados.
19. Quando você ou os seus filhos circularem nas florestas de bicicleta ou empreenderem qualquer tipo de cross, é de todo conveniente que escolham trajectos libertos da presença dos cães e dos seus condutores, evitando-se dessa forma perseguições inesperadas. No campo, tanto os desportistas como os proprietários de cães, tendem a ignorar as mais elementares regras de segurança, quer colidindo quer importunando-se reciprocamente, o que poderá deixará mazelas a alguém.
20. Se porventura vier a ser vítima da perseguição de um cão, tente correr o menos possível e deite-se de imediato no chão, na posição de decúbito ventral, com as pernas afastadas, com as mãos entrelaçadas a proteger a nuca e o pescoço e com os cotovelos flectidos sobre as orelhas e a face. Permaneça imóvel e respire normalmente, isso diminui os danos e pode salvar-lhe a vida. A maioria das raças caninas, tidas como guardiãs, opera por ataque frontal e dificilmente ataca alvos imóveis, a menos que alguém as tenha preparado para o efeito, o que felizmente é mais do que raríssimo. No entanto, é possível que o cão tente virá-lo, aplicando-lhe para o efeito pequenas dentadas. Nesse caso, não reaja às mordeduras, não solte gritos de dor e faça-se de morto. O pormenor das pernas afastadas dificultará os intentos do cão. Se por acaso se esquecer de todas estas regras, guarde a de ouro: nunca mexa num cão sem autorização.

B. NAS VISITAS AO DOMICÍLIO DE PARENTES E AMIGOS COM CÃES.

1. A menos que os visitemos amiudadas vezes, estabelecendo desse modo os vínculos afectivos necessários, os cães dos nossos parentes e amigos ver-nos-ão como intrusos ou invasores, porque não fazemos parte do grupo doméstico, do seu quotidiano e a nossa visita poderá obrigar à alteração das suas rotinas. Convém não esquecer e estar precavido.

2. Toque à campainha exterior e aguarde ser atendido, não entre deliberadamente pela propriedade adentro, porque o cão pode estar solto e não adivinhar quais as suas intenções.

3. Peça ao dono que o prenda e só entre depois disso se verificar, mesmo que o dono diga que não há qualquer problema, porque os cães não agem de igual modo diante de pessoas diferentes.

4. Evite abraçar efusivamente os donos da casa, empurrá-los, gritar-lhes ou destinar-lhes gestos vigorosos na presença do cão, porque ele pode confundir as suas atitudes e entender pô-lo na ordem.

5. Inquira dos hábitos domésticos do animal, não viole o seu espaço e não se aproxime dos seus pertences, porque grande número de cães são territoriais e defendem os seus haveres.

6. Se não lhe derem autorização para tal, não dê comida ou guloseimas ao cão, porque para além de estar a alterar as suas rotinas, pode estar também a contribuir para a sua eliminação.

7. Pela mesma razão, avise os seus filhos para procederem de igual modo, advertindo-os para que não deixem comida pelo chão ou ao alcance do animal.

8. Se o cão estiver solto, não circule pela casa sozinho, avance só depois de se certificar que o cão se encontra seguro ou debaixo de controlo – espere a visita guiada!

9. Evite ficar sozinho em casa com os donos no quintal, porque o animal pode enveredar por acções policiais na ausência dos donos.

10. Não se aproxime dos seus comedouros ou bebedouros, ele pode não gostar disso.

11. Não mexa nos cães dos seus amigos quando eles estiverem a comer, porque poderá vir a ser atacado.

12. Não corra trás das crianças da casa, não os pegue bruscamente ao colo e evite os seus gritos ou pranto, porque o cão pede entender isso como um pedido de ajuda e carregar sobre si.

13. Nunca dê ordens aos cães dos seus amigos e não intente encarcerá-los, porque isso é obrigação dos donos e os animais podem revoltar-se vigorosamente.

14. Não invada os seus canis, pois pode vir a ser desalojado da pior maneira.

15. Evite pegar nos pertences do dono sem autorização, o cão pode entender isso como um abuso.

16. Não entre nos carros estacionados dos seus amigos dentro dos quintais ou garagens, com eles ausentes e na presença do cão, o animal poderá não gostar da intromissão, danificar as viaturas e esperá-lo à saída.

17. Não ameace com paus ou com pedras os cães dos seus anfitriões.

18. Se o dono o consentir, só acaricie o animal depois deste aprovar esse seu desejo.

19. Não se escude no facto de não ter medo de cães, eles também poderão não ter medo de pessoas e achar por bem escorraçá-las: cumpra as regras!

20. Evite sair da casa dos seus amigos com o cão à solta, porque alguns cães transformam a saída dos visitantes num verdadeiro ajuste de contas! Se tiver pouco apego aos procedimentos e se preocupar com sua integridade e dos seus, a regra de ouro é: obrigar os seus amigos ao controlo dos seus cães. Caso esse controlo não seja objectivo, solicite o isolamento ou a prisão dos animais.

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