Nos bons adestradores caninos, naqueles que se esforçam para compreender os cães e que acabam por compreendê-los, subsiste, de tempos a tempos, um sentimento de desânimo e revolta que os leva a questionar toda a sua actividade. O amor que sentem pelos cães obriga-os a sonhar, a desejar a liberdade dos bichos sobre as barreiras da regra, para além do espectro do uso e da coabitação forçada, já que servem homens pelo concurso dos cães. E quando pensamos friamente no assunto, “descobrimos” que estamos cá para servir, independentemente dos nossos sentimentos ou afeições, porque os donos precisam de nós e os cães só têm a ganhar com isso. O adestramento é uma reivindicação humana e jamais será um anseio canino, verdade que a suavidade dos métodos nunca conseguirá encobrir, diante do direito que a uns elege como proprietários e a outros como sua propriedade. O que fazemos no adestramento é transformar um problema alheio numa mais-valia global e talvez esta seja a sua melhor definição, porque ao consertarmos a relação entre um homem e o seu cão, estamos a promover a aceitação de ambos e a demonstrar as vantagens da parceria animal. Bem sabemos que sempre será mais fácil educar cães do que adequar donos, porque dos primeiros se aproveita e dos segundos espera-se mudança (alguns necessitarão quase de um renascimento). Regrar submissos é fácil, difícil é despir os “senhores” das suas prerrogativas e dos seus direitos neo-divinos, que a troco dessa investidura, resistem à novidade, desprezam a cumplicidade e criam barreiras à comunicação interespécies. A excelência de um cão só será possível pela capacitação do seu dono e isso é incumbência nossa, quer queiramos ou não, porque estamos aqui de livre vontade e sabemos o trabalho que nos espera – este é o nosso maior desafio!
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