Para começo de conversa e sustento da nossa opinião, adiantamos que entre 1992 e 2009 treinámos cerca de 60 Rotweillers, aconselhámos a sua compra a 5 novos proprietários e adquirimos 1 para as nossas fileiras. Todos os animais se revelaram excelentes, extraordinariamente fiéis aos donos e particularmente obedientes. Não manifestaram qualquer dificuldade na sociabilização e revelaram-se extremamente meigos, muito embora a ginástica não fosse a sua disciplina de eleição. Uma vez respeitados os mais elementares princípios pedagógicos, todos eles alcançaram indíces atléticos invejáveis, sendo capazes de ultrapassar barreiras de um metro e vinte de altura, fazer muros de dois metros e meio, subir qualquer tipo de escada e atingir uma velocidade de 4,5 m/s. Em todos eles a cessação dos ataques foi igual à sua prontidão, chegando sem dificuldade à absorção da linguagem gestual. Nomes como: Roger, Tark, Brutus, Alfa, Preta, Cobra, Actos, Bavi e Ken, entre tantos outros, contribuíram para a divulgação do nosso trabalho, participando em inúmeras exibições e merecendo o devido aplauso.
A indexação à lista dos cães perigosos foi-lhe fatal, o cão ganhou mau nome e foi crucificado, objecto da reprovação geral e tratado como um fantasma indesejado (se fosse um lupino, chamar-lhe-iam lobo mau). O resultado da “caça às bruxas” é hoje visível nas escolas caninas, onde raramente se vê um Rotweiller, e quando se vê, é geralmente de má qualidade, com características similares às encontradas no Labrador. E como um mal nunca vem só, ainda há quem se aproveite do facto para aumentar as taxas sobre os binómios com Rotweillers, ao jeito de taxista na mutação das tarifas. Por força das circunstâncias, o número destes molossos diminui drasticamente, na proporção exacta da sua procura e debaixo dos piores augúrios. O seu preço baixou e apenas um grupo de “maduros” teima em perdurá-los. Quem anda nos cães há algum tempo, sabe da diferença entre o Rotweiller e as demais raças do seu grupo somático, porque é um cão de intenções adivinhadas e de ataque frontal, contrariamente a muitos outros, hábeis no ataque pela retaguarda e de surtida.
Sabemos que a força de mordedura de um Rotweiller não é para brincadeiras, mas também temos conhecimento do número de ataques indevidos fornecidos pela raça, porque eram vasculhados pelos media e amplamente noticiados. O percentual do disparate foi mínimo face ao número destes cães, apontando para um valor abaixo de 1 em 1000. Portugal é o país europeu com mais reclusos por 100.000 habitantes, cerca de 104. Será que somos uma raça perigosa, que perdemos a categoria de “gente de brandos costumes”? Continua a ser mais fácil condenar os animais, porque é politicamente correcto, já que a política assenta sobre a ocasião certa de puxar o gatilho. E no passado recente, o que causou mais vítimas: as agressões domésticas ou o ataque conjunto de todos os cães? Os acidentes de trânsito ou as arremetidas dos Rotweillers? É mais fácil mandar poeira para os olhos, condenar a vítima usual, porque isso traz sossego, mantém as conveniências e não abala a economia. A nosso ver, quiçá por um complexo de inferioridade, transformámo-nos nuns plagiadores natos, ávidos da aprovação dos nossos comparsas continentais e tentando ir mais além. Ademais, se os espanhóis, franceses, ingleses e tantos outros condenaram os Rotweillers, quem somos nós para o não fazer?
Ainda que o não queiramos, somos obrigados a concordar com a legislação em vigor, não porque o Rotweiller seja um cão perigoso, mas porque foram criadas todas as condições para que o viesse a ser. Exceptuando as condicionantes externas (política comunitária e acção dos media), a causa maior do holocausto fica a dever-se aos criadores da raça. Para melhor compreendermos a situação, importa realçar a segunda metade da década de 90, altura em que o dinheiro parecia não acabar e o optimismo reinava em Portugal, escondendo negócios inflacionados e sustentando a doutrina do facilitismo. Os cães vendiam-se a rodos e o Rotweiller virou cão da moda. Nunca se venderam tantos! Graças a isso, a economia paralela transitou do quintal cultivado para a canicultura. Todo o bicho careta criava Rotweillers, independentemente dos rígidos critérios de selecção, das necessárias condições de instalação e do requerido conhecimento da raça. Os cães vendiam-se e os canis sucediam às capoeiras.
A proliferação de novos criadores, verdadeira chusma de aventureiros, carregou consigo a desinformação e a ignorância, a ideia do lucro fácil e o sonho do cão fera. Com isto chegou também um bando de justiceiros, daqueles de trazer por casa, causando desacatos e “fugindo com o rabo à seringa”. Por outro lado, o Rotweiller foi abraçado por algumas minorias, facilmente identificadas com o crime e o narcotráfico, porque ao contrário de outros cães, não apresentava maiores dificuldades na sua integração. A força da mandíbula, nalguns casos, acabou por substituir a arma branca. Os cães eram vendidos a qualquer um, desconsiderando idades e indo para além da necessária robustez física e equilíbrio psicológico. Importava vender!
Os criadores históricos embarcaram na procura do “el dorado” e esqueceram-se que nenhuma criação de cães é rentável, preterindo a qualidade pela produção em série, entregando à consciência alheia o bom-nome da raça. Atendendo ao fenómeno Obama, esperamos que o Cão de Água Português disto seja poupado, porque a excessiva procura só estraga e pode gerar miséria, tal como diz o povo: “não há mal que sempre dure e bem que não se acabe!” Como a venda de cães é uma prestação de serviço, importa colocar o cão certo na pessoa certa, não apostar no ocaso e desconfiar da sorte. A história recente do Rotweiller aponta para uma sentença já há muito conhecida: paga a criatura pelos erros do criador. Como não podemos voltar atrás, oxalá o passado nos sirva de lição. O Rotweiller só será um cão para todos no dia em que o deixar de ser, quando escalpelado do seu passado e transformado num entre iguais.
A indexação à lista dos cães perigosos foi-lhe fatal, o cão ganhou mau nome e foi crucificado, objecto da reprovação geral e tratado como um fantasma indesejado (se fosse um lupino, chamar-lhe-iam lobo mau). O resultado da “caça às bruxas” é hoje visível nas escolas caninas, onde raramente se vê um Rotweiller, e quando se vê, é geralmente de má qualidade, com características similares às encontradas no Labrador. E como um mal nunca vem só, ainda há quem se aproveite do facto para aumentar as taxas sobre os binómios com Rotweillers, ao jeito de taxista na mutação das tarifas. Por força das circunstâncias, o número destes molossos diminui drasticamente, na proporção exacta da sua procura e debaixo dos piores augúrios. O seu preço baixou e apenas um grupo de “maduros” teima em perdurá-los. Quem anda nos cães há algum tempo, sabe da diferença entre o Rotweiller e as demais raças do seu grupo somático, porque é um cão de intenções adivinhadas e de ataque frontal, contrariamente a muitos outros, hábeis no ataque pela retaguarda e de surtida.
Sabemos que a força de mordedura de um Rotweiller não é para brincadeiras, mas também temos conhecimento do número de ataques indevidos fornecidos pela raça, porque eram vasculhados pelos media e amplamente noticiados. O percentual do disparate foi mínimo face ao número destes cães, apontando para um valor abaixo de 1 em 1000. Portugal é o país europeu com mais reclusos por 100.000 habitantes, cerca de 104. Será que somos uma raça perigosa, que perdemos a categoria de “gente de brandos costumes”? Continua a ser mais fácil condenar os animais, porque é politicamente correcto, já que a política assenta sobre a ocasião certa de puxar o gatilho. E no passado recente, o que causou mais vítimas: as agressões domésticas ou o ataque conjunto de todos os cães? Os acidentes de trânsito ou as arremetidas dos Rotweillers? É mais fácil mandar poeira para os olhos, condenar a vítima usual, porque isso traz sossego, mantém as conveniências e não abala a economia. A nosso ver, quiçá por um complexo de inferioridade, transformámo-nos nuns plagiadores natos, ávidos da aprovação dos nossos comparsas continentais e tentando ir mais além. Ademais, se os espanhóis, franceses, ingleses e tantos outros condenaram os Rotweillers, quem somos nós para o não fazer?
Ainda que o não queiramos, somos obrigados a concordar com a legislação em vigor, não porque o Rotweiller seja um cão perigoso, mas porque foram criadas todas as condições para que o viesse a ser. Exceptuando as condicionantes externas (política comunitária e acção dos media), a causa maior do holocausto fica a dever-se aos criadores da raça. Para melhor compreendermos a situação, importa realçar a segunda metade da década de 90, altura em que o dinheiro parecia não acabar e o optimismo reinava em Portugal, escondendo negócios inflacionados e sustentando a doutrina do facilitismo. Os cães vendiam-se a rodos e o Rotweiller virou cão da moda. Nunca se venderam tantos! Graças a isso, a economia paralela transitou do quintal cultivado para a canicultura. Todo o bicho careta criava Rotweillers, independentemente dos rígidos critérios de selecção, das necessárias condições de instalação e do requerido conhecimento da raça. Os cães vendiam-se e os canis sucediam às capoeiras.
A proliferação de novos criadores, verdadeira chusma de aventureiros, carregou consigo a desinformação e a ignorância, a ideia do lucro fácil e o sonho do cão fera. Com isto chegou também um bando de justiceiros, daqueles de trazer por casa, causando desacatos e “fugindo com o rabo à seringa”. Por outro lado, o Rotweiller foi abraçado por algumas minorias, facilmente identificadas com o crime e o narcotráfico, porque ao contrário de outros cães, não apresentava maiores dificuldades na sua integração. A força da mandíbula, nalguns casos, acabou por substituir a arma branca. Os cães eram vendidos a qualquer um, desconsiderando idades e indo para além da necessária robustez física e equilíbrio psicológico. Importava vender!
Os criadores históricos embarcaram na procura do “el dorado” e esqueceram-se que nenhuma criação de cães é rentável, preterindo a qualidade pela produção em série, entregando à consciência alheia o bom-nome da raça. Atendendo ao fenómeno Obama, esperamos que o Cão de Água Português disto seja poupado, porque a excessiva procura só estraga e pode gerar miséria, tal como diz o povo: “não há mal que sempre dure e bem que não se acabe!” Como a venda de cães é uma prestação de serviço, importa colocar o cão certo na pessoa certa, não apostar no ocaso e desconfiar da sorte. A história recente do Rotweiller aponta para uma sentença já há muito conhecida: paga a criatura pelos erros do criador. Como não podemos voltar atrás, oxalá o passado nos sirva de lição. O Rotweiller só será um cão para todos no dia em que o deixar de ser, quando escalpelado do seu passado e transformado num entre iguais.
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