segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O preço da liberdade

Introduzimos o tema como uma história verídica, que para infelicidade nossa, aconteceu com um binómio da Acendura.
Determinado oficial e cavalheiro, mercê do aumento dos seus proventos, quando se encontrava num serviço de representação no estrangeiro, decidiu adquirir um Pastor Alemão. O animal veio adornado com o predicado “first-choice”, recebeu o nome de um chocolate apreciado, cresceu entre valões e flamengos, ali recebeu algum tipo de treino e acompanhou os donos no seu regresso a Portugal, acabando por engrossar as nossas fileiras. Ainda que na escola não mostrasse esse desvio, quiçá pelos bons ofícios do PM* e pela presença do adestrador, em casa corria atrás dos gatos e não lhes dava descanso. O binómio mantinha um trajecto rotineiro para a excursão diária e habitualmente o cão era solto em determinado local. Por ocasião de umas férias e porque importava guardar a casa, o cão ficou entregue aos cuidados de um vizinho. O recém-empossado respeitou os hábitos do líder e sempre agiu em conformidade com eles. Certo dia, no local usual da folgança, como de costume, o homem soltou o cão. Inesperadamente, vindo do nada, eis que surge um gato. O cão não se fez rogado e vá de correr atrás dele. No meio da perseguição atravessaram uma estrada, o gato saiu ileso e o cão de cauda amputada, porque foi pisado por um camião-cisterna de cimento. No comments!
A liberdade canina é uma liberdade condicionada, mesmo extrapolando os aspectos legais, porque se encontra cativa ao exercício da liderança humana e às garantias dadas pelos animais. É obrigação do dono, ainda antes de soltar o animal, bater minuciosamente o território escolhido, conhecer os seus confins e certificar-se da inexistência de perigos para a saúde do seu companheiro (vidros, pedaços de chapa, comida degradada, substâncias corrosivas ou tóxicas e tudo o que possa constituir-se em armadilha). O automatismo nos comandos de imobilização e direccionais torna-se imprescindível, particularmente os comandos de “aqui” e “junto”. O comando inibitório “não” deve ser soberano sobre qualquer reacção instintiva e a sociabilização (inter pares e interespécies) já alcançada. Para uma segurança mais efectiva, só se recomenda a liberdade aos cães depois da recusa de engodos ter sido instalada. Por outro lado, só a aprovada condução em liberdade dispensará o uso da trela. É de evitar, mesmo entre os cães mais arduamente treinados e experimentados, soltá-los no meio de outros cães ou pessoas, porque só respondemos pelos nossos e há muita gente que morre de medo. A protecção do nosso cão e dos demais, assim como o respeito pelos direitos de cidadania alheios a isso nos obriga, porque o disparate acontece maioritariamente por incúria, ainda que nos agrade rotulá-lo de acidente. A propósito: convém ler as letras mais pequenas que constam das apólices do seguro dos nossos cães, porque a retribuição das seguradoras encontra-se escudada nos preceitos legais. Quando eles são violados, as companhias ficam automaticamente desobrigadas a qualquer indemnização. Foi isso que assinámos!
Os lobos não nasceram para andar à trela, mas no dia em que os transformámos em cães, ela tornou-se indispensável, um subsídio de ensino eficaz e um garante da vida. A máquina instintiva canina, remanescente do seu atavismo, ainda condiciona a sua liberdade, porque os terrenos são repartidos e o perigo espreita. Treinamos os cães por causa disso, dominando instintos e potenciando impulsos. Tome todas a cautelas quando soltar o seu cão!
(PM*) – Gato Burma que durante 12 anos contribuiu para a sociabilização dos nossos cães.

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