quinta-feira, 27 de agosto de 2020

58 ANOS DEPOIS AINDA SÃO AMEAÇADOS PELOS CÃES

Decorridos 58 anos depois da China ter declarado os pandas gigantes como espécie protegida, os cães ainda continuam a ser uma ameaça para eles, porque as reservas naturais chinesas costumam estar intimamente ligadas a assentamentos urbanos onde os cães vagueiam livremente, conseguindo numa só nome percorrer 10 km. E como se isso não bastasse, alguns cães selvagens já estabeleceram residência permanente nas reservas. Quem o diz é uma pesquisa oriunda da Universidade norte-americana de Drexel, trabalho publicado recentemente na revista Scientific Reports sob o título "Free-roaming Dogs Limit Habitat Use of Giant Pandas in Nature Reserves”.
James Spotila (na foto seguinte), Professor Titular LD Betz do Departamento de Biodiversidade, Terra e Ciências Ambientais da Faculdade de Artes e Ciências de Drexel, junto com o seu grupo, começaram a investigar o problema depois que dois pandas nascidos em cativeiro, soltos na Reserva Natural de Liziping, foram atacados por cães. Graças a uma análise GIS desta reserva, ficou provado que grande parte dela se encontra ao alcance dos cães vadios das aldeias vizinhas.
Esta descoberta levou os pesquisadores a considerar como prioritário o controlo dos cães nas reservas designadas para a reintrodução dos pandas, já que estes animais requerem um tamanho mínimo de habitat de 114 km para prosperar, o que face à actual invasão canina aumenta significativamente a sua vulnerabilidade. Apesar da maioria das reservas naturais destinadas aos pandas serem suficientemente grandes, a intrusão dos cães pode limitar significativamente o território destes ursos.
Debaixo desta preocupação, a equipa de pesquisa, trabalhando na Base de Pesquisa de Chengdu, estendeu a sua análise à totalidade das reservas chinesas destinadas ao Panda Gigante, trabalho que veio a revelar que 40% do território atribuído a esta espécie está ao alcance de cães errantes e que apenas 60% do território é de facto “protegido”. Diante destes factos, o Professor Spotila é peremptório: “Os cães devem ser removidos das reservas do panda gigante se quiserem sobreviver na selva”.
Os autores desta pesquisa recomendam uma abordagem abrangente para os esforços de controlo de cães pelos governos locais, implementados pelos líderes da aldeia, o que inclui licenciamento e coleira. Sugerem também educação para residentes, a esterilização gratuita dos cães, clínicas de vacinação e procedimentos para garantir o tratamento ético através de consulta com a Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra Animais ou grupos locais semelhantes, em relação aos cães selvagens removidos das reservas.
Spotila reconhece que a China fez um bom trabalho nos esforços de conservação do Panda Gigante, mas que os esforços relativos ao controlo dos cães não podem ser desconsiderados e carecem de ser implementados para que os pandas gigantes prosperem na natureza: "Somente entendendo e gerindo as interacções complexas entre humanos, animais domésticos e selvagens podemos sustentar sistemas naturais num mundo cada vez mais dominado por humanos", terminou dizendo. Penso que a altíssima proliferação de cães a que assistimos hoje está a pôr em risco e a condenar aos extermínio várias espécies animais. Mais cedo ou mais tarde, a bem do equilíbrio dos diferentes ecossistemas, a aquisição de cães estará cada vez mais sujeita a restrições.

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