Apesar da prática sobre os obstáculos trazer
bastantes benefícios para os cães, tais como: a correcção morfológia, o desenvolvimento
dos indíces atléticos, a harmonia muscular, a melhoria dos ritmos vitais, o alcance
de novas capacidades, o aumento cognitivo, o robustecimento de carácter, melhor
operacionalidade e o reforço dos vínculos afectivos binomais, entre outros,
grassa entre nós uma opinião contrária, aquela que os desconsidera e os
considera impróprios ou abusivos para os cães, pelo que importa denunciar
inverdades, esclarecer todos os interessados e adiantar-lhes subsídios.
A dispensa dos obstáculos está ligada aos factores
técnico e económico. Ao técnico porque o desuso dos obstáculos tem formado
adestradores que ignoram os seus requisitos e ao económico porque a pista de
obstáculos é dispendiosa e não está ao alcance de todos. Estas duas carências
são responsáveis pela ignorância relativa a estes preciosos aparelhos, que é
falsamente justificada pelo “amor” aos animais. E como se isto não bastasse,
ainda há quem julgue que a prática dos obstáculos é exclusiva de determinadas
modadilidades desportivas caninas. O progressivo abandono dos obstáculos também
não pode ser dissociado dos actuais métodos de treino, mais virados para o
aproveitamento dos impulsos inatos caninos (quando não nos instintos) e menos
apostados no desenvolvimento técnico dos seus intervenientes, relegando para os
cães a responsabilidade do sucesso ou insucesso escolar, o que invariavelmente
agrada a quem paga as mensalidades, porque sai inocentado e burro é o cão,
ainda que receba, sem se aperceber de imediato, um certificado igual ao do
animal.
Como nem todos temos a experiência e a habilidade
técnica para realizarmos de surpresa a transposição de um obstáculo, também a
felicidade de ter um cão valente e resoluto que nos siga incondicionalmente, é
obrigatório evoluir lenta e gradativamente sobre os obstáculos, facilitando a
sua transposição e mostrando para o cão a sua saída. A evolução que sugerimos é
aquela que parte dos aparelhos mais fáceis para os mais difíceis e dos mais
simples para os complicados, algo a se convencionou chamar de “sequências
naturais” (Ex: “janela”, “pneu”, “arco” e finalmente “arco de fogo”).
Considerando a possibilidade da indesejável experiência negativa, que a ninguém
aproveita, não se deve convidar um cão para um obstáculo que esteja para além
da sua capacidade de resolução, o que sempre nos obrigará a ajudá-lo na sua
transposição, tornando-a fácil e isenta de danos (físicos e psicológicos).
A resistência
canina contra os obstáculos resulta, na maioria dos casos, da incapacidade
animal de antever como sair deles, pelo que importa mostrar aos cães como fazê-lo,
já que as suas faculdades cognitivas assentam quase em exclusivo na
experiência. Assim, o nosso primeiro
trabalho é mostrar-lhes primeiro a saída, ajudando-os na transposição para que
prontamente a vejam. Para que isso aconteça, podemos ter que carregá-los para
cima dos obstáculos, subdividir os momentos da transposição e apoiá-los na
saída, pois só assim levaremos de vencida o medo que têm de partir para parte
incerta. É errado julgar que estes procedimentos apenas se destinam aos
cães mais débeis ou temerosos, porque os valentes também precisam deles, porque
ao não medirem os riscos, partindo à desfilada, podem adquirir vícios,
lesionar-se gravemente e adoptar traumas de difícil eliminação. Como entendemos
os obstáculos muito para além da competição, usamo-los como meio para a
sobrevivência canina e não como pretexto para alcançar vã glória, o que
justamente nos leva a convidar todo e qualquer cão para o seu concurso.
Para melhor entendimento do que acabámos de dizer,
salientamos aqui o ocorrido com os cães de uma ex-aluna nossa, daquelas que
chega num Domingo e que no Sábado seguinte desaparece, não deixando rasto e
pouca ou nenhuma saudade. Ela deixou os seus três cães num quintal ao nível da
rua, circundado por um muro de 90 cm, indo depois trabalhar. Algumas horas
depois, deflagrou um incêndio num dos prédios contíguos e os pobres animais
acabaram irremediavelmente esturricados (alguém nos disse que a dita senhora
está inconsolável e que até se afasta dos proprietários caninos da sua
vizinhança, que se esconde e não quer falar com ninguém). Um simples muro de 90
cm de altura impediu aqueles cães de se salvarem, transposição possível a
qualquer cão de apenas 30 cm ao garrote, quando saudável e devidamente capacitado.
Costuma dizer-se que para ser cão é preciso ter sorte e estes não tiveram
nenhuma, porque foram primeiro abandonados, castrados depois de resgatados e
acabaram em brasas vivas. Frequentar uma escola sem obstáculos pode condenar os
cães à morte e isso ninguém deseja!
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