Já há
muito reparámos que os melhores alunos na cinotecnia não se fixam nela como
profissionais, ocupando o seu lugar indivíduos menos preparados e mais
rudimentares, gente que procura no universo canino aquilo que o mundo dos
homens não lhe reconhece na ânsia de um lugar ao sol. E quem disto tiver
dúvidas, basta inquirir sobre a profissão anterior da maioria dos adestradores
em exercício. É evidente que há excepções, e que muitas delas resultaram do
desencanto profissional de alguns. Se a isto juntarmos e entendermos como
formação exclusiva os workshops de fim-de-semana e as palestras esporádicas,
então o panorama agrava-se de sobremaneira, a erudição tarda, o plágio reina e
não haverá progresso ou evolução.
Convém
não esquecer que a cinotecnia é uma ciência, muito embora o vulgo a entenda
quase exclusivamente como arte, talvez por causa dos “artistas” que nela
abundam, aqui e além fronteiras. Ainda que pareça impossível, a arte da
cinotecnia sempre dependerá do conhecimento científico que a sustenta, tanto do
que lhe é próprio como daquele que lhe é tangente, concorrente ou acessório.
Por esta razão também não consideramos o Sr. Cesar Millan, tido como
“encantador de cães” (nome que lhe assenta muito bem), um adestrador genuíno,
porque, truque por truque; bucha por bucha, com mais justiça se atribuiria ao falecido
Houdini o Prémio Nobel da Física.
Sempre
soubemos que o adestramento não é doma, mas sempre reconhecemos as vantagens
dos praticantes da equitação na condução de cães, ignorando até a paternidade
equestre do Agility canino, porque através da equitação se alcança maior
conhecimento biomecânico, se compreende da necessidade das ajudas (incentivos)
e a importância da postura corporal, enquanto subsídios válidos para o melhor
desempenho binomal, já que um condutor de cães é correctamente avaliado pela
postura corporal (impacto visual), modo de respirar (respiração) e pela
entoação dos comandos, que deve ser suave e de acordo com a divisão das sílabas,
onde a ira e o stress estão proibidos de entrar, para que o cão aprenda o mais
rápido possível, porque pelo condicionamento, a resposta canina é um acto
reflexo da vontade humana.
A
disciplina corporal dos condutores torna-se imprescindível no adestramento, porque
os cães passam a vida a observar-nos e aproveitam qualquer deslize da nossa
parte, chegando alguns a subornar-nos. Como cada comando verbal tem uma mímica
própria que o pode substituir, o corpo deverá estar em sintonia com a voz,
doutro modo, indevidamente, estaremos a enviar duas mensagens diferentes em
simultâneo, o que sempre será do agrado a quem não quer obedecer. Para além
destes aspectos, a prática da equitação responsabiliza os cavaleiros e
desnuda-lhes os erros, levando-os ao assumir das suas culpas, condição
indispensável para quem quer evoluir também no adestramento, porque só os tolos
atribuem aos cães todo o insucesso que lhes é alheio.
Conhecedores
destas vantagens (e não as descrevemos todas), temos convidado vários jovens
para a complementaridade existente entre a equitação e a cinotecnia, certos do
progresso individual desses duplos praticantes, convite que repetimos ano após
ano no intuito de melhorar a sua formação, enquanto líderes e condutores de
animais, dotando-os de maior responsabilidade, saber e experiência. Mais tarde
agradecer-nos-ão e alguns deles ficar-nos-ão gratos para sempre.
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