quarta-feira, 18 de setembro de 2013

EQUITAÇÃO E CINOTECNIA

Já há muito reparámos que os melhores alunos na cinotecnia não se fixam nela como profissionais, ocupando o seu lugar indivíduos menos preparados e mais rudimentares, gente que procura no universo canino aquilo que o mundo dos homens não lhe reconhece na ânsia de um lugar ao sol. E quem disto tiver dúvidas, basta inquirir sobre a profissão anterior da maioria dos adestradores em exercício. É evidente que há excepções, e que muitas delas resultaram do desencanto profissional de alguns. Se a isto juntarmos e entendermos como formação exclusiva os workshops de fim-de-semana e as palestras esporádicas, então o panorama agrava-se de sobremaneira, a erudição tarda, o plágio reina e não haverá progresso ou evolução.
Convém não esquecer que a cinotecnia é uma ciência, muito embora o vulgo a entenda quase exclusivamente como arte, talvez por causa dos “artistas” que nela abundam, aqui e além fronteiras. Ainda que pareça impossível, a arte da cinotecnia sempre dependerá do conhecimento científico que a sustenta, tanto do que lhe é próprio como daquele que lhe é tangente, concorrente ou acessório. Por esta razão também não consideramos o Sr. Cesar Millan, tido como “encantador de cães” (nome que lhe assenta muito bem), um adestrador genuíno, porque, truque por truque; bucha por bucha, com mais justiça se atribuiria ao falecido Houdini o Prémio Nobel da Física.
Sempre soubemos que o adestramento não é doma, mas sempre reconhecemos as vantagens dos praticantes da equitação na condução de cães, ignorando até a paternidade equestre do Agility canino, porque através da equitação se alcança maior conhecimento biomecânico, se compreende da necessidade das ajudas (incentivos) e a importância da postura corporal, enquanto subsídios válidos para o melhor desempenho binomal, já que um condutor de cães é correctamente avaliado pela postura corporal (impacto visual), modo de respirar (respiração) e pela entoação dos comandos, que deve ser suave e de acordo com a divisão das sílabas, onde a ira e o stress estão proibidos de entrar, para que o cão aprenda o mais rápido possível, porque pelo condicionamento, a resposta canina é um acto reflexo da vontade humana.
A disciplina corporal dos condutores torna-se imprescindível no adestramento, porque os cães passam a vida a observar-nos e aproveitam qualquer deslize da nossa parte, chegando alguns a subornar-nos. Como cada comando verbal tem uma mímica própria que o pode substituir, o corpo deverá estar em sintonia com a voz, doutro modo, indevidamente, estaremos a enviar duas mensagens diferentes em simultâneo, o que sempre será do agrado a quem não quer obedecer. Para além destes aspectos, a prática da equitação responsabiliza os cavaleiros e desnuda-lhes os erros, levando-os ao assumir das suas culpas, condição indispensável para quem quer evoluir também no adestramento, porque só os tolos atribuem aos cães todo o insucesso que lhes é alheio.
Conhecedores destas vantagens (e não as descrevemos todas), temos convidado vários jovens para a complementaridade existente entre a equitação e a cinotecnia, certos do progresso individual desses duplos praticantes, convite que repetimos ano após ano no intuito de melhorar a sua formação, enquanto líderes e condutores de animais, dotando-os de maior responsabilidade, saber e experiência. Mais tarde agradecer-nos-ão e alguns deles ficar-nos-ão gratos para sempre.

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