Nenhum
animal foi tão manipulado e alterado como o cão, nele se aplicaram e aplicam todos
os conceitos ideológicos, políticas sociais e experimentos, enquanto animal
dependente e cobaia dos homens, “evoluindo” de acordo com os rudimentos
científicos presentes nos diferentes momentos da caminhada comum, ainda que os
seus proprietários isto ignorem ou disto se aproveitem pelos desejos que teimam
em ver cumpridos. O cão tem sido pau para toda a colher e muitos continuam a
meter a sua colherada, segundo desacertos que engordam as suas aspirações e
massificam desejos tão antigos quanto a génese da nossa espécie.
E se
outro registo não houvesse para provar o que acabámos de dizer, que o há e está
lavrado na morfologia e nas aptidões dos cães actuais, bastar-nos-ia ler com
mais atenção os sucessivos manuais de ensino e pressupostos selectivos usados
nestes últimos cem anos, marcados pelo darwinismo, pela eugenia e por políticas
bem próximas ao Lebensborn, princípios hoje quase desprezados mas ainda em uso na
canicultura, denunciados por termos e conceitos doutros tempos. Porque nos
dedicámos à criação de “cães puros” e criámos novas raças? Donde virá o termo
“beneficiamento” e que política seguimos nos acasalamentos? O que obstará a
transição desses conceitos dos cães para as pessoas? Certamente não serão a
consciência global, a fraternidade, a religião, a moral ou a ética dos seus
adeptos, tampouco as lições da história moderna, mas sim a impossibilidade temporária
de alcançarem o poder. Parece que temos andado a brincar com coisas muito
sérias há demasiado tempo e sem darmos conta. Cuidado com as diferentes
pedagogias de ensino, porque a lei dos cães perigosos está aí e os cães
agradecem o seu bom-nome.
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