Pouco nos interessa comentar pessoas ou factos
ligados á Casa de Windsor ou aos residentes no Buckingham Palace, porque já não
acreditamos em contos de fadas, não nos interessa alimentar o marketing inglês
e não temos a memória curta, apesar da pequena Rainha Isabel II ser
oficialmente uma figura simpática. Há muito que os ingleses nos desapontaram,
enquanto piratas e regentes no nosso solo, quando saqueavam as nossas caravelas
e nos exigiram o Brasil como fiador. Na verdade fomos uma “colónia” inglesa ao
longo dos séculos e se calhar voltaremos a sê-lo. E como se isto não bastasse,
é impossível esquecer o “Ultimato Inglês”, acontecido a 11 de Janeiro de 1890,
quando reinava a Rainha Vitória (trisavó da actual) e o Império Britânico
possuia a maior e melhor armada do mundo.
A Aliança
Luso-Britânica, ratificada pelo Tratado de Windsor em Maio de 1386, que renovou
a anterior Anglo-Portuguesa de 1373, apesar de ser a mais antiga aliança
diplomática no mundo em vigor, melhor tem servido aos ingleses do que aos
portugueses, que sempre nos usaram para enfraquecer o poder das nações
europeias suas concorrentes, primeiro contra a Espanha e depois contra Napoleão.
Talvez por causa disto, ainda exista hoje um sentimento popular de desconfiança
em relação aos ingleses (justificado, diga-se), sobrando daí a frase hipócrita:
“para inglês ver”. Também não nos interessa saber se o Príncipe William deles é
de convicção nazi, porque se o for, certamente não será o primeiro, porque
muito do que se condenou aos alemães teve uma origem inglesa, alcançando de
imediato adeptos incondicionais no seio da sua aristocracia, também ela de
ascendência alemã e que se viu obrigada, durante a I Guerra Mundial e perante o
ódio generalizado do povo britânico contra os germanos, a trocar o nome da sua
dinastia, passando de Saxe-Coburgo-Gota a casa e dinastia de Windsor.
Foi uma aluna nossa que nos alertou para o
particular dos cães militares do Principe William, pedindo-nos que lêssemos e comentássemos
o constante em: http:/greensavers.sapo.pt/2013/09/18caes-da-forca-aerea-que-guardavam-príncipe-william-abatidos-depois-da-missão/.
Segundo o que se faz saber, ao que parece, dois cães militares destinados à
segurança pessoal do Príncipe William foram abatidos, um Pastor Belga e um Cão
de Pastor Alemão, por dispensa do serviço e impossibilidade doutra instalação,
mercê da sua idade e tipo de comportamento. O abate dos cães militares por
ocasião da sua dispensa, que são tão soldados quanto os seus tratadores, é uma
prática comum a todas as companhias cinotécnicas espalhadas pelo mundo, que não encontrando
outra solução, acabam por abatê-los. Os ainda adaptáveis, caso haja
interessados, poderão vir a ser resgatados e alguns têm sido, tanto pelos seus
tratadores como por outros. As companhias cinotécnicas não têm como comportar
os gastos dos cães dispensados, nem hoje nem nunca, porque em apenas duas
décadas teriam de sustentar o quádruplo dos animais ao seu encargo e aumentar
na mesma proporção as suas instalações.
Serão estes cães reeducáveis? Estamos em crer que
na sua maioria sim, desde que entregues a gente conhecedora dos seus códigos,
do agrado dos animais (ao ponto de aceitarem a sua liderança) e com disposição
para isso, pessoas capazes de levar a cabo a sua descodificação (por transformação,
substituição ou inibição), dispostas ao risco e livres de tempo. Ninguém melhor
do que os seus tratadores o poderia fazer, contudo tal não é viável, porque
irão ser precisos para a instrução de novos cães, exactamente daqueles que substituirão
os dispensados. Diante desta impossibilidade e havendo outros dispostos prà
tarefa, quem suportaria os seus custos? Valeria a pena pedir tal esforço aos
cães, agora gastos, debilitados e a acusar o peso da idade, já que nehuma
descodificação é automática e gratuita? Mesmo verificando-se a sua reeducação,
quem estaria disposto a acolhê-los, agora velhos, de pouco préstimo e com
possíveis manifestações recidivas de stress pós-traumático? Não nos custa
acreditar que alguns deles morreriam ainda antes da conclusão da sua reeducação,
invalidando assim o esforço em prol da sua sobrevivência.
Não estamos com isto a justificar tal carnificina,
casos como estes levam-nos a questionar sobre o ofício que escolhemos, porque
estamos cá para aumentar os seus dias e não para lhos roubar prematuramente,
opinião dividida com os adestradores renomados mais pensados, que jamais
gostariam de ter treinado cães e que o fizeram por amor a estes animais, porque
doutra forma, dificilmente seriam eles aceites, tolerados, integrados e
respeitados no seio das díspares sociedades humanas, porque só a utilidade
canina pode evitar o extermíno do canis
lupus familiaris. Compreendemos e respeitamos aqueles que abominam a
cinotecnia e o treino, porque são pessoas sensíveis e sinceras, mas somos
obrigados a esclarecê-los que o cão mais livre do mundo é o lobo, isto se o
deixarem em paz e não o matarem também, mas que não se presta a viver em casa
connosco! Aqui o que está em causa é o cão polícia ou soldado, o uso abusivo
dos cães para fins fratricidas, à revelia das Declarações Universais dos
Direitos Humanos e dos Direitos do Animal. Quando acharmos solução para as
crianças-soldado, também arranjaremos maneira de dispensar os cães de guerra.
O comunicado do Ministério da Defesa Britânico e
aquilo que foi complementado pela RAF tresanda a hipocrisia, a uma mensagem
tangível ao que é politicamente correcto, muito embora não tenha convencido
ninguém, nem os seus emissores e muito menos os seus destinatários, porque
sabemos que os cães visados foram criados, seleccionados e adestrados como cães
de guerra, espicaçados e atormentados para se tornarem letais. A citação que
nos chegou por tradução e que diz: “terem
sido os cães muito amados pelos seus tratadores, que tinham um vínculo
muito forte com eles”, não consegue esconder o assassinato dos cães, nem
apaziguar a opinião pública, porque é do domínio comum que a relação binomal
nestes casos é interesseira e procura a caça, a captura e o dolo de indivíduos
considerados hostis, intrusos, ou indesejáveis, sendo os cães recompensados de
acordo com o cumprimento desse “serviço” para reforço do seu instinto de presa
e potenciação do impulso à luta.
Não sabemos ao certo se os cães estavam
distribuídos ao Príncipe William, muito embora nos pareça que sim pela pronta
resposta do Ministério da Defesa do Governo de Sua Majestade (a soar a
desmentido forçado). Caso estivessem, não nos admiraria que fossem dos mais
aptos para aquele tipo de serviço e por isso mesmo de difícil adopção, o que de
certo modo justificaria assim a sua eliminação. Independentemente de quem
fossem, o que se lamenta é o seu desaparecimento precoce, uma vez que acabaram
condenados por práticas induzidas e ao alcance da sua natureza, também ela manipulada
para o efeito. Como a realeza é um produto que se vende, a seguir à saga do
“Carlitos-caça elefantes”, chega-nos agora o “Guillermo mata-perros” (isto de
ser da realeza não os deixa sossegar, passar despercebidos e à vontade, chego a
ter pena deles!).
Mais pena temos dos cães transformados em cães de
guerra cujo prémio é a morte, companheiros abusados que partem sem glória,
confiantes em quem os conduz, mesmo no caminho para a injecção letal, de olhos
postos no tratador e estranhando a presença do veterinário. Chorá-los-ão por
pouco tempo e voltarão a abusar de outros! Não se fará justiça aos cães? Porque
tarda ela?