Não há _ _ que aguente e parafraseando uma expressão brasileira: apetece-nos “partir para a ignorância”, quando alguém nos procura e diz que o seu cão precisa de levar uns toques. Toda a gente aprendeu na escola primária, agora já não sabemos se assim é, que os animais podem ser racionais e irracionais e que apenas o homem pertence à primeira categoria. O cão é um animal irracional e fruto da sua experiência directa, não aprende sozinho e sobrevive pelos hábitos adquiridos, sendo melhor ou menor adaptado de acordo com os seus mestres, porque naturalmente se assilvestra e sempre carregará as marcas do grupo que o adoptou. Por mais estranho que nos pareça, nada espelha melhor um homem do que o seu cão, muitas vezes até mais do que os seus próprios filhos, sujeitos à individualidade, invariavelmente arredados da sua presença, ensinados por terceiros, adeptos de ideais externos à família e profundamente autónomos, mesmo que essa autonomia não os leve a lugar algum, pelo menos à desejável. Disto falarão os sociólogos com maior propriedade face à problemática das famílias actuais. Voltemos à relação homem-cão, objecto deste nosso esclarecimento.
Já dizia o Padre Américo, homem que dedicou a sua vida à protecção e capacitação dos meninos de rua: “não há rapazes maus” e nós complementamos: não existem cães sem préstimo. A relação homem-cão, que definirá o futuro comportamento canino, carece se ser próxima, cuidada e atenta, baseada na cumplicidade e sujeita aos bons ofícios da liderança. A liderança passiva não serve estas exigências e desaproveita estes benefícios, tornando-se imprestável tanto para homens como cães, porque a ausência da liderança objectiva dos primeiros obsta ao aprendizado dos segundos, animais sociais e aptos para a absorção de regras, que uma vez assimiladas, constituirão parte maioritária do seu modo de vida. Educar cães não é algo inato a todos os homens, por mais que os adorem ou se esforcem, porque o antagonismo das vontades gera resistência, provoca desgaste, exige tempo, obriga à absorção de uma metodologia própria e a competitividade canina pode levar à confrontação. O antropomorfismo não deve suceder ao especicismo, transformar-se numa prática pagã e elevar à deidade o lupino que habita connosco. Quando isto acontece, passa-se de um extremo para o outro, da condição de senhor para a de escravo e o cão, uma vez investido, não verá com bons olhos a sua despromoção. Infelizmente esta prática tem-se vulgarizado entre nós, felizmente para as escolas caninas, que abusando dos papalvos, alcançam maiores proventos pelo concurso do internamento dos cães.
Diante da situação e sabedores da “história da carraça”, outros há, graciosamente uma escassíssima minoria e da qual já nem temos memória, que receitam calmantes aos animais, porque apesar de pagarem as favas, não são eles que pagam as contas e importa cativar os clientes, isentá-los das suas culpas e remeter para os animais a causa dos seus disparates. Qualquer conflito pode gerar riqueza e quando maior é a guerra, maior será o provento de alguns. Também nesta matéria, o combate à ignorância perfila-se inglório, porque há quem pague para não sair dela e não ser incomodado, quem ganhe com a sua perpetuação e ainda angarie maior simpatia. À luz da “carta dos direitos do animal” não será isto hipocrisia? Será algo mais? O que será mais eficaz: o tratamento das causas ou a solução temporária e abrupta dos efeitos?
O “homem dos toques”, aquele que mais tarde procurará socorro, é geralmente um dono distante, incumbido prá tarefa por anuência e a pensar no bem-estar dos seus, alguém desinformado, atarefado e apostado na continuidade das suas rotinas. Tem uma relação mais ou menos distante com o animal, isenta-o de maiores reparos e transfere para os demais o preço dos seus desejos, resiste à coabitação com o cão e só o adquirirá depois de lhe ter encontrado um espaço próprio, onde não colidirá com os seus interesses e não lhe causará qualquer transtorno. O animal irá crescer no jardim e abrigar-se-á num anexo ou garagem, onde terá muito espaço para correr e “será feliz”. Arredado do viver e regras familiares, o cão irá passar a maior parte dos seus dias entregue a si próprio e separado do quotidiano do grupo adoptivo. Depois espantar-se-ão com os disparates, com o seu pouco apego aos donos e com a dificuldade em se constituir membro daquela equipa. Recentemente encontrámos uma jovem etóloga, com um currículo invejável, formada numa renomeada faculdade inglesa, com um sorriso nos lábios por detrás de uma caixa registadora… no supermercado Aki.
O que é um etólogo? Etólogos para quê? O desprezo pelas necessidades sociais caninas é o primeiro dos responsáveis pela inadequação destes companheiros, porque não produz as adaptações inerentes à sua complementaridade e coloca em risco o seu bem-estar global (social, psicológico e físico). Quem anda “a precisar de levar uns toques” são os donos. Não seria tão bom que os cães já nascessem ensinados, se auto-musculassem e adivinhassem os perigos a que se encontram sujeitos? Continuariam cães? Would it be better to Make a Farm e aproveitar a sugestão da Internet como meio de preparação para os futuros proprietários caninos? Se calhar, seria! A opção pelo cão é uma tarefa séria, exige conhecimento e auto-controle, que obriga e produz adaptações. Primeiro conheça-se a si próprio e só depois escolha o animal, busque informação, atavie-se previamente para opção e prepare-se para a novidade.
Já dizia o Padre Américo, homem que dedicou a sua vida à protecção e capacitação dos meninos de rua: “não há rapazes maus” e nós complementamos: não existem cães sem préstimo. A relação homem-cão, que definirá o futuro comportamento canino, carece se ser próxima, cuidada e atenta, baseada na cumplicidade e sujeita aos bons ofícios da liderança. A liderança passiva não serve estas exigências e desaproveita estes benefícios, tornando-se imprestável tanto para homens como cães, porque a ausência da liderança objectiva dos primeiros obsta ao aprendizado dos segundos, animais sociais e aptos para a absorção de regras, que uma vez assimiladas, constituirão parte maioritária do seu modo de vida. Educar cães não é algo inato a todos os homens, por mais que os adorem ou se esforcem, porque o antagonismo das vontades gera resistência, provoca desgaste, exige tempo, obriga à absorção de uma metodologia própria e a competitividade canina pode levar à confrontação. O antropomorfismo não deve suceder ao especicismo, transformar-se numa prática pagã e elevar à deidade o lupino que habita connosco. Quando isto acontece, passa-se de um extremo para o outro, da condição de senhor para a de escravo e o cão, uma vez investido, não verá com bons olhos a sua despromoção. Infelizmente esta prática tem-se vulgarizado entre nós, felizmente para as escolas caninas, que abusando dos papalvos, alcançam maiores proventos pelo concurso do internamento dos cães.
Diante da situação e sabedores da “história da carraça”, outros há, graciosamente uma escassíssima minoria e da qual já nem temos memória, que receitam calmantes aos animais, porque apesar de pagarem as favas, não são eles que pagam as contas e importa cativar os clientes, isentá-los das suas culpas e remeter para os animais a causa dos seus disparates. Qualquer conflito pode gerar riqueza e quando maior é a guerra, maior será o provento de alguns. Também nesta matéria, o combate à ignorância perfila-se inglório, porque há quem pague para não sair dela e não ser incomodado, quem ganhe com a sua perpetuação e ainda angarie maior simpatia. À luz da “carta dos direitos do animal” não será isto hipocrisia? Será algo mais? O que será mais eficaz: o tratamento das causas ou a solução temporária e abrupta dos efeitos?
O “homem dos toques”, aquele que mais tarde procurará socorro, é geralmente um dono distante, incumbido prá tarefa por anuência e a pensar no bem-estar dos seus, alguém desinformado, atarefado e apostado na continuidade das suas rotinas. Tem uma relação mais ou menos distante com o animal, isenta-o de maiores reparos e transfere para os demais o preço dos seus desejos, resiste à coabitação com o cão e só o adquirirá depois de lhe ter encontrado um espaço próprio, onde não colidirá com os seus interesses e não lhe causará qualquer transtorno. O animal irá crescer no jardim e abrigar-se-á num anexo ou garagem, onde terá muito espaço para correr e “será feliz”. Arredado do viver e regras familiares, o cão irá passar a maior parte dos seus dias entregue a si próprio e separado do quotidiano do grupo adoptivo. Depois espantar-se-ão com os disparates, com o seu pouco apego aos donos e com a dificuldade em se constituir membro daquela equipa. Recentemente encontrámos uma jovem etóloga, com um currículo invejável, formada numa renomeada faculdade inglesa, com um sorriso nos lábios por detrás de uma caixa registadora… no supermercado Aki.
O que é um etólogo? Etólogos para quê? O desprezo pelas necessidades sociais caninas é o primeiro dos responsáveis pela inadequação destes companheiros, porque não produz as adaptações inerentes à sua complementaridade e coloca em risco o seu bem-estar global (social, psicológico e físico). Quem anda “a precisar de levar uns toques” são os donos. Não seria tão bom que os cães já nascessem ensinados, se auto-musculassem e adivinhassem os perigos a que se encontram sujeitos? Continuariam cães? Would it be better to Make a Farm e aproveitar a sugestão da Internet como meio de preparação para os futuros proprietários caninos? Se calhar, seria! A opção pelo cão é uma tarefa séria, exige conhecimento e auto-controle, que obriga e produz adaptações. Primeiro conheça-se a si próprio e só depois escolha o animal, busque informação, atavie-se previamente para opção e prepare-se para a novidade.
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