terça-feira, 18 de agosto de 2009

::: Temos pena! :::

A expressão acima é típica da malta nova, vulgarizou-se e é aplicada nos casos em que nada há a fazer, nas situações irremediáveis e que importa suportar. É também usada como falsa lamentação, quando qualquer coisa se torna inevitável ou determinado acto conduz ao fim esperado. Para que isso não lhe suceda a si e seja votado à mesma sentença, se pensa adquirir um cão, saiba de antemão, aquilo que o espera e os problemas que irá enfrentar, porque a adopção do animal é um compromisso “duro de roer”, confirmado pelo número de cães descartados ou abandonados. É bom saber com o que contar, para que o seu desejo não se transforme em castigo e se sinta vítima da sua opção, mal fadado pela sorte e condenado ao sacrifício.
A aquisição de um cão obriga, entre outras coisas, ao aumento das despesas, à alteração das rotinas, a cuidados especiais, a férias repartidas, a uma maior disponibilidade, à novidade pedagógica e à aposta no seu bem-estar. Em síntese: à alteração do seu modo de vida, individual, familiar e social. E para que tudo vá bem desde o início, a opção deve ser familiar e nunca resultar de um desejo individual, porque o cão é um animal social e toda a família estará, quer queira, quer não, implicada no seu processo de adopção. Quando assim não acontece, bem cedo o cão estará de “malas aviadas”.

O primeiro ano de vida de um cão é o mais dispendioso, mesmo que não se opte pelo seu adestramento, porque a ração para cachorros é mais cara, o quadro de vacinação tem que ser respeitado e as desparasitações são mais frequentes. Com o cão “a pagar as favas” e o dono a fugir às despesas, ele custará no mínimo 300 euros, podendo chegar aos 5.000, isto se todas as infra-estruturas já houverem sido criadas. Mas se houver necessidade de construir um canil e uma intervenção cirúrgica se tornar urgente, estes valores serão facilmente ultrapassados. Porque é mais um passageiro, a aquisição de um cão poderá levar à troca da viatura, à compra de uma caixa de transporte e a um sem número de acessórios. O cão mexe com o orçamento familiar e é bom que todos estejam de acordo. Não estamos aqui a contabilizar os estragos causados pelo animal, os praticados em casa ou contra terceiros. O cão é para quem pode e não para quem quer!

O animal obrigará à alteração de rotinas, devido à sua necessidade excursionista e aos seus passeios higiénicos, à limpeza das suas instalações e à prática do exercício físico necessário. Ele exige cuidado e atenção, porque sendo um animal social, procura a integração, busca a parceria e reivindica a coabitação. Desperta-nos para a brincadeira, interrompe os nossos afazeres e dá sumiço a alguns dos nossos objectos mais queridos. Não raramente faz asneiras para nos chamar à atenção e ainda por cima necessita de ser limpo. A vida de um proprietário canino pode dividir-se em duas fases: antes e depois do cão. Apesar da factura ser alta, os benefícios poderão falar mais alto. Só o amor aguentará a alteração das rotinas! Ídas ao veterinário, tosquias, a limpeza de orelhas, a administração de medicamentos, a distribuição do penso e o escovar diário, são alguns dos cuidados especiais a haver, muito embora cada cão obrigue a diferentes tarefas e preocupações, de acordo com o seu particular sexual, clínico ou racial, porque é um indivíduo e como tal, diferente dos demais. Quem não tem tempo para um cão, não o desperdice na sua aquisição!

E quando as férias chegarem, o que fazer com o cão? Há que pensar nisso!
A maioria livra-se dele e descarrega o fardo sobre empregados, amigos, parentes e vizinhos, a quem ficam a dever favores. Alguns optam por um hotel para cães e muito poucos partem de férias com ele. Para ser cão é preciso ter sorte e poucos são os que a vêem. De qualquer modo, a decisão não é fácil e causa algum embaraço, é mais uma decisão a tomar e um problema a resolver. Dá que meditar!

O cão reclama do dono uma disponibilidade física e mental muitas vezes para além do esperado, porque não é humano, tem outras preferências e diferentes objectivos, tem crenças próprias e agrada-se das coisas tangíveis à sua natureza. Não lhe podemos dar um livro para ler, mas ele pode interromper a mais gostosa das nossas leituras, acordar-nos a meio da noite e ladrar quando menos deve, incomodando vizinhos e derramando mal-estar à nossa volta. As queixas na Polícia que o digam!
Na sociedade actual poucos têm tempo para os filhos, para exercer a sua acção pedagógica enquanto pais. Alguns, impensadamente e para colmatar a falta, oferecem aos pirralhos um cão, o que só agrava a situação, porque os miúdos não ganham responsabilidade e o bicho aproveita-se da situação, sobrando a responsabilidade para os mentores da ideia. Um cão carece de educação e de um líder, e quando ambos faltam, ele tende à desobediência e a assumir a liderança. É errado entregar a educação de um cão a terceiros, porque a ausência do agente pedagógico pode provocar a rebeldia contra o próprio dono. Optar por um cão é educá-lo, procurar uma escola para a edificação comum.

A aposta no bem-estar canino deve ser considerada e muitas vezes colide com os interesses e desejos dos demais, atenta contra a nossa carteira e pode fazer gorar alguns dos nossos projectos. Para todos os efeitos o cão é mais um membro da família, bem diferente dum porco numa loja ou de um peixinho vermelho no aquário. Garantir uma boa instalação doméstica, uma alimentação equilibrada, a higiene necessária, uma assistência médico-veterinária capaz, interagir com ele e proceder à sua adaptação, são tarefas exigíveis a quem deseja ter um cão. Apostar no seu bem-estar é torná-lo feliz, mesmo que chegue cansado e a paciência já falte.
Se depois do que foi dito, ainda deseja ter um cão, seja bem-vindo, estamos aqui ao seu lado, seja nosso companheiro de jornada, temos muito a descobrir e os desafios não serão poucos. Pode contar com a nossa experiência, estamos prontos para o ajudar. Verá que vale a pena!

1 comentário:

  1. Sr. João

    Acabei de ler o texto intitulado "Temos Pena" que achei muito interessante, pelo que revela quanto às condições necessárias à aquisição de um cão. É tema que já foi pontualmente abordado, mas que ainda não havia visto tratado de forma sistematizada, como agora. Acho que o Sr. João disse tudo e de uma forma muito feliz. Espero que muita gente leia o texto, o entenda e passe a assumir a compra de um cão como acto ponderado e responsável. Isto do blog dá-lhe, com certeza, muito trabalho. Mas vale a pena!
    Um abraço
    JGAR

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