segunda-feira, 24 de agosto de 2009

::: Técnica de salto: a condução à trela :::

Quando um cão é introduzido aos saltos verticais pelo auxílio da trela, que só deve acontecer nos de menor altura, no intuito de o ajudar na marcação do salto e a vencer a transposição requerida, algum cuidado há que haver, para que o ensino não lhe seja fatal e obste a sua natural propensão saltadora. E como é mais fácil inovar do que corrigir vícios, dividiremos o salto nos seus três momentos principais e adiantaremos os requisitos técnicos necessários para uma transposição segura, eficaz e feliz.

1. NA PREPARAÇÃO:
a) No nosso entender, hoje bem distante da preocupação competitiva, o convite para o salto só deve acontecer depois do “Junto” ter sido alcançado, salvaguardando a obediência que tudo sustenta e garante, porque não somos adeptos das doutrinas “ prà frente é que é Lisboa” e “seja o que Deus quiser”, repletas de disparate e de grave consequência para o cão, considerando a experiência directa, o robustecimento do seu carácter, o desenvolvimento dos seus índices atléticos e a sua integridade.

b) Como qualquer transposição é garantida pelo andamento que a possibilita, a sua transição torna-se indispensável. Num salto isolado e novo para o cão, duas coisas podem acontecer como reflexo da sua insegurança: ou o bicho entra em galope desenfreado ou reduz a velocidade. Nenhum dos casos por si mesmo garante a transposição, porque o primeiro tende a escapar-se e o segundo já “pensou” na renúncia. E quando cão entra desenfreado, o dono vai a reboque, executando o salto atrasado e sujeitando o animal à tracção. Erroneamente e depois do insucesso, muitos condutores optam por parar o cão ou pô-lo a passo, desprezando a marcha que garante a transição natural e segura. A transição do trote para o galope, que é a correcta, deve acontecer segundo as características morfológicas de cada cão, já que a curvatura de salto de uns é de 20 º e de outros 45º.

c) O atrelar forçado que gera o desencanto, próprio dos cães isentos de recapitulação doméstica e da respectiva cumplicidade, é responsável por um sem número de posturas caninas anómalas, efeitos que reflectem a precariedade da unidade binomial, que sendo alcançada à bruta, lança mão da coerção ou abandona os cães a si próprios. Na abordagem do obstáculo o condutor deve evoluir com o cão junto de si e com a cabeça levantada, para que o animal veja linha de salto e se prepare para a transposição. Não é errado e até é desejável, quando feito isoladamente e não em classe, que os cães pendurados na trela sejam convidados para as transposições pelo convite de uma bola ou pela indução de um brinquedo. A manobra é descodificadora e a alteração é alcançada pela memória afectiva, desprezando o despropósito mecânico que obsta à transposição confiante e segura.

d) Nas evoluções circulares, como é o nosso caso, o corpo do condutor não deve tapar o obstáculo ao cão, condenando-o a uma marcação de recurso e a uma transposição de surpresa. O procedimento a haver é idêntico ao recomendado no Código da Estrada, o relativo às mudanças de direcção e à consequente procura do eixo da via. O condutor deverá, momentaneamente, abandonar a progressão circular e garantir uma evolução rectilínea, para que o obstáculo seja de todo visível e o salto perceptível. Assim se deve proceder no 1º salto, na chamada apresentação do obstáculo. Se a transposição for segura, não haverá mais necessidade disso, o condicionamento fará o resto.

e) A mão do condutor deverá ir no sítio do ajuste, sobre o cabedal preto que remata a trela e antecede o fecho, executando um movimento ascendente de escora a 45º, de acordo com a altura do obstáculo. Para que tudo corra bem, esta ajuda deve acontecer a uma distância igual à da altura do obstáculo a transpor. Os condutores menos aptos e pouco aplicados, que geralmente não procedem assim e operam atrasados, puxam os seus cães para cima na altura da suspensão, obrigando os animais a um “salto de cabra”, contrariando a extensão necessária e a progressão continuada. Como este movimento não é natural, acciona o receio e o desinteresse do cão, porque propicia o estoiro e antecede a lesão. Até à suspensão, momento em que o cão se encontra sobre a linha do obstáculo, o condutor evolui a seu lado, adiantando-se depois no comprimento total da trela, para garantir o ângulo de saída e possibilitar ao cão um impacto ao solo suave, quando ele distribui, o mais rápido possível, o peso corporal pela totalidade dos seus membros. A inacção da mão do condutor só induz a dois desfechos: ou o cão salta antecipadamente (o conhecido “salto do meio da rua”), ou torna-se especialista em renúncias. Não nos podemos esquecer que estamos a condicionar.

f) O nervosismo binomial perante a acção, a excitação dos animais, o contributo do impulso ao movimento, a competitividade canina e o prévio conhecimento da acção, não devem e não podem colocar em risco a liderança, porque a ginástica cinotécnica outra coisa não é do que obediência dinâmica. Não devemos usar a ginástica para destruir a obediência. Ao invés, devemos servir-nos dela para reforçar o nosso controle e mostrar ao cão quem capitania as acções. Sempre que um cão não espera pelo dono e parte para o salto isoladamente, dispensando o comando e evoluindo a modo próprio, a obediência está em risco e a liderança a extinguir-se. Como a ginástica sem a cumplicidade é uma prática esclavagista, onde a coerção deve ser banida e o estímulo potenciado, usaremos nesta situação o comando de “atrás”. O recurso a este automatismo direccional possibilitará o “junto” sem atropelos, porque vendo-se condicionado atrás, o cão aguardará o convite para vir ao nosso lado. Toda a condução à trela é uma forma de condicionamento (a trela é um subsídio de ensino), uma má condução à trela induz a um péssimo desempenho em liberdade. Devemos estar cientes disto!

g) O que garante o sucesso em qualquer salto é a sua entrada (preparação), inteiramente ligado à velocidade e à direcção empregues. A transição de andamento é garantida pelo comando de “em frente”, solto por ocasião da marcação do salto. A repetição do comando, nestas circunstâncias, é justificada pela necessidade de manter a constância da velocidade, particularmente junto dos cães que lhe resistem ou que tendencialmente se distraem. Os saltos oblíquos operados sobre o lado esquerdo da linha de salto, quando a mão de condução é a esquerda, reflectem um “junto” precário que dá azo à distracção e obsta à correcta marcação, consentindo em simultâneo numa velocidade inadequada, quer ela seja acima ou abaixo da requerida. A perpetuação deste vício obsta ao bom desempenho na “Técnica de Condução”, porque causa entrave nas mudanças de direcção, induz o cão à fuga ou provoca o seu desinteresse pelo trabalho. Os saltos oblíquos, responsáveis também pela queda das barreiras, devem ser objecto de reparo e eliminados de imediato.

2. NA EXECUÇÃO:

a) Na execução do salto, altura em que o cão se suspende sobre a linha do obstáculo, que pode ser mais demorada ou não, dependendo isso do tipo de dorso e da angulação que os seus membros posteriores apresentam, o condutor deve progredir em aceleração, para não perigar a extensão do salto e possibilitar a sua convexidade. Atendendo a isso, é errado e de funesta consequência, parar, desacelerar ou olhar para trás no momento da suspensão. Estas lacunas técnicas ficam a dever-se à insegurança e ao mau preparo físico dos condutores, tendem a perpetuar-se e são inibidoras do desejável crescendo atlético canino.

b) Como é por demais sabido, o comando para a transposição é o de “up”.

c) A execução do salto deve ser efectuada sobre o centro da barreira a transpor. Por esta razão, como indicação para o condutor, as barreiras são bicolores, geralmente divididas em 5 partes, com o seu meio devidamente assinalado.

d) Neste momento do salto e para garantir a transposição natural, é indispensável que ela seja feita em segmento de recta e nunca numa evolução curva ou oblíqua.

3. NA SAÍDA:

a) Na saída do salto o condutor deve adiantar-se no comprimento total da trela, por isso tem ela um metro e oitenta de extensão, exactamente o triplo da distância média entre eixos encontrada nos cães, possibilitando a desaceleração conveniente que torna possível o reagrupamento no “Junto”. Se esse adiantamento não acontecer, o cão sujeita-se a um duro impacto ao solo, suportando de modo indevido, o seu peso corporal somente sobre as mãos.

b) A exemplo da entrada e da execução, também na saída se deve manter a progressão rectilínea, para que a desaceleração seja segura e não recaia sobre um dos lados do cão, o que geralmente induz a lesões instantâneas ou persistentes.

c) O condutor que até à execução levava a mão no sítio do ajuste, a partir daí solta-a, operando o seu recobro na extensão oferecida pela trela. Caso não o faça, arrisca-se a sair rebocado e talvez projectado para o solo.

Muito mais haveria a acrescentar sobre a técnica de salto na condução à trela, sobre os seus requisitos e os problemas colocados a cada um um. Apenas adiantámos os subsídios mais urgentes e sintetizámos as dificuldades mais frequentes. A Escola encontra-se ao dispor de todos para maiores explicações.

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