PRIMEIRA REGRA: Se não controla as acções do seu cão de modo seguro e objectivo, afaste-o do recém-nascido. Você pode chegar tarde!
E como até os cães mais controlados necessitam de preparação para a novidade, também aqui são exigidos cuidados pré-natais, para que tudo corra bem e a desejada parceria aconteça. Não havendo parecer médico contrário ou reticência do veterinário, segundo a nossa opinião, a coabitação entre o bebé e o cão, deverá obedecer a 5 momentos distintos. São eles: a preparação, a apresentação, a familiarização, a sociabilização e a adopção. Qualquer um deles é importante e cada um dá acesso ao que imediatamente lhe sucede.
Aconselhamos, considerando o sucesso de muitos, quando o cão é anterior à chegada do recém-nascido, que o animal já tenha sido alvo de algum condicionamento na área da obediência, pelo ajustamento doméstico eficaz ou pelo contributo dos subsídios escolares. Esta pré-condição, projecta a adaptação segura, minimiza as dificuldades e diminui drasticamente o número dos problemas vindouros. Como se compreende, improvisar nesta matéria é ficção, desenrascar é demérito, porque não podemos optar pela política: “depois de casa roubada, trancas na porta!”
O que faremos na preparação?
Os trabalhos da preparação, como o próprio nome indica, são anteriores ao nascimento da criança, um conjunto de metas que visa a adaptação canina para o feliz evento. Antes de tudo, importa que os donos respeitem a higiene diária do bicho, coisa pouco comum de se ver, já que a maioria dos proprietários caninos é besuntona. Já vimos CPA’s e Serras da Estrela a ser tosquiados, cães que nunca viram uma escova e poucos são os donos com um trem de limpeza capaz. E como limpar cansa, rotineiramente os cães vão a banhos, como se de patos se tratassem! As boas condições higino-sanitárias caninas, pelo menos nesta ocasião, devem ser meticulosamente respeitadas. O cão deverá participar nos preparativos e familiarizar-se com as futuras rotinas, saber o que lhe irá ser permitido ou não, e os cuidados a haver, para que o berço não seja retraçado e o carrinho inundado pelo seu fluxo mictório. Tudo deverá ser do conhecimento do animal, para que a sua curiosidade não venha a dar azo ao disparate. Em todas as disciplinas cinotécnicas existe um crescendo operativo, um aproveitamento da confusão canina, entre a ficção e a realidade, uma transição gradual entre a fase teatral e a real. Faremos o mesmo nesta ocasião. Será a nossa capacidade de antevisão que irá fazer a diferença, na reprodução das situações com que o cão irá ser confrontado (quem deve embalar o berço são os pais, não o cão, os brinquedos caídos não devem ser abocanhados, o sono do bebé deve ser respeitado e a sua comida não deverá ser furtada). Para melhor preparar o cão para a chegada do bebé, também para se acostumar ao seu choro, é desejável substitui-lo no berço, atempadamente, por um boneco similar, de dimensões reais e que chore, atribuindo-lhe o nome de tratamento que irá ser dado à criança, para que o berço não tombe e o bebé vá parar ao quintal. O que se procura na preparação, quando houver necessidade disso, é alteração positiva do comportamento do cão face à novidade do recém-nascido. O advento do bebé não deverá promover a descida hierárquica do cão, coisa que o animal não veria com bons olhos, mas robustecer a liderança pela parte integrante.
O que é e para que serve a apresentação?
Quando a preparação é bem feita, a transição para a apresentação é automática, porque a aceitação já foi alcançada. A apresentação começa pela mostra do novo membro da família ao cão e sugere as adaptações necessárias, as inerentes ao diálogo inter espécies e ao particular do indivíduo canino envolvido. A supremacia dos códigos anteriormente aplicados, deve ser capaz de reparar, todos os problemas causados pela novidade. Como se depreende, a apresentação é um acto condicional, cativo ao momento próprio e dentro das rotinas previamente estabelecidas.
Como operaremos a familiarização?
A familiarização é um momento subdividido em duas fases: uma na presença dos progenitores e outra na sua ausência. Trata-se aqui de habitar o cão à criança, como elemento presente no seu quotidiano. Sem familiarização não há sociabilização nem adopção. Ainda bem que o cão é um animal de hábitos! A convivência entre ambos começa na presença dos pais, debaixo da sua direcção, atenção e fiscalização. O bicho deverá coabitar com o bebé, respeitar o seu status e tolerar o seu particular, de modo gradativo e de acordo com as respostas alcançadas. A passagem à segunda fase começa por ser falsa, porque será desenvolvida pela ocultação dos pais, tendo a situação sob controlo e “debaixo de olho”. A transição não é automática e existem cães manhosos, geralmente vítimas de donos de igual condição. Jamais passe à segunda fase na incerteza da resposta animal. Apesar de ser mais fácil deixar o cão no canil ou pendurado numa varanda, é melhor que o cão se acostume à criança, desde logo, do que a atacar depois de crescida, quando já andar e intentar puxar-lhe as orelhas.
Qual a importância da sociabilização e como a desenvolveremos?
Só a sociabilização plena garante a adopção. A sociabilização é um processo pedagógico que capacita o cão a viver na sociedade, de modo descontraído e extrovertido, segundo as regras aplicadas, na defesa da sua integridade e dos demais, quer eles sejam seus iguais ou diferentes. Como em tantas outras coisas, a sociabilização começa por ser doméstica e estende-se a todos os indivíduos presentes na sociedade adjacente. Como já se percebeu, a sociabilização é advinda do concurso da familiarização e das metas que a tornaram possível. Tornar um cão sociável é ajudá-lo a vencer os seus medos e receios, a controlar os seus instintos e a desenvolver a sua capacidade não-predadora, pela prática do exemplo e pelo contributo da sua curiosidade. Sociabilizar o cão com o bebé, é uma tarefa aturada e unilateral, porque mais depressa nos entende o bicho do que o recém–nascido. Protegendo a criança e satisfazendo a necessidade de contacto canina, a sociabilização torna-se viável pelo cumprimento das regras. O cão deve ser alertado para o singular da criança, a identificar a sua mímica como algo próprio e inofensivo. Os arremessos caninos contra crianças, muito raramente são contra as de colo, verificando-se mais tarde, por abuso ou invasão de território, por aqueles que nunca tiveram algum contacto com elas. É desejável que o cão permaneça junto do berço e do parque, que assista a todos os cuidados relativos ao bebé e que não use as suas fraldas como espólio. A sociabilização carece de tempo e estabelece-se com o crescimento da criança.
Como acontece a adopção?
A adopção é um fenómeno típico dos cães bem sociabilizados, daqueles que foram objecto de uma boa instalação doméstica e que se sentem membros activos do grupo. O cuidado dispensado a um cão nunca regressou de mãos vazias, transformando-se no aumento da segurança daqueles que o operaram. O cão tendencialmente defende aquilo que considera seu, particularmente se for territorial e se vir confrontado com intrusos. O êxito da sociabilização pode levar à guarda do bebé e isso acontece com alguma frequência, quando a criança é identificada como um bem a guardar, pertença do seu líder ou membro mais vulnerável do grupo: o cão irá adoptá-la como sua! E isto a ninguém deve espantar, porque o bicho procede de igual modo com os restantes bens do dono!
Conforme se antevê, o estabelecimento destas metas é tarefa do líder, que as deve alcançar para além da sua presença e sem o esforço dos elementos neutros (restantes membros da família), que usurpando papéis, podem comprometer todo o processo pedagógico.
Depois do que foi dito, dirão alguns:
- O meu cão nunca necessitou de nada disto!
Ao que responderei:
- Pois é, também eu, que nasci com um Pastor Alemão ao lado, afortunadamente com mais juízo do que o encontrado nos meus progenitores!
O apego aos procedimentos evita a tensão e diminui a novidade. Quem sabe não espera acontecer, faz!
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