Recambiado para Sheffield, onde se adapta sem atropelos, o Radar foi
parar à Universidade local, a dona aproveitou a ocasião para a foto e o momento
resultou numa grande lição graças ao lema daquele estabelecimento de ensino: “Rerum
Cognoscere Causas”, que traduzido para português corrente significa “conhecer as
causas das coisas”. No livrinho que faz parte do emblema daquela faculdade,
pode ler-se ainda “ Disce Doce”, que longe de ser uma alusão a uma iguaria
local, somente quer dizer “aprender a ensinar”, realçando o papel da universidade
enquanto ferramenta para os seus alunos. Ao atentarmos para estes pormenores da
foto, e porque o Radar também lá está, inevitavelmente lembrámo-nos da nossa
cinotecnia, onde os mestres, desconhecendo as causas das coisas e não
aprendendo a ensinar correctamente, sendo a maioria deles autodidactas, acabam
secundados por alunos que não aprendem ou não têm como fazê-lo, que enveredando
pelo plágio, transformam o adestramento numa actividade circense, carregado de
verdades subjectivas, farto em “buchas” (truques), alicerçado na sugestão,
votado ao insucesso ou isento de progressão.
Mais do que na habilidade individual ou na intuição de cada um, que têm
o seu peso, o adestramento surte efeito pelas ciências que o sustentam e que
lhe adiantam os procedimentos correctos na já gasta relação causa-efeito. Do
mesmo modo, ele jamais se completará quanto isoladamente teórico ou prático,
porque não é dogmático e depende do conhecimento que temos de nós mesmos e dos
cães, na multivariedade que constitui a imensidade dos binómios, o que nos
remeterá primeiro para a filosofia e para a antrozoologia (também para a
antropologia, para a sociologia e para a biologia), e depois para o universo da
psicologia e da etologia, considerando a liderança humana, o melhor
entendimento interespécies, a consequente relação binomial e o trabalho
acessório ou comum. Para um superior aproveitamento da prestação canina, há que
considerar ainda os benefícios do conhecimento biomecânico, da zoognóstica, da
fisiognomia e da morfopsicologia para uma melhor leitura do potencial
individual, das expressões mímicas e dos rituais ainda presentes nos cães
actuais.
Como se depreende, não basta saber algo sobre o comportamento animal, se
desconhecemos quem somos, os entraves que causamos e não conseguimos “ler” as
reacções caninas, porque as respostas dos cães são sempre reflexo daquilo que
lhes é apresentado, independentemente das nossas melhores intenções, pelo que
importa saber para fazer bem, já que o adestramento é uma actividade maioritariamente
prática que se desenvolve pela comunicação e que melhora com a experiência e a
observação. A transcendência operativa no adestramento, a acontecer, levará à
transformação das respostas naturais em artificiais, alterações que resultarão
da empatia, cumplicidade e comunhão de vida, da fusão de sentimentos entre
homens e cães. Há que aprender para ensinar e a dar para receber!
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