domingo, 19 de outubro de 2014

A LIÇÃO DO DR. RADAR

Recambiado para Sheffield, onde se adapta sem atropelos, o Radar foi parar à Universidade local, a dona aproveitou a ocasião para a foto e o momento resultou numa grande lição graças ao lema daquele estabelecimento de ensino: “Rerum Cognoscere Causas”, que traduzido para português corrente significa “conhecer as causas das coisas”. No livrinho que faz parte do emblema daquela faculdade, pode ler-se ainda “ Disce Doce”, que longe de ser uma alusão a uma iguaria local, somente quer dizer “aprender a ensinar”, realçando o papel da universidade enquanto ferramenta para os seus alunos. Ao atentarmos para estes pormenores da foto, e porque o Radar também lá está, inevitavelmente lembrámo-nos da nossa cinotecnia, onde os mestres, desconhecendo as causas das coisas e não aprendendo a ensinar correctamente, sendo a maioria deles autodidactas, acabam secundados por alunos que não aprendem ou não têm como fazê-lo, que enveredando pelo plágio, transformam o adestramento numa actividade circense, carregado de verdades subjectivas, farto em “buchas” (truques), alicerçado na sugestão, votado ao insucesso ou isento de progressão.
Mais do que na habilidade individual ou na intuição de cada um, que têm o seu peso, o adestramento surte efeito pelas ciências que o sustentam e que lhe adiantam os procedimentos correctos na já gasta relação causa-efeito. Do mesmo modo, ele jamais se completará quanto isoladamente teórico ou prático, porque não é dogmático e depende do conhecimento que temos de nós mesmos e dos cães, na multivariedade que constitui a imensidade dos binómios, o que nos remeterá primeiro para a filosofia e para a antrozoologia (também para a antropologia, para a sociologia e para a biologia), e depois para o universo da psicologia e da etologia, considerando a liderança humana, o melhor entendimento interespécies, a consequente relação binomial e o trabalho acessório ou comum. Para um superior aproveitamento da prestação canina, há que considerar ainda os benefícios do conhecimento biomecânico, da zoognóstica, da fisiognomia e da morfopsicologia para uma melhor leitura do potencial individual, das expressões mímicas e dos rituais ainda presentes nos cães actuais.
Como se depreende, não basta saber algo sobre o comportamento animal, se desconhecemos quem somos, os entraves que causamos e não conseguimos “ler” as reacções caninas, porque as respostas dos cães são sempre reflexo daquilo que lhes é apresentado, independentemente das nossas melhores intenções, pelo que importa saber para fazer bem, já que o adestramento é uma actividade maioritariamente prática que se desenvolve pela comunicação e que melhora com a experiência e a observação. A transcendência operativa no adestramento, a acontecer, levará à transformação das respostas naturais em artificiais, alterações que resultarão da empatia, cumplicidade e comunhão de vida, da fusão de sentimentos entre homens e cães. Há que aprender para ensinar e a dar para receber! 

Sem comentários:

Enviar um comentário