Nos primeiros meses de vida do bebé, quando ele
permanece no berço a maior parte do dia, é amamentado e logo dorme, qualquer
cão serve para lhe fazer companhia, desde que seja silencioso, avesso a
euforias e nada dado a ciúmes, o que é difícil de encontrar, muito embora a
melhor parceria aconteça quando o cão é anterior ao bebé, porque depressa o
guardará como pertença dos donos. Mas depois que o bebé vai para o parque, é
transportado no carrinho, gatinha, começa a andar, a tocar, a mexer e faz da
brincadeira a sua principal actividade, a
maioria dos cães não é aconselhável, tanto por razões sanitárias como pelas
ligadas ao bem-estar e crescimento da criança (físico, psicológico e cognitivo).
Na verdade não existe
nenhuma raça de cães para o efeito e todas podem fornecer indivíduos que melhor
se adeqúem à tarefa, o que realça a importância do indivíduo em relação à raça
ou grupo somático a que pertence. Para que a escolha seja bem feita há que
considerar os principais impulsos herdados presentes nos cães (ao alimento, ao
movimento, à defesa, à luta, ao poder e ao conhecimento) e identificar em cada
cachorro o seu grau de submissão ou dominância. Não convém escolher um que seja
muito comilão, porque a breve trecho sacará a comida das mãos da criança.
Também deverão ser desprezados os cachorros muito aguerridos, porque são menos
pacientes e irritam-se com facilidade. Os extraordinariamente activos também
deverão ser postos de lado, porque poderão desestabilizar o bebé, fazê-lo
tropeçar e cair, atentando assim contra a sua integridade, desenvolvimento e
auto-confiança. Os cachorros que na ninhada fogem de nós e se escondem, também
deverão ser desconsiderados, porque perante as arremetidas do bebé poderão
entrar em pânico e morder-lhe. Muito menos nos convirá aquele cachorro que
domina sobre os demais! Interessa-nos
escolher um cão submisso, daqueles que vêm ao nosso chamamento e nos lambem as
mãos, vindo posteriormente à procura da nossa companhia, meigos e ávidos de
afectos.
Ao mesmo tempo,
interessa-nos um cão curioso, porque tendo essa qualidade vai ser fácil
ensiná-lo a melhor acompanhar o bebé. Os cães que não mudam o pelo não devem
ser escolhidos, mesmo que tenham todas as qualidades requeridas, porque alojam
no manto toda a sujidade e são campo fértil para vários tipos de ácaros,
tampouco os de pelo duplo, porque largam pelo em demasia e muito menos os de
pelo curto e áspero, cujos cabelos se espetam nas carpetes e sofás, por mais
escovados que sejam. Os cães de pelo comprido devem também ser rejeitados,
porque embaraçam toda a sujidade e por vezes os seus dejectos ficam agarrados
ao pelo. Em termos de pelagem o ideal é
que seja curta e macia, clara de preferência e difícil de se soltar.
Sempre
correremos menos riscos se escolhermos uma fêmea ao invés de um macho, considerando que o lobo
familiar (cão) assenta sobre uma estrutura social patriarcal, o que torna os
machos mais excursionistas, menos presentes e carentes de maior disciplina. A
escolha da fêmea deverá recair sobre aquela que menos luta com as suas rivais,
porque doutro modo, tendo ela um forte impulso à defesa, poderá tornar-se
ciumenta e menos predisposta para aturar as brincadeiras do bebé. Contudo, se
os pais da criança forem para a cadela uns verdadeiros líderes, a criança
jamais ficará em melhores mãos. Assim
como temos de adequar o animal à criança também temos que educar o bebé a
respeitar o cão, para que não abuse dele, não o perturbe quando come e
respeite o seu descanso.
Dos
clássicos 6 grupos somáticos caninos (lupinos, molossos, vulpinos, bracóides,
bassetóides e lebróides) os molossos são
os que mais se prestam para companhia, porque são mais pachorrentos e
pacientes, suportam melhor a dor, fingem-se de mortos, resistem às provocações
e normalmente deslocam-se a baixa velocidade. Se a escolha recair sobre um molosso, convém que não seja gigante ou
muito pesado, para que o bebé não venha ser pisado, entalado e constantemente
empurrado. Os lupinos têm por norma inventar inimigos e reagem às
provocações, os vulpinos não nasceram para estar parados, os bracóides têm um
apetite insaciável, os bassetóides são pouco interactivos e os lebróides tendem
ao isolamento, porque são taciturnos e mais instintivos. Os bracóides de selecção cinegética, desde que tenham a barriga cheia,
têm-se revelado excelentes cães de companhia para as crianças de tenra idade.
Os cães miniatura ou toys são tendencialmente mais sensíveis do que as
crianças, choramingas e dados a amuos, escondendo-se quando a “coisa” não lhes
agrada. Os caniches para esta tarefa, especialmente os bafejados pelo
antropomorfismo, dão poucas garantias e precisam de ser amiúde fiscalizados, já
que são dados a alterações de humor. É evidente que há excepções.
Todos
sabemos que o Pastor Alemão pode ser o cão ideal para acompanhar um indivíduo
da puberdade à idade adulta, o que geralmente acontece, tanto no País de origem
como pelo Mundo fora, porque a raça ajuda à responsabilização e ao
amadurecimento dos seus jovens líderes, tornando-os mais metódicos, amigos do
pormenor e agarrados aos procedimentos, contribuindo assim para a sua entrada
no mundo dos adultos, sem lhes tirar o arrojo e a aventura da sua faixa etária.
Pensamos que este cão será subaproveitado quando entregue a um bebé até aos 3
anos de idade, devido ao seu andamento locomotor preferencial e versatilidade,
o que não implica que muitos pastores alemães executem o papel de “baby sitter”
cabalmente. Para os pais que são
fanáticos pelo Pastor Alemão, adianta-se que as variedades cromáticas
recomendadas são a negra e a lobeira, isto se a primeira viver dentro de
casa e a segunda no quintal, porque a negra é precoce e é a que tem menos odor,
e a lobeira sendo serôdia, crescerá a um ritmo menor graças a uma maior curva
de crescimento, ainda que o seu odor seja substancialmente mais carregado.
Também aqui a preferência deverá recair sobre uma fêmea.
Não queremos
espantar ninguém com o que vamos dizer, mas é raro o cão rafeiro,
independentemente do seu sexo, que não venha a ser o melhor amigo de uma
criança de tenra idade, graças à humildade que lhe possibilita, quase imediatamente,
a cumplicidade que tudo suporta e alcança. A gratidão do rafeiro é a maior das suas
qualidades, o seu equilíbrio psicológico chega a espantar e ainda por cima
exige menos. Sim, um rafeiro poderá ser o melhor dos companheiros para um bebé
até aos 3 anos de idade, desde que obedeça aos predicados que anteriormente
delineámos. Quantos de nós fomos criados com um rafeiro ao lado? Que imagem
guardamos dele? Certamente a de um amigo como nenhum outro!
É de todo
conveniente que o cão a usar tenha sido objecto de treino anterior e que
permaneça o menos tempo possível com a criança sem a supervisão de um adulto.
Relembramos que a companhia do cão exige regras extraordinárias de asseio e
limpeza, tanto da casa como do próprio animal, que quando o cão for
desparasitado, todos lá em casa o deverão ser (bebé inclusive). Não se esqueça
de ensinar a criança a respeitar o cão e certifique-se que tem condições e
disponibilidade para essa parceria. Resumindo
e isto segundo a nossa opinião, o cão ideal para um bebé até 3 anos de idade
deve ser do sexo feminino, ser avaliado como indivíduo, pertencer ao grupo dos
submissos, ser curioso, não exceder os 30kg de peso, ser portador de uma
pelagem clara, curta e macia, ser asseado, pertencer ao grupo dos molossos ou
bracóides, independentemente ser “puro” ou não. Se a opção recair sobre um
Pastor Alemão, convém que seja negro ou lobeiro, pelas razões que atrás
apontámos e porque a variedade dominante é mais barulhenta e inquieta, muito
embora os exemplares de pelo comprido sejam mais calmos e pacientes, apesar da
menos valia do seu manto.
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