“Hachiko”, diminutivo japonês para
“Hachi”, foi um Akita nipónico que ficou célebre pela sua lealdade e apego ao
dono, o professor Hidesaburo Ueno, que acompanhava diariamente de casa até à
estação de comboios de Shibuya e o ia buscar ao mesmo local quando regressava a
casa, até ao dia em que o professor sofreu um derrame fatal no seu posto de
trabalho. Depois do desaparecimento do dono, porque o cão persistia em
aguardá-lo junto à aquela estação de comboios, o animal foi entregue aos
cuidados de duas pessoas diferentes, das quais fugiu para retornar ao mesmo
local, vivendo na rua, passando fome e sofrendo o ataque de outros cães, o que
lhe valeu, para além doutras cicatrizes, ter ficado com uma orelha deitada
abaixo. Alguns transeuntes admirados, conhecedores do seu sofrimento e rara
dedicação, compadeciam-se dele e davam-lhe de comer. A espera de Hachiko durou
até à sua morte: 9 anos consecutivos de angústia na esperança de reencontrar o
seu companheiro. Os seus ossos acabaram enterrados junto à sepultura do dono
que tanto amou e a sua pele foi preservada e empalhada, encontrando-se hoje no
Museu Nacional de Ciências de Ueno, onde ainda pode ser vista, passados 80 anos
exactos após a sua morte (08 de Março de 1934).
O extraordinário exemplo de dedicação
ao dono cativou os japoneses e o cão mereceu duas estátuas: uma primeira que
veio a ser derretida por causa da entrada do Japão na II Guerra Mundial e a
actual. Hachiko foi considerado património do Japão e anualmente, no dia 8 de
Abril, é realizada uma cerimónia solene junto à Estação de Comboios de Shibuya,
local do seu martírio, evocando-se ali o seu extraordinário exemplo de
lealdade. Como se pode ver, apesar da proximidade racial e geográfica entre
chineses e japoneses, a sua postura relativa aos cães é bem diferente, tão
diferente quanto a sua cultura, já que os chineses preferem comê-los ou apostar
neles em lutas de morte, muito embora também tenhamos por cá alguns esbirros
com os olhos em bico, gente que nasceu com eles redondos e que embicou para a
matança! A história de Hachiko veio enaltecer ainda mais os cães de Akita, cuja
exportação veio a ser proibida, assegurando o governo japonês a sua sobrevivência
se os seus donos não tiverem como mantê-los. Não treinámos muitos Akitas e os
que adestrámos foram de linhas americanas, aqui e no Brasil. Em todos eles foi
visível uma dedicação ímpar aos donos, mas o que mais os caracteriza e por
vezes incomoda, é a sua forma de olhar, distante e ao mesmo tempo penetrante,
franca e demorada, como se intentassem desnudar-nos para melhor nos
compreenderem.
O Akita é sem sombra de dúvida um cão
extraordinário, apesar de pouco visto nestas paragens, um companheiro que zela
pelos seus e que vive em função de quem o estima, que para além de ser bonito e
meigo, é um guardião silencioso, valente, seguro e atento que nos transmite
tranquilidade e segurança. Lembramo-nos dum em particular que treinámos na
década de 90 em Alcainça, um rapagão forte e decidido que pertencia à Paulinha,
uma professora do ensino secundário. Queremos agradecer ao Jorge Martins por
nos haver lembrado da efeméride relativa ao Hachiko, cão também imortalizado
através da televisão e do cinema.
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