É natural para quem já criou 10 raças caninas
estrangeiras, 6 nacionais e treinou mais de 60 diferentes, interessar-se pelos
cães orientais, pelos selvagens e pela hibridação, nem que seja pelo sonho de
trazer novos cães ao mundo, de mais saber e de melhor servir, especialmente
quando farto da excessiva manipulação que continua a vitimar os cães
ocidentais, cada vez mais dependentes, frágeis e carregados de vários achaques
hereditários, lobinhos a dormir no sofá que se divertem atrás de bolas
saltitonas, sensíveis às intempéries, incapazes de procurar sustento, carentes
de veterinário, muito exigentes e dados a amuos. Adormecemos a pensar na
rusticidade, somos tentados pelo regresso ao atavismo e acabamos por sonhar com
coiotes, hienas, Lobos da Etiópia e também com dingos, lobos-guará e mabecos,
por vezes até com alguma variedade de raposa em particular. Mas
como um projecto destes sairia muito caro, bem para além das nossas posses,
necessitaria de maior quadro técnico-científico e não dispensaria qualquer tipo
de mecenato, apesar de não nos darmos por vencidos, baixamos dos “castelos no
ar”, viramo-nos para o outro lado e aterramos na almofada. Todavia, porque a
ideia não nos sai da cabeça e há mais gente como nós, vamos falar hoje sobre o
Thai Ridgeback, um cão do tipo primitivo, domesticável, raro e valente, pouco
conhecido e nato da Tailândia.
O Thai Ridgeback, também conhecido como Mah Thai Lang
Ahn, é uma das 3 raças caninas que apresenta uma lista de pelo virado ao
contrário no cimo do dorso, muito embora alguns filhotes possam nascer sem essa
característica. As outras são o Phu Quoc Ridgeback e o conhecidíssimo Leão da
Rodésia (Rhodesian Ridgeback). O Thai Ridgeback é um cão médio, resistente, musculado
e extremamente ágil, com um sentido protector muito desenvolvido e que exige,
para além de ser sociabilizado em pequeno, uma liderança forte, experimentada e
calma, já que possui um impulso ao poder muito forte, capaz de o tentar ao
domínio dos donos.
A sua cabeça é em forma de cunha e apresenta rugas,
a sua mordedura é do tipo tesoura, a língua pode ser negra ou apresentar
manchas negras e tem baixa implantação de orelhas, geralmente apontadas para
fora. Os seus olhos podem ser de cor de amêndoa, castanhos ou âmbar, sendo esta
última típica dos cães azuis. Os exemplares castanhos ou vermelhos podem ter a
cabeça negra. O Thai Ridgeback é um cão quadrado, de dorso paralelo ao solo
e a sua garupa é recta de angulação. A sua pelagem, que não tem subpêlo, é dura
e curta, perde pouco ou nenhum pelo, ocasionalmente duas vezes ao ano.
As cores aceites pelo estalão da raça são: azul,
castanho, preto e vermelho, muito embora possam surgir nas ninhadas cachorros
tigrados e brancos, cores que o mesmo estalão não contempla. A diversidade de
cores deste cão, visando a sua camuflagem, possibilita a sua instalação em
diferentes policromias locais.
Os machos
no Thai Ridgeback medem em altura entre os 56 a 61cm e as fêmeas entre os 51-56cm,
oscilando o seu peso entre os 40 e 60kg e o das fêmeas entre os 33 e os 35kg, o
que habilita esta raça como cão de guarda, considerando a sua altura,
envergadura, peso, rusticidade, resistência e agilidade, quando somadas aos
fortes impulsos à luta e ao poder que o levam a uma acentuada propensão
protectora.
Este cão tem tudo para dar certo nas disciplinas de
defesa pessoal e guarda, para se constituir num excelente companheiro e num cão
de utilidade, prestando-se ainda à intimidação pela presença ostensiva, uma
agradável surpresa para quem não o conhece e uma raça com o seu quê de belo!
O Oriente
sempre nos guarda cada surpresa! Se o Thai Ridgeback é o cão dos nossos sonhos,
então já vem tarde para nós, agora que temos os pés mais presos à terra. O
futuro aos jovens pertence, apesar dos nossos emigrarem a olhos vistos,
particularmente os melhores, os que poderiam devolver ao País a sua grandeza
milenar, agora mergulhado numa profunda crise e a desbaratar os seus melhores
filhos. Oxalá algum dos bons investigadores cá fique e valha pela erudição à
nossa canicultura.
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