Por causa da crise que a todos assola, recebemos esta semana um email procedente de um amigo nosso sobre Howard Zinn, um historiador, cientista político, activista e dramaturgo norte-americano, de origem judia (askhenazi), autoproclamado anarquista, que se tornou célebre como autor do livro “A People's History of the United States” e que vendeu mais de um milhão de cópias após o seu lançamento em 1980. Nasceu em 24 de Agosto de 1922 em Brooklyn, New York e faleceu em 27 de Janeiro de 2010 em Santa Mónica, Califórnia, quando visitava aquela cidade. Parece actual o que então escreveu em “Disobedience and Democracy: Nine Falacies on Law and Order” (South End Press, 1988):
"A desobediência civil não é o nosso problema. O nosso problema é a obediência civil. O nosso problema é que as pessoas por todo o mundo têm obedecido às ordens de líderes e milhões têm morrido por causa dessa obediência. O nosso problema é que as pessoas são obedientes por todo o mundo face à pobreza, fome, estupidez, guerra e crueldade. O nosso problema é que as pessoas são obedientes enquanto as cadeias se enchem de pequenos ladrões e os grandes ladrões governam o país. É esse o nosso problema."
Não sabemos, porque nunca experimentámos, se uma nova ordem
tirada a partir da desobediência não produziria maiores injustiças sociais e se
a desordem dela resultante não nos condenaria ainda mais, comprometendo ao
mesmo tempo a marcha da civilização e o avanço da humanidade, mercê da ruptura
com o passado e da novidade de parâmetros a que obrigaria, fruto do livre
arbítrio individual que tende a desconsiderar o bem-estar colectivo. A
revolução anárquica, obrigatoriamente transitória, não exigiria depois uma
contra-revolução? E no meio desse processo não sobraria fome, estupidez,
guerra, crueldade, injustiça e não voltariam os mesmos para a prisão? A leitura
de Zinn não nos parece correcta, apesar de notoriamente actual, já que os
efeitos da desobediência seriam sensivelmente os mesmos e quiçá até mais
dolosos? Como é óbvio, discordamos da solução apontada. Se o Homem conseguir
desobedecer à sua tendência fratricida talvez consiga fazer um mundo melhor,
doutro modo sempre fará uso de meios mais sofisticados para disfarçar o seu
velho hedonismo, quer enveredando pelo “politicamente correcto” quer
aproveitando-se das aspirações gerais para benefício próprio. Conseguirá o
Homem libertar-se daquilo que o condena? Apesar de ter vindo a melhorar, até
hoje não o conseguiu completamente. A verdadeira revolução, aquela levará a uma
sociedade mais justa e que todos ambicionamos, deverá acontecer dentro de cada
um de nós.
Sem comentários:
Enviar um comentário