terça-feira, 4 de abril de 2023

CÃES A UIVAR, GALOS A CANTAR E MOCHOS A PIAR (durante a noite)

 

No nosso milenar viver rural, repleto de superstições, a manifestação natural de alguns animais, tornou-se pouco a pouco num sinal de mau agoiro, um anúncio até de morte, quando os cães uivavam, os galos cantavam e os mochos piavam durante a noite. Sempre que ouvia o uivo de algum cão, o cantar de um galo ou o piar de um mocho, uma senhora da minha aldeia logo dizia convicta e em tom sinistro: “vou morrer” - o que nunca veio a acontecer! Sobreviveu à debandada dos cães, à morte de todos os galos e ao extermínio de todos os mochos e, quando finalmente morreu, levou também consigo aquela maldita superstição daquele lugar. Deve ter havido gente assim por muito lado, porque a superstição continua, não faltando por aí cães apedrejados por uivarem e galos enviados para a panela para lhes calar o bico e mochos que perdem o pio diante de uma arma de fogo. É a valentia dos homens responsável por actos destes ou é a ignorância, o medo e o horror da morte que os atormenta? Inclino-me para o segundo caso, apesar de ter sido acossado de numerosas maleitas, amaldiçoado várias vezes e excomungado outras tantas – vozes de burro não chegam ao céu! Todavia ainda há por aí alguns que convencidos da sua esperteza ou das suas próprias mentiras, fazem e destroem feitiços a indivíduos de todas as classes sociais – enganem-me que eu gosto!

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