sexta-feira, 28 de junho de 2019

RAÇÕES E CARDIOMIOPATIA DILATADA

A FOOD and DRUG ADMINISTRATION (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, identificou pela primeira vez publicamente as marcas de ração para animais de estimação mais frequentemente associadas a casos de cardiomiopatia dilatada (CMD), uma doença cardíaca grave e potencialmente fatal. A grande maioria dos casos envolve cães, mas alguns casos envolvendo gatos também foram relatados. Actualizando a sua investigação sobre o potencial elo de ligação entre certas dietas e a CMD canina, a FDA enumerou 16 marcas de alimentos para animais de estimação que foram nomeadas em 10 ou mais relatórios da doença.
As três principais marcas são a ACANA, nomeada em 67 relatórios; ZIGNATURE, nomeada em 64 relatórios e a TASTE OF THE WILD, nomeada em 53 relatórios. De 2014 até 30 de Abril de 2019, a FDA recebeu relatos de 560 cães e 14 gatos diagnosticados por veterinários como tendo CMD (119 cães e 5 gatos acabaram por morrer). Não estão incluídos nestes números as contagens dos "muitos relatórios cardíacos gerais" recebidos pela agência que não envolveram um diagnóstico de CMD. "No entanto esta informação para o caso é também valiosa, porque poderá mostrar mudanças no coração que ocorrem antes de um cão desenvolver CMD sintomática" – adiantou a FDA.
A CMD é uma doença que resulta num coração dilatado e fraco, incapaz de bombear sangue com eficiência. Os cães com CMD tanto podem cansar-se facilmente, tossir e apresentar dificuldades em respirar como exibir fraqueza súbita, colapsar, desmaiar ou morrer sem pré-aviso.
A grande maioria dos relatórios recebidos pelo FDA reporta-se a 2018 e 2019 e a agência tem vindo a investigar o problema desde o ano passado. Em Julho do ano transacto anunciou ter tomado conhecimento de casos de CMD em cães que comiam certos alimentos, muitos deles rotulados como "sem grãos", que continham como ingredientes principais ervilhas, lentilhas, outras sementes de leguminosas e/ou batatas. Apesar de certas raças caninas serem geneticamente mais predispostas para a CMD, como é o caso do Doberman, do Dogue Alemão, do Terra Nova, do Boxer, do Wolfhound Irlandês e do Cocker Spaniel, muitos dos cães afectados não pertenciam a essas raças, o que desde logo chamou à atenção dos cardiologistas veterinários.
A causa do problema é desconhecida e a maioria dos pesquisadores suspeita que a resposta não será fácil de identificar. A FDA não pode dizer com toda a certeza que a dieta é a culpada,  muito embora, numa actualização da investigação publicada em Fevereiro último, tenha informado que alguns cães diagnosticados com CMD melhoraram simplesmente quando mudaram a sua dieta, constatação também observada por outros pesquisadores. Por causa disto a FDA disse: "Com base nos dados colectados e analisados ​​até agora, esta agência acredita que a associação potencial entre a dieta e CMD em cães é uma questão científica complexa que poderá envolver múltiplos factores".
Por causa da incerteza, a FDA não pediu às empresas implicadas a reformulação dos seus produtos, apenas dividiu com elas informações de relatos de casos de CMD que envolviam as suas marcas, para que possam tomar decisões informadas sobre o marketing e a formulação de seus produtos. A divulgação pública destes relatórios segundo esta mesma agência, teve como objectivo incentivar os donos a aconselhar-se com os veterinários dos seus animais, que deverão consultar um nutricionista veterinário certificado antes de proceder às alterações da dieta.
Ao analisar os ingredientes e a sua proporção nas dietas identificadas com os animais afectados, os pesquisadores da FDA descobriram que mais de 90% dos produtos implicados eram "livres de grãos", que não continham milho, soja, trigo, arroz, cevada ou outros grãos. Noventa e três por cento continham ervilhas e/ou lentilhas. Logo no início, alguns veterinários que investigaram o problema, adiantaram que novas fontes de proteína animal nas dietas, como canguru, bisonte ou pato, poderiam ser um factor a considerar. Contudo, na sua última actualização sobre o problema, a FDA foi peremptória: "As proteínas mais comuns nas dietas relatadas foram frango, cordeiro e peixe; entretanto, algumas dietas contêm fontes proteicas atípicas como canguru, pato e bisonte. Nenhuma fonte de proteína animal foi predominante (na CMD)”.
A FDA disse que a maioria dos alimentos identificados nos casos caninos são rações secas, mas não todas. Há também alimentos crus, alimentos semi-húmidos e alimentos húmidos relatados. Um representante de uma empresa proprietária de uma marca frequentemente implicada expressou preocupação com o problema, ao pôr em causa a premissa de que suas fórmulas poderiam ser culpadas. A Dra. Alexia Heldman, Diretora de assuntos veterinários da Diamond Pet Foods, dona do Taste of the Wild, disse numa entrevista telefónica: "No último ano, tem havido muitas teorias ... Onde estamos agora, lá há mais perguntas sem resposta do que há um ano". Heldman disse também que o Taste of the Wild é a maior marca de alimentos sem grãos, salientando que 29 milhões de sacos foram vendidos nos Estados Unidos desde Setembro de 2017 e que os 53 relatos de casos da doença deverão ser considerados no contexto das vendas: "Se os números adiantados fossem apresentados percentualmente em relação aos sacos vendidos, estaríamos do outro lado da lista".
Cada fabricante das rações associadas à ocorrência de CMD defende-se como pode, mas não consegue esconder a sua contribuição para o problema, o que acaba por dar razão a quem abomina as rações no geral, em muitos casos mixórdia vendida a alto preço. Algumas das rações identificadas com a CMD têm um peso económico muito grande e são exportadas para toda a parte, o que de certa forma condiciona o parecer da FDA.
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