segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

OS ACTORES, A MATILHA E A HISTÓRIA DAS 5 PEDRINHAS

Não se sei os actores chegam a atingir a idade adulta alguma vez, se a sua versatilidade não depende de serem eternamente crianças e da capacidade invulgar de continuarem a sonhar, dando corpo a personagens que parecem vir de si pela transmutação que nos convence. Por força daquilo que bem fazem, chegam a não fazer nada por si mesmos, dominados pela ficção que os prende e afasta da realidade na procura do efémero e momentâneo aplauso que lhes desconsidera o futuro. Gente estranha que parece viver arredada dos problemas quotidianos e destituída de senso comum, capaz de dar vida mas não de a compreender.
Certo dia, quando me encontrava rodeado por alguns deles, num intervalo de filmagens que aproveitavam para aliviar o stress, repreendi-os por estarem a abusar da boa vontade dum cão, já que o obrigavam a obedecer a todos indistintamente como se de uma máquina ou brinquedo se tratasse. E como lidar com gente sensível exige certo cuidado, comecei por explicar-lhes que os cães são animais sociais, que se aglomeram em matilhas e que estas têm um escalonamento próprio, tirado a partir do seu líder até ao mais submisso dos cães, adiantando-lhes também que os nossos fiéis amigos, ao coabitarem connosco, esperam de nós aquilo que o seu grupo natural lhes daria.
Para que melhorem entendessem o erro em que incorriam, peguei em cinco pedras para explicar-lhes como funciona a hierarquia dentro duma matilha, representando cada pedra um cão. Com as pedras enfileiradas, expliquei-lhes que a primeira dominava sobre as restantes; que a segunda submetia-se à primeira e dominava sobre as outras três; que a terceira obedecia às duas primeiras e sujeitava as duas últimas; que a quarta sujeitava-se às três primeiras e dominava sobre a quinta e que esta se submetia a todas, lugar social geralmente destinado aos mais fracos e inibidos.
Através daquele exemplo concreto conseguiram compreender que estavam a promover o enfraquecimento do carácter daquele cão e a fazê-lo infeliz, a operar a sua despromoção e a remetê-lo para o último lugar do escalonamento social, despropósito que operaram quando o obrigaram a obedecer a todos. Agradeceram a explicação e partiram contentes, apesar de repetirem no dia seguinte o mesmo erro. Deveria ter guardado as pedras no bolso para depois os correr à pedrada? Há quem diga que sim mas nós pensamos que não, porque a educação de homens e cães é um processo continuado que exige tempo, perseverança e paciência.

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