quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O DUELO ENTRE O LÍDER E O COMPINCHA

Conhecemos um médico que era capaz de tudo prescrever aos seus pacientes mas que se negava terminantemente a tratar dos seus familiares e amigos mais chegados por recear vê-los ou fazê-los sofrer, endereçando-os sem qualquer pejo para os bons ofícios doutros clínicos. Igual dilema sentem os proprietários caninos que são obrigados a treinar os seus cães, por serem em simultâneo seus líderes e companheiros de brincadeira, no conflito entre a exigência e a tolerância que a razão e os vínculos afectivos sustentam. E como o dever e a disciplina esmorecem diante da afeição, à imitação do médico atrás citado, alguns proprietários caninos optam por incumbir a educação dos seus cães a outros, que por norma se fazem pagar muito bem e que nem sempre alcançam os resultados acordados e expectáveis.
Nas relações de paridade absoluta entre homens e cães, modelo que todos dizem seguir por ser agora politicamente correcto e do agrado das mentes mais ingénuas, perde-se a liderança e ganha-se o amigo, assistindo-se invariavelmente ao suborno mútuo: o dono tenta subornar o cão para que ele faça algo e cão lança mão da chantagem emocional para não o fazer, particularmente diante de exercícios mais complicados ou de maior exigência. Para que isto não suceda, importa separar os momentos lúdicos dos dedicados ao trabalho objectivo, ainda que os primeiros subsidiem e facilitem de sobremaneira o alcance dos últimos, estabelecer uma clara diferença entre os momentos de supercompensão e os pedagógicos propriamente ditos, tendo o cuidado de os equilibrar para que os cães não resistam ao trabalho e alcancem com alegria os desafios inerentes à sua capacitação.
O adestramento canino não dispensa o são equilíbrio entre a razão e a emoção, o domínio do inteligente sobre o irracional, que mediante estratégias adequadas, aproveita o potencial individual de cada cão para fim útil, transformando assim as suas respostas naturais em mais-valias. Quer queiramos ou não, a qualidade de um cão sempre espelhará a maior ou menor qualidade dos seus mestres.

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