segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

OS CANHOTOS E OS ADESTRADORES DE RH -



Sempre ouvi entre os militares que os atiradores canhotos ou são exímios ou uma grande lástima e que na sua maioria são imprestáveis, ainda que os adjectivos usados não sejam exactamente estes mas outros seus sinónimos, indubitavelmente mais crus e desassombrados. Passa-se o mesmo com os adestradores de sangue negativo, os isentos do "Factor Rhesus", que na cinotecnia oscilam entre a genialidade e a mediocridade, porque uns chegam a fazer do lobo familiar um ícone e os outros temem coabitar com ele, vendo-o e usando-o também como um anjo perverso, muito embora todos manifestem natural propensão para conviver com os animais, mesmo com aqueles que a generalidade das pessoas abomina e dos quais se afasta por serem manifestamente perigosos, aparentemente demeritórios, pouco apelativos ou desprezíveis, não sendo de estranhar que entre os maiores "encantadores de animais" se encontre um grande número de indivíduos que não ostentam parentesco com o "Macaca Mulatta", restando saber se o fazem por maior atavio ou por improvada familiaridade.
Certo é que, para além da necessária cumplicidade que a cinotecnia exige, alguns deles alcançam com os cães rara fusão de emoções e sentimentos, constituindo-se num todo por meios ou canais que parecem dispensar o trabalho aturado, os vulgares procedimentos e a indispensável recompensa, lembrando o que entendemos como "amor à primeira vista", conseguindo comunicar entre si através de uma simples troca de olhares, por vezes sem nunca se terem visto, alcançando dos cães pronta e inquestionável obediência. É evidente que o fenómeno é também visível em muitos adestradores de Rh + , particularmente nos que têm ou tiveram um progenitor Rh -  ou descendem de algum deles até à 4ª geração. Esta simbiose que ultrapassa os métodos e a técnica, tantas vezes vista e constatada, é um fenómeno que continua envolto em mistério, porque não tem explicação e não é transmissível ao comum dos adestradores, por ser espontâneo em quem o alcança, lembrando algo mágico, transcendental ou quântico.
Por tudo isto, quando um adestrador de Rh – se encontra à frente de uma escola canina tende a julgar os outros por si, como se os seus alunos ostentassem igual potencial, erro recorrente que o levará a acusá-los de distracção, desinteresse e pouco empenho, engano que poderá induzi-lo à fleima, à impaciência, à irritabilidade e à revolta, à desnecessária tensão no processo pedagógico e nalguns casos, diante da ausência de progresso dos condutores, à brusquidão e até ao disparo de alguns impropérios, como se a prática da cinotecnia fosse selectiva e não estivesse ao alcance de qualquer um. Torna-se evidente que irá cativar outros iguais e acabará odiado e incompreendido pela maioria dos seus educandos. Um mestre com estas características sempre necessitará de um lugar-tenente, de alguém com um comportamento diametralmente oposto ao seu para valer aos alunos menos habilitados e com maiores necessidades de acompanhamento. A experiência tem-nos ensinado que o melhor dos mestres para iniciados é aquele que maiores dificuldades encontrou no exercício do adestramento, porque melhor do que ninguém saberá compreender e dar resposta aos problemas encontrados pelos alunos, uma vez que também os experimentou, sendo mais solidário, dogmático e simplista.
Os mestres caninos em cujas veias corre sangue "negativo" (Rh -), porque são naturalmente irrequietos, ávidos de conhecimento e não dispensam o progresso, nasceram para as classes mais adiantadas, para os binómios que já levaram de vencida o adestramento básico e que justamente procuram o seu aprimoramento por meios extraordinários na procura do conhecimento erudito que está para além da praxis corriqueira do "toma lá, dá cá". Assim sendo, estando à frente de um centro de treino canino, sempre necessitarão de um "carregador de piano", de alguém mais paciente e oficinal, a quem delegarão debaixo de supervisão a responsabilidade de valer às classes de iniciados. Geralmente valem-se de monitores ou de alunos mais experientes, com quem os recém-chegados facilmente estabelecerão amizade, vindo o seu processo e permanência escolar a decorrer dessa empatia. Estrategicamente optam, quando têm essa possibilidade, por senhoras decididas e resolutas, que servirão de modelo às outras e que sempre suscitarão dos condutores masculinos alguma competitividade pela diferença de género.
Afastando-nos do particular destes adestradores, importa dizer que os condutores sinistros (na gíria canhotos), quando comparados com os seus congéneres destros, pese embora alguma excepção, são por norma mais precários de desenvoltura no exercício do adestramento, porque têm mais força na mão que exige maior sensibilidade, o que de certa forma obstará à cumplicidade canina pelo uso da mesma mão para o travamento e acção, o que não raramente gera confusão e leva à perca de tempo, nomeadamente na condução à trela. A mão esquerda é tradicionalmente na cinotecnia uma mão de travamento que induz à atenção para a ordenante: a direita. É óbvio que não estamos diante de um handicap mas perante uma dificuldade acrescida, muito embora nenhum condutor canhoto tenha ficado por aprender entre nós. E isto é tão verdade que há uns anos atrás, possivelmente há mais duma década, tivemos nas nossas fileiras uma senhora a quem lhe foi amputado o antebraço direito num acidente de viação, que pese embora infortúnio, levou a bom termo o ensino do seu cão. Ademais, é amplamente reconhecida a complementaridade canina e o seu préstimo junto de deficientes com maior ou menor incapacidade. Crê-se hoje que o tipo sanguíneo dos indivíduos influi directamente na sua personalidade e com vivido conhecimento de causa escrevemos este artigo, servindo o tema e este blogue de advento para outro que levaremos a cabo sobre este particular.

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