Nascido na sub-região algarvia do Barrocal,
que se estende da serra ao litoral, caracterizada pela presença de várias
elevações calcárias de forma irregular, que raramente ultrapassam os 400 metros
de altitude, denominadas barrocos e adornada por azinheiras, zambujeiros,
murtas e alfarrobeiras, o agora designado por “Cão do Barrocal Algarvio” e outrora
entendido pelos caçadores como “abandeirado”, “fraldado”, “felpudo” ou
“gadelhudo” pela morfologia da sua cauda e particular do pêlo (comprido e
macio), já tem proposta de estalão, aguardando a sua aprovação pelo CPC e pela
FCI, que deverá acontecer muito brevemente graças aos esforços da Associação de
Criadores do Cão do Barrocal Algarvio (ACCBA), associação de criadores a
quem pertencem as fotografias que ilustram este texto e que nos merece a
maior admiração pelo trabalho que abraçou. Depois de aprovado, será a 11ª raça
canina portuguesa reconhecida internacionalmente e a segunda da região
algarvia, seguindo-se ao Cão de Água Português.
Crê-se que descende do Galgo Egípcio e
doutros lebréis (a sua relação peso/altura é idêntica: 2.2) assim como doutras
raças caçadoras mediante cruzamentos bem-sucedidos, lembrando a sua aparência o
podengo algarvio, havendo quem lhe reconheça também traços de Border Collie
diante da sua destreza e agilidade. Naturalmente esguio, ágil, rápido, enérgico
e incansável, este cão de tipo primitivo sempre se notabilizou na caça, nomeadamente
nos terrenos íngremes, instáveis e mais inóspitos, o que o transforma num “todo-o-terreno”,
sofrendo o seu número diminuição na década de 60 do século passado pela
introdução de raças estrangeiras de parar, tais como o Braco Alemão e o Pointer
(na década de 50 do mesmo século haviam 3.500 exemplares desta raça e hoje
contam-se 1.500).
Cão médio, dócil e humilde, vocacionado para
a caça, rústico, de maneio fácil, vivo e inteligente, o Cão do Barrocal
Algarvio pode também prestar-se como cão de companhia, alarme e de agility,
sendo menos exigente e por conseguinte menos dispendioso que a maioria das
raças importadas para esses fins. Nele são visíveis todas as cores desde o
branco até ao preto, não apresenta sub-pêlo e o dimorfismo sexual faz-se
presente na raça. Pode chegar aos 55cm e aos 25kg de peso. Animal quadrado,
porque a relação de altura ao garrote e o comprimento do corpo é praticamente
igual, o que lhe facilita a transição para o galope. A sua cabeça é de formato
piramidal, apresenta orelhas erectas, o seu chanfro cónico é truncado na ponta,
os eixos crânio-faciais superiores são paralelos ou ligeiramente divergentes, apresentando
pé-de-lebre o que indicia velocidade. Uma descrição mais pormenorizada deste
cão pode ser encontrada em www.cpc.pt/cpc/ag/docs/20151208_Est_Cao_Barrocal_Algarvio.pdf
De momento sem prova de trabalho, de acordo com a triste inércia da
canicultura portuguesa, que muito apregoa e pouco demonstra, deseja-se que o
Cão do Barrocal Algarvio seja seleccionado doravante e como até aqui pelas suas
aptidões caçadoras, uma vez nisso é mais fiável que outros seus congéneres.
Oxalá os seus criadores se mantenham unidos, não cedam à tentação da endogamia
e comprometam assim a saúde, aptidão e biodiversidade presente na raça,
embeiçados por pruridos que têm aumentado as menos valias de grande número de
cães nacionais. A presença de cães negros e chocolate, que são uma novidade
dentro das raças cinegéticas nacionais, muito abonam para o bom-nome desta
raça, porque permitem o seu uso e camuflagem em diferentes horários e
ecossistemas. Temos cão, oxalá assim continue!
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