Quando
leio os mais diversos standards caninos (estalões), caso creia em tudo o que lá
se encontra escrito, fico com a impressão que todas as raças são perfeitas e
sem mácula, morfologicamente irrepreensíveis e sem qualquer problema,
extremamente aptas e sem nenhuma restrição, saudáveis e resistentes, como se
todas elas fossem ideais para quem procura um cão, porque as suas descrições
isso indiciam, mediante a escolha cuidadosa dos termos usados e de omissões
propositais, tal qual rótulo enganoso dum produto que tantas vezes acabamos por
comprar, cujo conteúdo nem sempre corresponde ao manifestado no exterior da
embalagem. Contrariamente ao que se badala, a maioria das raças caninas
encontra-se doente, afectada por um conjunto de incapacidades a quem a excessiva
endogamia não é alheia e a quem a consanguinidade vai acrescentando deméritos.
Ano
após ano, década após década, por ausência de alteração nas políticas de
selecção, que deveriam respeitar o bem-estar animal, a verdade e o parecer da
ciência, ao invés de cativas a vaidades que mais servem aos criadores que aos
cães, a situação vai-se agravando, mais se afastando da selecção natural que
garante a melhor adaptação e evolução dos cães. Caso sobrem dúvidas,
pergunta-se: qual é a raça que apresenta a mesma saúde, rusticidade, adaptação
e longevidade que o vulgar rafeiro? Até quando persistiremos nesta vergonhosa e
ultrapassada eugenia negativa?
Enquanto
os criadores vão fazendo “orelhas moucas” às advertências da ciência e os shows
estéticos caninos se repetem, um sem número de cães doentes e com pouca ou
nenhuma qualidade de vida continuam a ser procurados e vendidos, apesar da
denúncia que se fazer ouvir por todo o lado, como se as pessoas precisassem do
engano e de ser enganadas para se sentirem bem, veleidades que comportam mais
por gozo próprio do que pelo respeito aos animais. É evidente que tudo isto
mexe muito dinheiro, que a desfaçatez é sustentada por razões económicas e que
há sempre alguém interessado em coleccionar aberrações, particularmente quando
elas são objecto de admiração e cobiça ou dão corpo a um invejado estatuto
social.
Este correr por gosto que não se cansa e que acaba por condenar os cães,
apesar das muitas advertências, acerca de gente que gosta de ser enganada e que assim segue a gosto, faz-me lembrar uma máxima popular, expressa em
poucas palavras no vernáculo, pelas quais peço de imediato desculpa, outrora muito em voga no lugar de Rubiães, Concelho
de Paredes de Coura, no Distrito Minhoto de Viana do Castelo, particularmente agora que o Tino de Rans está na berra, apesar
de ter nascido no Distrito do Porto: “quem é corno e não sabe, que Deus dele
tenha piedade; quem é corno e consente: anda corno para a frente!”. Quando
optar por comprar um cão, não seja tolo e não se deixe iludir, não o faça sem obter do animal e da raça o maior
número de informações possível, porque mais vale estar informado do que ser
confiado e acabar enganado.
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