segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

NÃO SE DEIXE ENGANAR

Quando leio os mais diversos standards caninos (estalões), caso creia em tudo o que lá se encontra escrito, fico com a impressão que todas as raças são perfeitas e sem mácula, morfologicamente irrepreensíveis e sem qualquer problema, extremamente aptas e sem nenhuma restrição, saudáveis e resistentes, como se todas elas fossem ideais para quem procura um cão, porque as suas descrições isso indiciam, mediante a escolha cuidadosa dos termos usados e de omissões propositais, tal qual rótulo enganoso dum produto que tantas vezes acabamos por comprar, cujo conteúdo nem sempre corresponde ao manifestado no exterior da embalagem. Contrariamente ao que se badala, a maioria das raças caninas encontra-se doente, afectada por um conjunto de incapacidades a quem a excessiva endogamia não é alheia e a quem a consanguinidade vai acrescentando deméritos.
Ano após ano, década após década, por ausência de alteração nas políticas de selecção, que deveriam respeitar o bem-estar animal, a verdade e o parecer da ciência, ao invés de cativas a vaidades que mais servem aos criadores que aos cães, a situação vai-se agravando, mais se afastando da selecção natural que garante a melhor adaptação e evolução dos cães. Caso sobrem dúvidas, pergunta-se: qual é a raça que apresenta a mesma saúde, rusticidade, adaptação e longevidade que o vulgar rafeiro? Até quando persistiremos nesta vergonhosa e ultrapassada eugenia negativa? 
Enquanto os criadores vão fazendo “orelhas moucas” às advertências da ciência e os shows estéticos caninos se repetem, um sem número de cães doentes e com pouca ou nenhuma qualidade de vida continuam a ser procurados e vendidos, apesar da denúncia que se fazer ouvir por todo o lado, como se as pessoas precisassem do engano e de ser enganadas para se sentirem bem, veleidades que comportam mais por gozo próprio do que pelo respeito aos animais. É evidente que tudo isto mexe muito dinheiro, que a desfaçatez é sustentada por razões económicas e que há sempre alguém interessado em coleccionar aberrações, particularmente quando elas são objecto de admiração e cobiça ou dão corpo a um invejado estatuto social.
Este correr por gosto que não se cansa e que acaba por condenar os cães, apesar das muitas advertências, acerca de gente que gosta de ser enganada e que assim segue a gosto, faz-me lembrar uma máxima popular, expressa em poucas palavras no vernáculo, pelas quais peço de imediato desculpa, outrora muito em voga no lugar de Rubiães, Concelho de Paredes de Coura, no Distrito Minhoto de Viana do Castelo, particularmente agora que o Tino de Rans está na berra, apesar de ter nascido no Distrito do Porto: “quem é corno e não sabe, que Deus dele tenha piedade; quem é corno e consente: anda corno para a frente!”. Quando optar por comprar um cão, não seja tolo e não se deixe iludir, não o faça sem obter do animal e da raça o maior número de informações possível, porque mais vale estar informado do que ser confiado e acabar enganado.

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