O nascimento de dois cachorros de raça Boxer a partir das células dum já falecido, vítima
de um tumor cerebral, mereceu especial destaque na imprensa britânica em
Dezembro do ano transacto, por ser a primeira vez que se aproveitaram células
dum cadáver com sucesso para se gerarem dois clones vivos e a ele idênticos. A
proeza coube à controversa fundação sul-coreana “Sooam Biotech Research
Foundation”, na crista destes avanços científicos, que recebeu pelo encargo a módica
quantia de 67.000£ (84.633.29€), honorários pagos por um casal britânico que
nunca se conformou com a perca do seu cão “Dylan”. Os cachorros irão ser
entregues aos seus proprietários no próximo mês de Julho e os felizes contemplados
fazem ainda questão de adoptar as duas cadelas que serviram de “barrigas de
aluguer”.
Indo
para além das questões éticas que rodeiam a clonagem, sabemos que os clones
caninos ainda apresentam um quadro clínico complicado, um conjunto de afecções
e doenças não presentes nos que lhes serviram de modelo, o que lhes diminui o
bem-estar e a esperança de vida, restando saber se a nível psicológico
subsistirão também algumas diferenças ou menos valias. Certo é que os cães para
serem iguais ao seu dador, para além da genética, irão necessitar do mesmo quadro
experimental, considerando as lições fornecidas pela própria vida, ainda que a
olho nu não sejam visíveis grandes diferenças pela evidência da similaridade,
uma vez que aparentam ser réplicas autênticas. A clonagem de cães, ao alcance
de pouca gente atendendo ao seu custo actual, quando cabalmente alcançada,
poderá perpetuar a excelência de cães idos e trazê-los para o presente,
replicar os mais aptos e saudáveis que por algum motivo nunca se reproduziram.
Em simultâneo, poderá também dar continuidade aos mais nefastos e malvados,
ainda que muito apreciados pelos seus donos. Ao momento, por causa da raridade
destes clones, desconhece-se se são adestráveis e qual o seu comportamento e desempenho
no adestramento clássico.
Como
não temos a certeza que a clonagem só perpetuará os melhores cães e os mais
aptos, somente a entendemos válida para a replicação de órgãos, como meio
excelente para valer e diminuir o sofrimento dos cães que temos em mãos. Esta
técnica de obtenção, a partir de cultura, de numerosas células vivas idênticas através
duma célula única, não pode ser desligada do desejo humano em alcançar a sua
própria imortalidade, servindo os animais como cobaias para esse intento.
Apesar da clonagem humana se encontrar proibida por todo o Globo, não nos
custar acreditar, conhecendo a natureza humana, que é ela já foi ou tem sido experimentada
em algum lado, considerando que ninguém quer morrer e a morte pode ser vencida.
Não vamos aqui especular sobre essa possibilidade e futura prática, porque não
conseguimos imaginar como será o mundo quando isso acontecer e as suas
implicações. Há quem diga que quando isso acontecer o fim do mundo está próximo
por usurpação do papel do Criador. Será? De qualquer modo, pelo menos até ao
momento, os indivíduos Rh negativo não podem ser clonados, como é o meu caso, facto
que certamente encherá de alegria os meus adversários, gente que tanto adoro e
que de alguma forma me mantém vivo, pela quebra da monotonia, necessidade de
engenho e pelo calor da peleja, incentivando-me de sobremaneira a ajudar os que
de mim precisam (e eu deles).
Voltando
ao casal britânico que mandou clonar o seu Boxer e atendendo ao montante que despendeu,
diante do mundo em que vivemos, não podemos deixar de ficar estupefactos, porque
melhor seria que valessem a outros iguais do que se terem enfronhado pela
desmedida cinofilia, o que não esconde um narcisismo latente e um hedonismo
exacerbado (caso pudessem ser clonados não o fariam?), já que com aquele dinheiro,
caso não pudessem ou não quisessem ter mais filhos, podiam valer a grande número
de crianças carenciadas, muitas delas morrendo a cada dia que passa ou a tantos
outros necessitados. Nascer e viver na parte boa do mundo é óptimo mas não nos
livra de loucuras destas! Contudo, vendo as coisas pela positiva, eles acabaram
por subsidiar uma avançada investigação científica sempre carenciada de fundos.
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