segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O BLACK E EU

Carente de descanso e necessitado de retemperar as forças, retirei-me estrategicamente para uma estância balnear piscatória estrangeira, donde estou a actualizar este blogue, que carece de actualização desde 10 de Dezembro do ano transacto. A minha ausência prolongada, que também se deve a razões ligadas à saúde, apanhou de surpresa amigos, alunos e leitores desta publicação, que temendo o pior muito têm telefonado e enviado mails, cuidado que agradeço e gente que desejo serenar, porquanto me encontro bem, com a saúde recuperada e com desejo de voltar o mais cedo possível ao activo. Neste último mês tenho tido a companhia do Black, um Pastor Alemão negro, com 18 meses de idade, meia-linha e entendido hoje como cão de trabalho, parente doutros que treinei recentemente, com grande percentagem de lobeiro na construção, que tem tanto de meigo como de estarola, para além de manifestar sintomas inequívocos de insuficiência pancreática endócrina.
O "rapaz" tem evidenciado uma capacidade atlética acima do normal e uma disponibilidade louvável, apesar de desconcentrado e dado a improvisos de vária ordem, porque se excita facilmente e tende a ensurdecer-se, fazendo o que lhe peço de acordo com os estados de ânimo que atravessa, pormenores que mais alimentam a saudade que tenho dos meus pastores negros, compactos, rústicos, concentrados, observantes, auto-disciplinados e dedicados. Parece que já não se fazem pastores alemães como dantes, porque se comportam agora como Malinois, tendência e referência respeitadas por muitos criadores de pastores alemães actuais, que rompendo com o passado, criam agora cães que não são uma coisa nem outra. Engana-se quem julgar que o fenómeno é nacional, porque a tendência vem da origem e espraia-se pelo Globo, talvez porque os canicultores do Deutscher Schäferhund estejam agora a correr atrás do prejuízo, porque se viram ultrapassados pelos méritos do cão belga, notoriamente mais instintivo, menos exigente e substancialmente mais barato, ainda que imprevisível, pouco seguro, dado a confrontos gratuitos e com algumas dificuldades de travamento.
O Black, cuja educação foi descuidada e praticamente esquecida, rosna quando lhe mexem na comida, apesar de ter pouco apetite e do seu aparelho digestivo ser frágil, intenta saltar os muros do quintal por iniciativa própria (que têm mais de 2m), reboca quem o conduz na via pública, não está sociabilizado e tenta cair em cima de qualquer cão que com ele se cruze, não respeita o mais elementar dos alinhamentos e passa a vida a farejar e a marcar território na rua. Em casa comporta-se bem (quase não se dá por ele), não larga odor, é silencioso, limpo, adora transportar brinquedos e outros objectos, deita-se sempre ao meu lado e acompanha-me de dependência em dependência, características que me levam a acreditar nele e a não desistir de adestrá-lo.
Não esperava encontrá-lo nesta altura da minha vida, muito embora me agradasse adquirir um pastor alemão negro para os meus dias mais maduros, porque são inigualáveis, dão pouco trabalho a ensinar e mantêm com os dons um entendimento superior. Bem sei que o Black não corresponde em absoluto a estas características, mas como diz o povo: " a cavalo dado não lhe olha a dente" e "quem não tem cão, caça com gato". No fundo ele é o menos culpado e eu sinto-me na obrigação de melhor o adaptar para a vida urbana. Com ele tenho passado os últimos dias e pouco descanso me tem dado. Contudo, corro por gosto e dou continuidade a uma das minhas vocações predilectas.

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