Nunca foi fácil encontrar um pastor alemão
totalmente negro sem as indesejáveis manchas brancas que geralmente aparecem no
pescoço, no peito e nas patas, tanto na variedade negra como também nas
restantes, ainda que na primeira aconteça mais amiúde, fenómeno que é devido
aos lobeiros que, desde sempre, a têm beneficiado para a obtenção de excelentes
cães de trabalho, facto há muito comprovado e ainda hoje muito procurado para
esse fim. É evidente que o aparecimento das manchas também se deve à presença
do factor branco, carrego genético que não desapareceu com a irradiação dos
cães brancos da raça e mais visível nos beneficiamentos nas antigas linhas de
trabalho.
Essas manchas brancas são hoje substituídas
por amarelas (afogueadas), que aparecem por vezes e em menor escala atrás das
orelhas, nos calções (abaixo da cauda), nos dedos ou no espaço interdigital, o
que denota a presença de um progenitor lobeiro das linhas mais recentes, que já
nasce com a coloração definitiva, contrariamente à evolução pigmentária que
antes sucedia nesta variedade cromática. E quando isso acontece, facilmente se
constata da presença maioritária do lobeiro para a obtenção de indivíduos
negros. Compreensivelmente, se beneficiarmos um cão destes com um lobeiro,
corremos o risco de tirarmos ninhadas totalmente lobeiras, “surpresa”
desagradável para quem desejar ter uma prole negra.
Ainda que as manchas brancas sejam indesejáveis
segundo o estalão, os indivíduos seus portadores tendem a ser os maiores e
normalmente acabam preteridos e vendidos mais barato. A maior altura destes
indivíduos deve-se ao gigantismo que sempre acompanhou os pastores brancos, já
que a variedade negra, sem a contribuição das restantes, cresce menos e ostenta
menor ossatura, pormenores ligados à sua menor curva de crescimento e também à
ocasião do nascimento das ninhadas, que deverá acontecer, caso se procurem cães
maiores e mais robustos, no final do Verão para que as estações frias sirvam
esse propósito, porque doutro modo, a acção dos raios solares e a temperatura
presentes na Primavera e no Verão não o permitirão.
De acordo com a nossa experiência e para se evitarem as manchas brancas,
também porque é um disparate beneficiar consecutivamente negro com negro, ainda
que tenhamos cães mais cedo para o trabalho, porque gradualmente vão perdendo
tamanho e envergadura, menos valia evidente logo à 3ª geração, valemo-nos da variedade preto-afogueada
para o seu beneficiamento, o que para além dessa vantagem melhora a sua
padronização, equilíbrio e rendimento, dotando em simultâneo os cachorros que
nascem preto-afogueados de melhor e duradoura máscara, assim como de maior disponibilidade,
prontidão e cumplicidade. E se é um disparate beneficiar consecutivamente negro
com negro, pior será fazê-lo entre indivíduos portadores de manchas brancas,
porque o branco tenderá a aumentar, podendo alcançar também a zona interocular,
o ventre e a ponta da cauda.
À parte disto e não menos importante, o
concurso histórico à variedade lobeira para beneficiar a negra irá implicar na
morfologia dos seus descendentes, já que produz maioritariamente indivíduos pernaltos,
quando não pequenos, de peito estreito, menos aprumados, de ventre arregaçado e
ossatura leve. Nenhuma variedade subsiste sem o concurso da preto-afogueada,
porque melhor do que as restantes transmite a morfologia que vem caracterizando
o Cão de Pastor Alemão, apesar do seu uso exclusivo na reprodução gerar indivíduos
menos aptos, de saúde e carácter periclitantes, mais sensíveis e barulhentos,
já que a cor por só por si não define um cão mas a sua qualidade, muito embora
as diferentes variedades cromáticas carreguem mais-valias sensoriais,
cognitivas e operacionais menos visíveis noutras, justificando-se assim o seu
uso.
Assim, se nos virmos obrigados a usar um
lobeiro no beneficiamento de um negro, convém que o primeiro tenha uma construção
maioritária em preto-afogueado e seja recessivo em negro, desde que não são seja
também portador de manchas brancas, produto de descarada endogamia e parco de
ossatura, pois negros de construção maioritária ou igual em lobeiro não trazem
só os dedos pintados, mas carregam também um conjunto de características que
podem atentar contra a sua morfologia, equilíbrio, uso e versatilidade.
Louva-se o esforço dos novos criadores na procura de cães de trabalho, no
resgate em torno dos lobeiros e dos negros, sem dúvida animais únicos que
sempre acrescentaram à raça excelentes exemplares. Todavia há que saber
beneficiá-los!